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The Darkness

The Darkness. Crédito: Divulgação

The Darkness: a psicologia reversa de ‘Motorheart’, morte do heavy metal e mais

Frankie Poullain, baixista da banda, conversou com Wikimetal sobre o novo álbum e turnê

É possível separar bandas de rock de sucesso em duas categorias: aquelas que realmente viveram toda a loucura e extravagância do estilo e aquelas com bom humor para tornar a persona do rockstar em uma hipérbole cativante o suficiente para adentrar no primeiro grupo, como é o caso do The Darkness

Entre o álbum de estreia de sucesso, com os agudos irresistíveis de “I Believe In a Thing Called Love” em Permission to Land (2003), até o mais recente álbum, os ingleses precisaram sobreviver aos clichês das instabilidades na banda, abuso de drogas, o fim de tudo até o glorioso retorno na última década. Depois disso, nem mesmo a solidão sufocante de passar por uma pandemia puderam tirar o brilho e o desejo de se arriscar em Motorheart (2021), que tem gostinho de recomeço pelos quase 20 anos de banda e a volta aos palcos. 

Lançado em novembro de 2021, o sétimo álbum de estúdio da banda entrega todo o glamour e energia irresistíveis de um hard rock clássico e ousado, satírico e completamente sério no propósito de entregar boa música. Como resume bem um fã nos comentários do clipe de “Jussy’s Girl”: “É reconfortante que ainda exista uma banda que consegue arrasar como se estivesse em 1985… E ter senso de humor”. 

Poucos dias após o lançamento do disco, o baixista Frankie Poullain conversou com Wikimetal sobre voltar aos palcos e o novo trabalho. Sentado confortavelmente na cama de um hotel, o músico tinha acabado de se apresentar com a banda em Cambridge, na Inglaterra. “Os últimos shows foram como os velhos tempos, de antes da pandemia, as pessoas esquecem [dos problemas] rapidamente e se lembram de aproveitr”, contou. 

The Darkness – ‘Motorheart’. Crédito: Divulgação

O assunto de possíveis shows por aqui não demorou a surgir. Em 2011, no ano do retorno do The Darkness, a banda esteve no Brasil pela única vez, convocada como ato de abertura dos shows de Lady Gaga no país, passando por três cidades: São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, conforme enumerou o baixista em uma pronúncia surpreendente para um britânico. 

Com a nova turnê, novas ofertas de promotores daqui apareceram, mas a volatilidade da pandemia ainda não permitiu um retorno com uma turnê “propriamente dita” da banda na América do Sul – algo que, definitivamente, está no radar. 

“Em São Paulo estava chovendo muito, mas as pessoas cantavam junto, ninguém se importava com a chuva, era uma chuva tropical, algo que não temos por aqui”, lembrou espontaneamente. Contei que aquele tinha sido o primeiro show da minha vida. “Uau, eu estava descrevendo o show no qual você estava, que engraçado. Estava com uma energia boa, não estava?”

The Darkness segue os próprios protocolos de segurança na turnê, com medidas de segurança mais estritas que as governamentais – e consideradas rígidas demais pelo British Lion, banda liderada por Steve Harris, do Iron Maiden, que desistiu de sair em turnê com o grupo no último ano por causa desses protocolos, como noticiado pela Loudwire. “É apenas por respeito pelas pessoas e para fazer tudo dar certo. Estamos fazendo o melhor que podemos”, disse com simplicidade.

Justamente por priorizar a segurança sanitária, Motorheart foi composto separadamente, com a troca virtual de faixas e ideias, uma novidade para o The Darkness. Apesar desse desafio, a qualidade das músicas não foi afetada, talvez em parte pela abordagem de psicologia reversa que permeia o disco, das letras aos clipes. 

Explicando o desafio de ser original no processo criativo de vídeos irônicos como “It’s Love, Jim” ou “Jussy’s Girl”, Frankie revela essa lógica pela primeira vez na conversa. “Usamos psicologia reversa: tentamos fazer o pior clipe possível porque é muito divertido reimaginar esses vídeos nos quais as pessoas se preocupavam menos, tinham uma ingenuidade encantadora”, observou. “É uma mistura de bom gosto e mau gosto”. 

Já nas letras, encabeçadas pelo vocalista Justin Hawkins, existe um jogo no qual a diversão está garantida para o ouvinte, mas as reais intenções do interlocutor estão nas entrelinhas. “Justin gosta da burrice, gosta de brincar com a estupidez, mas existe algo muito inteligente nisso, constantemente indo de um extremo ao outro. Acho que é algo interessante e original”, analisou o baixista. “Nunca é o que você acha”. 

Ao ouvinte desatento, “Motorheart” é um absurdo machista dos tempos modernos ao enaltecer as vantagens da aquisição de uma boneca sexual ao invés de tentar um relacionamento consensual com uma mulher, mas a ironia está justamente na crítica ácida ao desejo da sociedade de moldar seres humanos de acordo com desejos egoístas. 

Apesar de letras aparentemente superficiais sobre carros e mulheres, o baixista afirma que a banda nunca realmente escreve sobre esses temas. “É diferente das bandas de hard rock americanas. Foi isso que matou o heavy metal, de certa forma: era simplesmente sem significado. Foi o que matou o rap tradicional também, se tornou apenas um monte de merda entediante”. 

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