O dia 5 de imersão musical em Austin começou com um bate-papo sobre os mais de 50 anos do Heavy Metal conduzido pelo jornalista Eddie Trunk da rádio SiriusXM. Pudemos ver e ouvir de perto Geezer Butler, Sebastian Bach e Wendy Dio refletirem sobre o poder do Metal através dos anos e recordarem momentos de suas carreiras na música.
O papo foi complementar ao filme sobre Ronnie James Dio que assistimos no dia anterior mas também e especialmente sobre o que faz esse estilo musical perseverar e ser, por assim dizer, passado de pai para filho, ainda hoje, mais de 50 anos depois do lançamento do marco que é considerado o lançamento, pelo Black Sabbath, do disco que carrega o mesmo nome da banda. Acho que esse bate papo merece um texto só para ele, então vou me limitar a dizer por ora que foi emocionante e bem divertido. Não deu tempo de tirar uma foto com o Geezer Butler e a Wendy Dio que não ficaram muito no palco depois do fim da conversa mas o Sebastian Bach, que além de ter sua própria longa carreira no Rock, é conhecido como um dos maiores fãs do gênero, foi um queridão e garantimos nossa foto com ele.
Saímos direto da conversa sobre o Heavy Metal, para a sala de conferências do lado, onde ninguém menos que o astro Beck falaria à jornalista da New Yorker, Amanda Petrusich, sobre a carreira, criatividade e música. Na introdução dele ao palco, foi lembrado, com muito humor, que quando Beck tocou no SXSW, em 1994, o show que o antecedeu, em um pequeno bar chamado Emo’s foi, nada mais nada menos, que o da lenda Johnny Cash, então, teoricamente, ainda no começo da carreira, Beck teve Johnny Cash abrindo para ele. Beck é uma figura única, um cara elegante e humilde, com humor de sobra, especialmente no que diz respeito à fazer piada sobre si mesmo, mas que leva criatividade e música muito a sério e que depois de tantos anos segue tentando fazer e ser melhor.
Em termos de shows, pudemos ver um pouquinho de uma lendária banda de rock da Zâmbia dos anos 70, a W.I.T.C.H. (We Intend To Cause Havoc) que, com dois dos membros originais, Emmanuel “Jagari” Chanda e Patrick Mwondela, e complementada por um elenco de músicos europeus, voltou à ativa e está começando sua primeira turnê internacional. A fusão de Rock, Funk e ritmos africanos que o chamado Zamrock da W.I.T.C.H. representa merece mesmo que um povo novo a conheça.
Mais tarde fomos ver os já camaradas da Akeem Music que se apresentavam no charmoso bar Speakeasy, na Congress, avenida central de Austin. A meia hora de show e a limitação oferecida pela formação em trio, em um show que pode ser maior, não abalaram o frontman Akeem Delanhesi, acompanhado pelos parceiros Mateus Zuanazzi e Felipe Saul, que além das funções de baixista e guitarrista, participam com convicção de coreografias pouquíssimo ortodoxas de dança, distribuem material para o público e se bobear ainda saem dali pra uma jornada como motoristas de táxi. O público no Speakeasy era relativamente pequeno mas a música leve e a voz suave e irreverência de Akeem conqusitaram os presentes e teve gente bem empolgada dançando em frente ao palco.
Resolvemos ficar ali mesmo pelo Seakeasy pois mais tarde queríamos conferir a apresentação do também brasileiro Gabriel Gonti, então acabamos dando uma relaxada ao som do projeto chileno Wired Sessions, misturando percussão, ritmos latinos e bases eletrônicas embalados em um pacote de alto astral e um visual muito Big Lebowski.
O Gabriel Gonti é outro queridão brasileiro, de Patos de Minas, pra ser mais exato. Ele subiu, acompanhado de banda, ao palco do Speakeasy às 11h e o bar já estava um tanto mais cheio. O Gabriel não usa o humor no seu show como o Akeem, mas é muito simpático, e como o gaúcho, se comunica bem em inglês, então a conexão com o público também não ficou para trás e teve bastante gente dançando ao som do seu elegante pop folk, que ele cantou majoritariamente em português. Saímos correndo para o nosso último show da noite, que ia rolar uns dois quilômetros de distância dali em um lugar chamado Continental Club e quando voltamos, passamos na frente do Speakeasy e encontramos o Gabriel devorando um Hot Dog de rua, cansado mas felizão. Com o resultado do show, claro, mas acho que mais ainda com aquele Hot Dog.
A última parada que mencionei, já adentrando a madrugada era um show da Volk, duo de Nashville formado pelo grandalhão Chris Lowe, nos vocais e guitarra, e pela pequena Eleot Reich, completando os vocais e segurando a bateria. O Cowpunk que os dois fazem era algo que eu já queria ver em 2020, quando viríamos para o festival e fomos interrompidos pela pandemia, e por isso mesmo eu estava ansioso pra conferir. Não me decepcionei. Com figurinos personalizados, onde os chapéus com pequenas luzes de LED na aba são o toque especial, o duo é carisma, energia e teatralidade do começo ao fim. E essa coisa da teatralidade ficou ainda mais evidente pra mim quando conversamos com eles depois do show, no contraste entre a persona poderosa e a “cara de mau” de Lowe, subindo em cima dos retornos ou se lançando em meio à galera e a simpatia e jovialidade dele na conversa com a gente e com quem mais quisesse trocar uma idéia. Já curtia mas agora virei fã. Ah, pontos também para o Continental Club. Ele fica do outro lado do Rio Colorado que corta a área central aqui de Austin, um pouco mais afastado de todo o caos e turismo envolvidos no Festival, mas é um lugar bem Rock n Roll, despretensioso e autêntico. E sobre o público, não sei se foi por conta do line up da noite mas quem estava ali, estava pra ver aquelas bandas mesmo e pra curtir e dançar. Sem gente flutuando, por assim dizer. Grande noite!
Saindo daqui a pouco para o último dia de grandes atividades musicais! Amanhã tem mais historinha.