Texto por Patrícia C. Figueiredo
Os fãs brasileiros não precisaram esperar muito pelo retorno da aclamada Tarja Turunen ao Brasil, pois a cantora tocou em São Paulo, Limeira e Rio de Janeiro há apenas pouco mais de um ano. Porém, os fãs gaúchos, que ainda estão aos poucos matando a saudade dos shows de metal na região, já estavam há muito tempo carentes pela visita da finlandesa, que não vinha à capital gaúcha desde 2015.
Tarja demonstrou extremo carisma com o público e incrível precisão técnica no palco do Opinião em uma noite de ingressos esgotados, marcada pelos maiores sucessos de sua carreira solo. Apesar de ainda ser frequentemente identificada como ex-Nightwish em divulgações de shows e projetos, a soprano deixou claro que não precisa desse momento de sua carreira para se promover e se estabelecer como uma das maiores artistas da cena atual do metal.
A banda paulistana Santo Graal tomou o palco com cerca de 15 minutos de antecedência e abriu a noite com seu metal sinfônico que muitas vezes nos remete aos primórdios do Nightwish.
O público tímido ao vê-los pela primeira vez acompanhou o show com atenção e respondeu com entusiasmo à interação ativa da vocalista Natália Fay, que dominou o set com seu vocal lírico e potente. Ao longo do show, a banda, que é formada em sua maioria por mulheres, agradou com um set cativante repleto de melodias melancólicas e também pesadas, marcadas por linhas de guitarra, teclado e até mesmo de um cello.
Podemos facilmente destacar a faixa “Lesser Evil” como uma porta de entrada para quem quer conhecer a banda, as baladas “Open Your Eyes” e “Dark Roses” e “Black Swan”, uma releitura pesada do tema de Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. “Sunshine II” encerrou o setlist da banda com ânimo e satisfação da parte dos espectadores.
Tarja subiu ao palco pontualmente às 23h. Seu sorriso aberto era contagiante e o público a recebeu em êxtase durante a abertura com “Eye of The Storm”, música do seu mais recente álbum de estúdio, In The Raw (2019). Em seguida, a cantora já fez o coração dos fãs bater ainda mais forte ao usar seu bom português para dizer “É um prazer estar aqui novamente! Obrigada, estou muito feliz.”
Um pouco mais tarde, ainda emocionando o público, Tarja senta ao teclado e durante a introdução de “Oasis”, comenta ter sentido saudade da cidade e adiciona: “Eu lembro da primeira vez que vim à Porto Alegre, eu era ‘pequena’, e depois de todos este anos, vocês ainda estão aqui. Eu amo vocês.” É de se imaginar que “pequena” faz referência ao início de sua carreira pós-Nightwish.
Com sua atual banda, formada por Alex Scholpp (guitarra), Julian Barrett (guitarra), Pit Barrett (baixo), Alex Menichini (bateria) e Guillermo de Medio (teclado), a energia incrivelmente positiva do palco é sentida com leveza conforme os músicos interagem entre si e fazem breves coreografias sincronizadas.
Por Tarja já ter trabalhado com eles durante outras turnês e gravações de álbuns, é fácil ver como se sentem confortáveis por estarem tocando juntos. Isso ficou bem claro durante “Shadow Play”, que ao vivo tem quase uma pegada de jam session, com Tarja ainda no teclado e a banda trabalhando a versão extendida da música.
Alguns fãs surpreenderam ao levarem balões pretos e prateados, combinando o figurino de Tarja durante a música “Enough”. Tanto esta quanto “I Walk Alone” e “Die Alive” também foram como uma viagem no tempo, nos levando de volta a 2008, ao show da primeira turnê de uma Tarja que procurava se estabelecer em carreira solo após o conflito com a banda Nightwish.
O grupo, por sinal, só foi lembrado de fato no show pela presença de Nemo no setlist, mostrando que Tarja hoje é uma artista que não depende mais desse momento de sua história para conquistar seu espaço na cena do metal melódico e sinfônico. Mesmo assim, é impossível negar que a única música do Nightwish da noite foi a que, sem dúvidas, mais empolgou os gaúchos. O público cantou, pulou e aplaudiu como em nenhum outro momento do show, afinal, foi assim que muitos conheceram a diva do metal.
Um momento bastante descontraído da noite foi quando os balões voltaram durante “Victim of Ritual”, faixa que já é bastante animada por si só, mas que ficou verdadeiramente divertida conforme o público jogava uns poucos balões de um lado para o outro, fazendo com que até Tarja entrasse na brincadeira enquanto alternava a parte mais operística da música com o público.
Após todos saírem do palco e aos gritos de “olê olê olê olá, Tarja, Tarja”, a banda volta para o encore, que além de “Die Alive”, já mencionada aqui, contou também com “Innocence” e “Dead Promises”. Ao contrário do que muitos esperavam, não tivemos o prazer de ouvir “Over The Hills and Far Away” fechando o show e a noite foi encerrada com “Until My Last Breath”, deixando confusos aqueles que acompanharam os setlists até agora pela América Latina, sem saber se iam embora ou não, até que o equipamento do palco começou a ser desmontado.
Deixando essa pequena decepção de lado, antes de deixar o palco,Tarja compartilhou abraços com todos os integrantes de sua banda, agradeceu aos fãs “pela noite fantástica” e já deixou marcado seu retorno à Porto Alegre para 9 de março de 2024, acompanhada do antigo companheiro do Nightwish, Marco Hietala.
Ovacionada do início ao fim entre aplausos, gritos e palavras de carinho e admiração, Tarja encantou com sua extraordinária precisão vocal e simpatia no palco. Parecendo nem fazer esforço para manter sua técnica, como se canto lírico fosse algo trivial, agradou cada fã presente e provou ser, incontestavelmente, uma artista autêntica e estabelecida através de sua própria jornada como cantora solo.