Texto por Marcelo Gomes
No último final de semana, São Paulo recebeu um evento que muitos fãs de metal nacional aguardavam ansiosamente: o show do Viper executando seu icônico álbum Theatre Of Fate na íntegra.
A apresentação aconteceu no Sesc Avenida Paulista e os ingressos se esgotaram em menos de uma hora. Não era para menos, afinal, trata-se da celebração de 35 anos de um marco na história do heavy metal brasileiro.
Assim que começou a introdução do disco, “Illusions”, os fãs entraram numa máquina do tempo e foram levados a uma época mágica do metal nacional. Felipe Machado (guitarra), Pit Passarell (baixo), Guilherme Martin (bateria), Leandro Caçoilo (vocal) e Kiko Shred (guitarra) foram os responsáveis por proporcionarem essa viagem histórica e nostálgica.
A poderosa “At Least A Chance” abriu a apresentação, preparando o público para uma noite épica. Aliás, é uma faixa rara de ver nos shows do Viper e que funcionou muito bem ao vivo. “To Live Again” veio a seguir, demonstrando que a banda está super afiada para celebrar esse momento. Os fãs pareciam estar num teatro, apreciando cada detalhe da apresentação.
Mesmo sem o fator surpresa, já que seguiram a ordem do disco, nada tirou emoção de ouvir esses clássicos que fazem parte da vida de tanta gente. Um exemplo disso foi quando os primeiros acordes de “A Cry From The Edge” se iniciaram e os fãs cantaram o marcante solo inicial.
Destaque para o agudo final do Caçoilo, que certamente honrou a saudosa voz do grande Andre Matos. E o que falar do mega clássico, “Living For The Night”? É um patrimônio histórico da música pesada brasileira. Cada palavra da letra foi cantada, fazendo um lindo coro no Sesc.
O vocalista Leandro lembrou que a próxima é a preferida de Pit Passarell. Era a vez de “Prelude To Oblivion”. Mais uma daquelas que mantem a energia lá em cima e serviu de ponte para o que estava por vir, a faixa título “Theatre Of Fate”, a mais longa do disco, como uma verdadeira epopeia na qual os guitarristas, Felipe Machado e Kiko Shred, se destacaram em seus duetos enquanto Guilherme Martin massacrava sua bateria.
Dedicada ao Maestro, “Moonlight” encerrou o primeiro ato. A canção que é uma adaptação de “Sonata Luar” do Beethoven, trouxe a dramaticidade e a grandiosidade de seus arranjos numa interpretação emocionante. Contou ainda com a participação de Roberto Gutierrez (Hollowmind) no baixo. A título de curiosidade, segundo o documentário Andre Matos – Maestro do Rock (2021), do diretor Anderson Bellini, a faixa foi responsável por projetar o Viper no Japão.
O segundo ato começou com a fantástica “Timeless” do homônimo de 2023. Uma viagem da nostalgia ao novo, como somente o Viper sabe fazer. A recepção calorosa validou essa nova fase da banda. Para quem não conhece, a faixa mantem a essência que consagrou a banda com um toque mais moderno.
Da fase Pit, “Evolution”, com o próprio cantando a primeira parte, assim como em “Coma Rage”, a mais punk do setlist, na qual teve o retorno de Gutierrez ao baixo. Mas antes de tocarem essa última, o vocalista Leandro Caçoilo se lembrou que o Felipe Machado comemoraria seu aniversário no dia seguinte, ou seja, dia 4, e puxou um parabéns bem animado com a banda acompanhando em homenagem ao guitarrista que fez um belo discurso e agradeceu a todos.
Esse novo momento com Leandro Caçoilo e Kiko Shred deu uma injeção de ânimo à banda. O resultado disso, foi o disco Timeless (2023), que recebeu ótima avaliação na mídia especializada. Aproveitando a excelente fase, mais duas novas, “Freedom Of Speech” e “Under The Sun”. Aliás, que sensação boa ver a banda revitalizada lançando um material tão bom depois de tanto tempo.
Para não deixar ninguém parado, tocaram “Rebel Maniac” com aquele refrão grudento que foi cantado os berros por todos e se despediram com “H.R.”, primeira composição feita pela banda em 1984.
A celebração de 35 anos do Theatre Of Fate, não foi apenas a comemoração de uma data e/ou um disco, mas a celebração de um marco na história do heavy metal brasileiro que projetou a banda a um outro patamar, abrindo não só portas para uma carreira internacional como também possibilitando o surgimento do Angra, Shaman, Noturnall, e carreiras solos que definitivamente tiveram seu embrião no Viperverso.
A apresentação respeitou o legado sem esquecer do presente, numa apresentação eletrizante. A boa notícia ficou por conta do anúncio que seguirão com essa celebração que é simplesmente imperdível!