Poucas bandas cultivaram tanto mistério e controle sobre sua própria imagem quanto o Tool. Por isso, a decisão de permitir a transmissão ao vivo de sua apresentação no Lollapalooza Argentina 2025 pegou até os fãs mais fiéis de surpresa. Pela primeira vez em sua trajetória, o grupo que sempre rejeitou as lógicas tradicionais da indústria abriu uma brecha — cuidadosamente medida — para que o público global testemunhasse, em tempo real, a potência de sua performance ao vivo.
Como não poderia deixar de ser, nada na transmissão foi ao acaso. O Tool dirigiu pessoalmente a cobertura visual do show, impondo uma estética deliberadamente distante: planos abertos, visão ampla do palco e da plateia, nenhuma aproximação dos músicos, nenhuma tentativa de capturar expressões ou gestos íntimos. O resultado foi uma experiência que manteve intacta a aura enigmática da banda, mesmo diante da exposição inédita.
Mesmo na transmissão, o Tool segue decidindo sua estética
A escolha ganha ainda mais peso quando se considera o histórico do grupo. Durante décadas, o Tool proibiu o uso de celulares em seus shows, desencorajou gravações e se manteve fora de plataformas digitais como Spotify e Apple Music por um bom tempo. Tudo em nome de uma experiência musical mais imersiva, íntegra e ritualística. Para muitos, assistir a um show da banda exigia presença física e entrega total. E, por isso mesmo, ver essa barreira suspensa, ao menos parcialmente, tornou o momento ainda mais simbólico.
A transmissão foi, acima de tudo, um gesto calculado, e não uma rendição. A estética crua e distante dos enquadramentos reforçou que, mesmo ao se permitir visibilidade, o Tool continua decidindo os termos de como isso acontece. E talvez resida aí o verdadeiro significado do evento: mais do que a simples transmissão de show, foi uma reafirmação de que a banda pode evoluir sem abrir mão de seus princípios.
O show completo já está disponível online. E embora as imagens não se aproximem dos músicos, o som — denso, hipnótico, preciso — carrega toda a força que transformou o Tool em uma das bandas mais respeitadas de sua geração. Resta saber se esse episódio será lembrado como uma exceção pontual ou como o primeiro passo de uma nova fase. De qualquer forma, o Tool continua a surpreender — e a conduzir sua trajetória à sua própria maneira.
Texto por Rafael Andrade
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