Após mais de uma década da sua primeira passagem, The Ghost Inside finalmente desembarcou no Brasil no último domingo, 18, em São Paulo, no Vip Station. O show encerrou a turnê pela América Latina, que passou pelo México, Colômbia e Chile.
Deixando a noite mais quente, três bandas nacionais foram escaladas para abertura. Começando com os brasilienses Never Look Back, que tem como principal influência em sua música os norte-americano The Ghost Inside. O grupo de hardcore formado por Kenji Matsunaga (vocal), Marcelo Maia (bateria), Rique Martins (guitarra e voz) e Fábio Alexandre (baixo) conseguiu agitar o público de uma maneira única, as pessoas chegaram cedo para conferir e logo começaram abrir rodas e se aquecer para o show principal.
O repertório curto e rápido foi o suficiente para mostrar o talento e autenticidade da banda, que com pouco tempo de estrada, mais parecia um nome tradicional e aclamado – senti a mesma energia de quando assisti grandes bandas nos festivais europeus. Isso tudo graças à evolução nítida no disco recém lançado Relentless, em que Never Look Back começou a cantar em inglês e colocou mais peso e modernidade. A única canção em português, “Única Saída”, contou com a participação do vocalista Lucas “Jota” Ferreira, do Escombro, enlouquecendo mais ainda os fãs de hardcore.
Em seguida, os já conhecidos Bayside Kings quase derrubaram as estruturas do Vip Station. O quarteto santista de punk hardcore exala o estilo único que só o tempero brasileiro proporciona, com um show que mais parecia ser do headliner. A casa já estava lotada, parecia que o público tinha chegado para ver Bayside Kings e sua apresentação energética, já conhecida no cenário, marcando a consolidação da banda na fase de letras em português.
O vocalista Milton Aguiar tem o dom de agitar os fãs, convidando-os para a famosa dança, rodas e fincando mais uma característica da banda: os fãs emocionados que são um show à parte. O auge de cada show é o momento que Milton vai para junto do público e interesse de forma intimista, tornando seu público parte do espetáculo. Cheio de críticas sociais e influências musicais, o show do Bayside Kings já é um acontecimento na cena, que deve ser presenciado pelo menos uma vez na vida.
Colid foi a terceira banda da noite, formada por Lucas Guerra no baixo e vocal, Charles Moreira na bateria – ambos ex-integrantes do Pense -, e Gabriel Valadão na guitarra e produção de eletrônico. A banda nova no cenário, prestes a completar um ano de existência, traz uma proposta de rock moderno com beats eletrônicos e já é conhecida por tocar em grandes eventos e alcançar grandes números nas plataformas digitais. O show foi morno, sem muita agitação do público, mas ainda assim era possível perceber que boa parte sabia cantar cada música.
Pontualmente, a banda mais esperada da noite entra no palco, uma das bandas mais reverenciadas do metalcore e hardcore moderno. A primeira apresentação do The Ghost Inside aconteceu em 2012, também com show único na capital paulista, e esta noite foi uma celebração de uma banda que desafiou as probabilidades e ressuscitou das cinzas; um fato que é literal, pois esta turnê é a primeira turnê da banda em na América Latina após seu acidente catastrófico no final de 2015 – o ônibus de turnê da banda colidiu frontalmente com um trator enquanto iam para o Arizona, o motorista dos dois veículos faleceram e os integrantes Jonathan Vigil (vocalista), Zach Johnson (guitarrista) e Andrew Tkaczyk (baterista) foram hospitalizados em estado crítico e após um coma de dez dias, Tkaczyk confirmou através de sua conta no Instagram que o acidente resultou na perda de uma das pernas.
Ao subir no palco, cada integrante estava pronto para entregar o que foi uma performance inesquecível. Era nítido a emoção no olhar de cada fã, após anos de espera para ver a banda preferida e também os olhares de surpresa para quem assistia pela primeira vez. Em meio à tour, o The Ghost Inside está anunciando o sexto álbum de estúdio, Searching For Solace, que será lançado em 19 de abril pela Epitaph Records, e perguntou aos fãs se estavam ansiosos. Durante todo o show, a banda continuou agradecendo ao público por acompanhá-los em tudo, e demonstrando a satisfação em estar de volta ao Brasil.
The Ghost Inside foi um espetáculo perfeito do início ao fim, senti a mesma sensação de estar em shows na Europa, onde a maioria dos festivais dão espaço para as bandas de metal moderno, e foi possível sentir uma energia renovada e única, um espírito jovem e moderno que precisamos sentir no metal atual. Além da música pesada, há uma energia única e mensagem subjacente de esperança e perseverança que ressoa no público, fechando o show com a faixa “Aftermath”, a primeira após o hiato de cinco anos do trágico acidente de ônibus, permitindo que a banda colocasse um ponto final no acontecimento e retornasse em sua nova fase.
Nossa colabora Mara Alonso também foi ao evento e registrou a noite. Confira nossa galeria de fotos: