Texto originalmente publicado no Mad Sound
Segunda edição do Soundhearts Festival aconteceu no Allianz Parque, onde também tocaram Flying Lotus, Junun e Aldo, the Band
A derradeira edição brasileira do Soundhearts Festival aconteceu no último domingo, 22. Após passarem pelo Rio de Janeiro no dia 20, o headliner Radiohead, o projeto Junun (do guitarrista do Radiohead, Jonny Greenwood) e o produtor Flying Lotus vieram ao Allianz Parque. Em São Paulo, o line-up do evento ganhou um reforço nacional, o Aldo, the Band.
A banda paulistana formada originalmente pelos irmãos Murilo e André Faria subiu ao palco com poucos presentes no estádio, e o sol ainda ofuscando a iluminação artificial. Com a formação completada por Érico Theobaldo e Isidoro “Snake” Cobra, o grupo se esforçou para mostrar que a cena independente brasileira tem peso suficiente para dividir o palco com representantes da história viva musical, Flying Lotus e Radiohead.
Junun veio logo depois, impressionando pela complexidade instrumental do projeto. O compositor israelense Shyen Ben Tzur e integrantes do Rhajastan Express são focados na música indiana, e exploram ritmos, letras, poesias e folclores do Rajastão, região no norte da Índia. A inusitada performance foi bem recebida, ganhando até mesmo um pedido de bis no final.
Tanto calor foi interrompido pelo telão que separava Flying Lotus do público. A apresentação do DJ norte-americano reforçou a proposta de “festival” do Soundhearts, que, além do nome, propôs diversidade musical. Ao público que majoritariamente esperava por Thom Yorke e companhia, foram apresentados uma banda brasileira, um projeto com foco indiano e um set eletrônico de qualidade.
Poucos minutos depois das 20h, o Radiohead subiu ao palco do Allianz Parque. Com um atraso não habitual para bandas britânicas, começaram o set com uma sequência de faixas do último disco de estúdio, A Moon Shaped Pool (2016). “Daydreaming” e “Ful Stop” deram início ao esperado — já que a banda não passava pelo país há quase 10 anos.
Thom Yorke, Ed O’Brien, Jonny Greenwood, Phil Selway e Colin Greenwood passearam por toda a discografia, relembrando grandes canções de OK Computer (1997), In Rainbows (2007) e Hail To The Thief (2003). Ao tocar “15 Step” e “Myxomatosis”, o Yorke mostrou alguns excêntricos (e famosos) passos de dança, se soltando cada vez mais no palco. Mesmo quando se sentava para criar uma atmosfera mais calma, o cantor continuava se mexendo, se revelando sempre à vontade.
Entre coros nas faixas “All I Need” e “Pyramid Song”, era possível ver grupos de amigos se abraçando e celebrando a genialidade e energia do Radiohead no palco. “Let Down”, “My Iron Lung” e “No Surprises” trouxeram calafrios e preencheram o estádio.
Thom Yorke mal conversou com o público, se limitando apenas a alguns agradecimentos – por vezes, em português. Ainda assim, demonstrava simpatia pelos gestos e movimentos. Quanto ao resto da banda, estavam satisfeitos em entregar um show bonito – e isso tanto musicalmente quanto visualmente, com telões que apresentavam imagens ao vivo dos integrantes combinadas a elementos gráficos.
Com um setlist caprichado, o Radiohead não deixou dúvidas sobre força que tem quando iniciou o primeiro bis. Com uma série de “Exit Music (For a Film)”, “Nude”, “Identikit” e “There There” – pouco tocada na turnê atual – parecia que a energia do lugar não poderia ficar melhor.
Já para o segundo bis, a banda deixou os fãs sem chão ao tocar “Present Tense” e finalizar com a emocionante e clássica “Fake Plastic Trees”. Os fãs mais assíduos esperavam terminar a noite com “Karma Police”, como fizeram no show no Rio de Janeiro, mas a balada os levou a uma viagem sensorial que se tornou breve com a surpresa do fim.
O Radiohead trouxe um show sólido baseado em uma trajetória apaixonante, que fez com que o grupo não tivesse que apelar para uma cartela de hits, covers ou malabarismos para preencher o Allianz Parque.
Setlist do Radiohead em São Paulo (22.04 no Allianz Parque)
- Daydreaming
- Ful Stop
- 15 Step
- Myxomatosis
- You and Whose Army?
- All I Need
- Pyramid Song
- Everything in Its Right Place
- Let Down
- Bloom
- The Numbers
- My Iron Lung
- The Gloaming
- No Surprises
- Weird Fishes/Arpeggi
- 2 + 2 = 5
- Idioteque
BIS 1: - Exit Music (for a Film)
- Nude
- Identikit
- There There
- Lotus Flower
- Bodysnatchers
BIS 2: - Present Tense
- Paranoid Android
- Fake Plastic Trees
Foto por: Rogério Grassa