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Souls of Black do Testament

O álbum Souls of Black do Testament. Crédito: Divulgação

Testament e o legado impressionante por trás de ‘Souls of Black’

Em meio a quatro turnês e com apenas um mês de produção, o quarto álbum da banda reflete o seu brilhantismo

No dia 09 de outubro de 1990, o quarto álbum de estúdio da banda norte-americana Testament chegou às prateleiras de diversas lojas de discos. Conhecido como um dos álbuns mais característicos de toda a sua discografia, Souls of Black é o registro de dois curiosos momentos: a ascensão na carreira da banda após três bem-sucedidos álbuns e os desafios enfrentados na busca para reciclar o som e fugir da superficialidade. 

Com a expansão do thrash metal e o seu som pesado chegando ao mainstream, a história de Souls of Black não se resume apenas a aclamação dos fãs por mais, mas do esforço da banda em, com urgência, atender ao público enquanto se preparavam para a turnê que levaria o nome deste álbum por mais de 50 cidades, após o sucesso estrondoso do Practice What You Preach Tour e a histórica Clash of Titans Tour, ao lado de Megadeth, Slayer, Suicidal Tendencies, Anthrax e Alice in Chains.

Com a formação composta à época por Chuck Billy (vocal), Eric Peterson (guitarra), Alex Skolnick (guitarra), Louie Clemente  (bateria, 1983–1985, 1986-1992, 2005–2006) e Greg Christian (baixista, 1983–1996 e 2005–2014), a banda, criada em 1983, tinha originalmente o nome de The Legacy, que curiosamente é também título do seu debut. Greg Christian, no mesmo ano de 1983, assumiu as linhas do baixo e os vocais ficaram por conta de Steve Souza. No ano seguinte, a sua primeira demo, intitulada First Strike is Deadly, foi lançada ainda com a voz de Souza, que logo após deixou a banda para liderar o Exodus. Após sua saída, Billy assumiu os vocais.

O quarto álbum do Testament, Souls of Black

Em 1987, obrigados a mudar o nome da banda para Testament por problemas relacionados aos direitos autorais, chegou às prateleiras o álbum batizado com seu nome de origem, assinado pela Megaforce Records. Após o lançamento, com o estrondo causado entre os fãs do subgênero, em 1988 lançam o álbum The New Order e, em 1989, Practice What You Preach.

Em meio a um ano bastante movimentado, o início dos anos 90 foi, sem dúvidas, um marco em sua história, pois elevou a banda para o patamar de um dos titãs do heavy metal mundial. 

Ainda que sucedida de críticas por parcela do seu público, o seu quarto álbum de estúdio, Souls of Black, chegou às lojas naquele ano carregando as raízes do thrash metal ao longo das suas 10 faixas que retratam, com profundidade, reflexões sobre a sociedade, política, manipulação e dúvidas internas.

O vocalista Chuck Billy revelou, no ano de 1991 em entrevista reproduzida pelo canal Hang the Dj! TV, que a banda teve apenas quatro ou cinco semanas para compor e gravar no estúdio e saírem na Souls of Black Tour no mesmo ano. Sobre isso, o guitarrista Alex Skolnik complementou: “foi muita pressão e difícil. Nós sempre tivemos tempo para compor as canções e, dessa vez, basicamente só tivemos um mês para escrever”.

Seguindo o conselho dos amigos do Judas Priest, que em outubro de 1990 puderam dividir os palcos na turnê de Painkiller Tour, o guitarrista Eric Peterson contou, sobre o lançamento do quarto álbum de estúdio, que a banda buscou tocar algo mais pesado e desafiador e que, apesar dos “mundos” entre os colegas serem diferentes, é essa energia que tornou os papéis tão importantes.

Influências dos grandes nomes do thrash metal

Ao ouvir o álbum, é possível identificar as influências das bandas que dominavam a cena, como o Metallica e os seus companheiros da Clash of Titans Tour. Em entrevista dada no importante ano de 1990, durante o Headbangers Ball, questionados sobre as influências européias para a composição do álbum, o vocalista confirma e ainda complementa: “nós trouxemos velhos sentimentos e a música agressiva com um vocal diferente, mantendo as nossas raízes”.

Contando com mais de 10 faixas gravadas que levaram a banda à 73º posição da US Billboard 200, Souls of Black é histórico tal qual a banda que a produziu.

Começando pela instigante faixa de abertura que se mescla à segunda faixa, “Beginning of the End” e seu crescente dedilhado que acelera para a pesada entrada de “Face in The Sky”, que já recebe o ouvinte com o característico riff de guitarra identidade do thrash metal, a segunda faixa do álbum nos remete ao autoquestionamento e a verdadeira visão de um mundo não tão fantasioso. 

