Bruce Dickinson, sempre surpreendendo com seus multitalentos, e desta vez não foi diferente. Seu novo álbum de estúdio The Mandrake Project, lançado na última sexta-feira, 1º de março de 2024, precisou de ouvidos treinados para captar as várias menções de discos de outrora. Mas ele mesmo já anunciou a influência de seus dois últimos álbuns: Tyranny Of Souls (2005) e The Chemical Wedding (1998).

Em entrevista ao canal do Youtube EMP, o músico definiu o novo álbum assim: “Se fosse para comparar e situar o The Mandrake Project com os demais de minha carreira solo, diria que é uma criança peculiar, resultante na mistura de Tyranny Of Souls e The Chemical Wedding. E o futuro resultado disto seria uma espécie de descendência estranha que subiria em um penhasco, faria um tipo de mistura de guitarras western e de heavy metal em uma cerimônia para ressuscitar William Blake dos mortos. Então, isto explica o quão estranho será.”

Ao flertar com o poeta inglês, ilustrador e visionário pelo seus estudos da alquimia, William Blake em The Chemical Wedding, Bruce abriu a própria “caixa de Pandora” para muitos outros projetos, inclusive seu último trabalho, que  foi mais fundo, revelando símbolos e significados do ocultismo e misticismo, que embora pareça algo diabólico, tem muitas mensagens de esperança após o chamado fim do mundo, como vivemos, é somente uma questão de perspectiva. 

The Mandrake Project e suas faixas

Falando em fim do mundo, a canção que abre o álbum “Afterglow Of Ragnarok”, é muito bem executada e com uma pegada futurista e riffs de guitarras marcantes, mas segundo o próprio cantor não é para ser associada aos vikings, apesar de fazer todo sentido para a maioria das pessoas. Com relação a isso, ele tratou de lançar o primeiro videoclipe da canção com um tom voltado ao misticismo, magos e símbolos do museu hermético. Ou seja, na verdade não se trata do fim do mundo, mas sim do começo de um novo.

A segunda canção “Many Doors to Hell” vem trazendo um hard rock potente com uma letra mais leve, que aborda o “vampirismo” mas completamente conectada com o contexto do álbum, que a princípio trata de morte e o renascimento. Esta seria a faixa mais agradável para o público em geral.

Na sequência temos a peculiar “Rain Of The Graves”, que teve o videoclipe lançado há pouco tempo, e com várias menções a Blake e arriscaria dizer, um pouco de Aleister Crowley em uma espécie de pacto com o diabo, ou uma encruzilhada. A música é muito rica em sonoridade e efeitos que lembram filmes antigos de terror, até o som de um corvo, que lembra muito o famoso poema de Edgar Allan Poe. E é muito claro que a música também possui um ótimo refrão, daqueles que ficam na cabeça e sem dúvida mereceu um lançamento como single. Destaque também para os músicos da banda, Dave Moreno, Mistheria, Tanya O’Callaghan e Roy-Z, que será substituído na turnê por Chris Declercq, juntamente com o guitarrista, compositor e produtor  sueco Philip Naslund.  

Já “Resurrection Men” é uma música que lembra um heavy metal progressivo, e também lembra as canções do disco Accident Of Birth e aborda os personagens da história Dr. Necropolis e o Professor Lazarus, pois segundo o vocalista “são importantes, pois controlam a tecnologia que ressuscitará as pessoas dos mortos.”

As canções “Finger in the Wounds” e “Eternity Has Failed” são algumas críticas ao atual cenário de influenciadores digitais e falsos profetas, que segundo o artista, se completam ao conteúdo de sua história em quadrinhos, de mesmo nome. São boas músicas, mas com nada muito novo.

Vale destaque para “Shadow Of The Gods”, uma balada parecida com as outras que o cantor costuma fazer, que conta a história de duas almas cósmicas, duas estrelas amantes que cruzam a eternidade tentando se encontrar, e que ao final deixa a esperança de que elas se encontrem neste novo futuro que está por vir. Dickinson explicou a música como se fosse uma história cósmica de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, mas a temática é bem alquimista.

Em suas palavras, segundo entrevista da Songfacts.com ao compor para seus projetos: “Posso dar me ao luxo de ser mais excêntrico, pois certamente uma canção como a última faixa ‘Sonata’ é realmente comovente e emocional. Ao compor com o Iron Maiden, uma faixa assim não se encaixa no estilo da banda.”

Aproveitando o gancho, a última faixa do álbum, “Sonata” que lembra muito os arranjos e em alguns trechos, a melodia da faixa dois “Chemical Wedding” do álbum de mesmo nome. 

E a história por trás de “Sonata (Immortal Beloved)”, é certamente emocionante, o filme Minha Amada Imortal (1994) que inspirou a música,  trata de uma paixão não correspondida que o compositor Beethoven tinha por uma mulher misteriosa, que acreditam ser sua cunhada, o que só é descoberto no final do filme, quando o conteúdo de uma carta deixada por ele antes de falecer e dizem, nunca foi lida pela amada.

Bruce Dickinson e a relação entre o HQ e as canções de The Mandrake Project

A respeito do assunto, ele inclusive afirmou que os dois projetos, as canções e a história se completam em um nível diferente, como por exemplo, citou duas árvores em uma floresta, uma ao lado da outra, sem nada aparente que as unam, mas suas raízes estão entrelaçadas.

O curioso é que na moeda que ilustra a capa do álbum, pode-se ver uma árvore com raízes que transformam-se em seres humanos em lados opostos a uma espécie de árvore. Ao ler a obra de William Blake, tudo acaba ficando mais claro, e o álbum possui muita semiótica para ser debatida em apenas uma resenha. 

Para os não tão aficionados pela carreira solo de Bruce, a obra ainda surpreende pelas técnicas e principalmente pelas músicas com muitas histórias e inspirações. O álbum é um heavy metal mais denso, com letras e riffs fortes, ele realmente está contando uma estória fantástica, que pareceu interrompida após Tyranny Of Souls e sua volta ao Iron Maiden, e está sendo retomada com força total.!

Nas palavras do mestre: “The Mandrake Project e os episódios dos quadrinhos podem ser definidos quebra-cabeças, para vocês se divertirem montando.”

Confira no YouTube do artista o making of de The Mandrake Project.

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Curitibana, frequentadora de shows de rock desde 1996, nacionais, internacionais e de bandas locais. Alguns registrados em minhas redes sociais, outros em ingressos físicos de uma época onde não existia QR Code. Apaixonada por rock e metal, livros, cinema, bons vinhos e amigos. Atualmente, engajada em conhecer e divulgar as bandas do metal brasileiro. Graduada em Design e Direito, pós graduada em Marketing e Sommelier.