Seguindo com “Falling Fast” com as mesmas linhas agressivas, o solo potente e marcante de Peterson carrega a alma da faixa, enquanto Chuck Billy entoa, ao fundo, as reflexões sobre viver em uma sociedade sombria. 

Músicas que falama sobre nossa sociedade e que seguem muito atuais

Não por coincidência, a quarta música do álbum é justamente a faixa-título, “Souls of Black”, que, apesar de desacelerar levemente em relação às anteriores, é marcada por riffs de guitarra e linhas de bateria intensas, sendo uma das preferidas dos fãs até hoje. Com a crítica contra a idolatria e manipulação política que “destrói as esperanças com promessas”, Testament mostra que não é só mais uma banda que reproduz um thrash metal de plástico. 

Na sequência, “Absence of Light” fala sobre a opressão das massas e como o medo se tornou um “produto” para os que promovem a guerra. O solo composto por Peterson é, mais uma vez, marcado pela intensidade e raiva que a letra nos remete. 

Já “Love to Hate” e “Malpractice”, sexta e sétima faixa do quarto álbum, trazem de volta a velocidade das duas primeiras faixas. Nas composições, Chuck Billy, reforça que o enredo gira em torno de críticas políticas e sociais, avalia novamente a opressão e manipulação das massas ao usar de “planos desconhecidos para que sigam suas ordens como ratos da morte”. Vale o destaque para “Malpractice” que, com seu solo mais melódico, tornou-se uma das melhores faixas do álbum, na minha opinião.

Solos, riffs, peso, velocidade, vocais e tudo do melhor do thrash

Em “One Man’s Fate”, as linhas de baixo de Greg Christian são as grandes protagonistas, que além de ditar o ritmo de todo o restante da música, finaliza com uma melodia que nos leva a reflexão de todo o enredo que o álbum propõe. No vocal, Billy canta sobre o presente e como a vida, além de ser passageira, não retorna, pois não se pode rezar sobre um túmulo ainda aberto. 

Tida como uma das melhores e mais marcantes canções da trajetória do Testament, a nona faixa, “The Legacy”, com um tom mais melódico que quebra a pancadaria que todas as músicas anteriores tiveram, traz de cara que se trata da apoteose do Souls of Black. Ao ouvir em sequência, temos a ideia de que o álbum, até ali, apenas preparou o campo para que os riffs de guitarra prendessem a atenção do ouvinte. A melodia de “The Legacy” é sem igual e merece a fama que tem, pois reflete sobre o pacto da fama e fortuna.

A influência de bandas como Megadeth, Judas Priest e Slayer nas composições do Testament é clara, e não é pra menos, porque, por muitas vezes, essas bandas dividiram a estrada por longos períodos, o que tornou óbvia a troca de experiências. Apesar de nunca, em 40 anos, dividirem o palco, é possível perceber o quanto o Metallica é presente no rol de influências da banda, que nem por isso deixa de lado a originalidade e a busca pela própria assinatura.

Fechando a tracklist, “Seven Days of May” acelera em todos os aspectos com um convite à rebelião contra as prisões políticas que o governo cria. Mais uma vez, as composições de Peterson e Skolnick, em conjunto com as linhas de bateria de Louie Clemente e o vocal potente de Chuck Billy, trazem o impacto necessário para a mensagem que o álbum quis trazer, transportando para quem ouve o sentimento de revolta. 

Sucesso no estúdio e na estrada

Ainda que criticado por alguns, Souls of Black reflete a genialidade da banda, que na época conseguiu, com muito esforço, lançar um álbum com tamanha qualidade, feito em apenas um mês e em meio a turnê solo de Practice What You Preach Tour, Painkiller Tour, Class of Titans Tour para logo após sair, novamente, em turnê solo com Souls of Black Tour

Quer dizer, o que o Testament fez em 1990 foi para poucos. Quase 200 apresentações no mesmo ano em que mudaram, pelo menos, três ou quatro vezes o setlist para se adaptar ao público que iriam se apresentar e ainda ter força para compor e produzir um álbum completamente novo.

Com o destaque para Eric Peterson e Alex Skolnick, arrisco dizer que as minhas preferidas do álbum foram “Malpractice”, “One Man’s Fate” e, claro, “The Legacy” e a faixa-título, “Souls of Black”. 

Como fã do subgênero, posso dizer: este não é só um álbum que carrega a essência do thrash metal. Ele é o reflexo do talento e do momento em que a banda que marcou a história do heavy metal estava enfrentando ao viver um dos melhores anos da sua carreira.

Apesar de não se verem livres de mudanças na formação, problemas com gravadoras e a doença que quase nos tirou o brilhantismo de Chuck Billy no início dos anos 2000, é inegável a importância e a superação que percebemos ao longo dos trabalhos do Testament, com o devido foco na Souls of Black não só pela composição, mas pelo contexto em que foi criado. 

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