Texto escrito pelo WikiBrother Leonardo Orletti
Depois de viver intensamente a idéia de sexo, drogas e rock n’ roll, ser protagonista da banda mais perigosa do mundo, estar no ápice da popularidade nos anos 90, criar sua própria banda, Slash’s Snakepit, e se reunir com parte de seus ex-companheiros de Guns N’ Roses e o incontrolável Scott Weiland para tentar fazer decolar o Velvet Revolver – uma coisa de cada vez – Mr. Saul Hudson voltou.
Slash nunca parou de verdade. Desde o primeiro registro de sua discografia, o intervalo de tempo mais longo entre dois de seus discos foi de cinco anos. O próprio Guns N’ Roses já passou 15 longos anos entre os lançamentos de seus dois últimos álbuns.
Em 2010 Slash se aproveitou de seu ótimo relacionamento no meio artístico e musical e gravou um álbum sem uma banda fixa. Só com participações especiais, das mais variadas, desde a musa pop Fergie ao respeitado e saudoso Lemmy Kilmister, grande amigo de Slash. A propósito, os dois são ingleses, mas quase americanos. Nasceram no subúrbio de Londres. Slash mora na Califórnia há muito tempo e Lemmy morou lá até a data de sua morte.
Nesse álbum todas as faixas foram compostas por Slash em parceria com o intérprete de cada uma, exceto um instrumental, composto e executado somente por ele, Dave Grohl na bateria e Duff McKagan, ex-baixista do Guns.
A primeira faixa atende pelo nome de “Ghost” e é interpretada por Ian Astbury, vocalista da banda inglesa de rock The Cult. É muito interessante perceber as influências que cada cantor traz de si mesmo ou de sua banda para a composição. É inevitável. A voz de Ian traz uma atmosfera gótica para o hard rock das guitarras de Slash e Izzy Stradlin, a dupla de guitarristas clássica do Guns N’ Roses, sem falar na letra que não poderia ser mais obscura. A combinação é perfeita!
A segunda faixa chama-se “Crucify the Dead” e é interpretada pelo príncipe das trevas Ozzy Osbourne. Quanta honra! Pra ficar melhor, reza a lenda que a letra é destinada a Axl Rose. Na época ele e Slash ainda eram brigados. Ao analisar a música, as referências ao frontman do Guns N’ Roses são inegáveis. As melodias das duas primeiras faixas são excelentes, além dos solos de Slash, de muito bom gosto.
A terceira faixa é “Beaultiful Dangerous”, interpretada por Fergie. É totalmente eletrônica, pop, R&B. Eu ficaria mais surpreso se Slash já não tivesse feito participação especial num disco do ícone máximo do pop Michael Jackson. O que dizer? Pelo menos Slash se supera no solo de guitarra mais uma vez.
A quarta música é a que eu mais gosto. Chama-se “Back From Cali” e é interpretada por Myles Kennedy, o futuro vocalista da banda solo de Slash e da turnê de divulgação do disco. É a primeira música de puro hard rock. Apesar da banda de origem de Myles ter um som mais direcionado ao metal, ele caiu como uma luva no The Conspirators.
A partir do segundo disco de estúdio eles se apresentam como “Slash featuring Myles Kennedy and The Conspirators”. Nesse disco há duas músicas em parceria com Myles Kennedy. No caso dele, em especial, ao invés da música ser influenciada pela sua origem, ele que é influenciado pela música de Slash, apesar do hard rock e o metal não serem vertentes musicais tão distantes uma da outra.
Em “Promise” o influenciador torna a ser o intérprete. Música e letra lembram muito o Soundgarden, apesar da guitarra do hard rock sempre ser presente. A voz do vocalista Chris Cornell é muito característica. Mesmo se a música não tivesse nada de grunge e metal, seria impossível não lembrar da banda anterior de Chris.
“By the Sword” é interessante.A introdução tem um pouco de cowntry ou coisa parecida, mas ela logo se revela um hard rock enraizado no blues. E o vocal do australiano Andrew é bem peculiar. Ganhou single e clipe. Uma das melhores!
“Gotten” é a faixa número sete. Apesar de ser um grande nome do cenário pop, a parceria de Adam Levine com Slash deu muito certo. O senso de melodia e a suavidade da voz do vocalista do Maroon 5 e de todo o instrumental fizeram uma balada muito bonita. Mais de quinze músicos foram envolvidos nessa gravação. Só violinistas são nove.
A oitava faixa é a mais pesada. É interpretada e tocada por Lemmy Kilmister, o contato mais ilustre da agenda telefônica de Slash. Heavy metal típico do Motorhead chamada “Doctor Alibi”. Se Lemmy cantar uma balada, não há dúvidas que ela vai ficar pesada. Suponho que seja a faixa que dê mais trabalho a Slash. O riff e o solo são animais! Nos shows dos Conspirators essa é a única música que não é cantada por Myles Kennedy. O responsável pelo baixo e vocal é o baixista da banda Todd Kerns. A letra é hilária!
A faixa seguinte é um instrumental executado por Slash, Duff McKagan e Dave Grohl. Simplesmente guitarra, baixo e bateria, batizada de “Whatch This Dave”. Destaque para a ótima melodia. Parece fácil para Slash. De fato é! Lembrando que essa composição é só dele.
“I Hold On” é cantada e produzida por Kid Rock, um cantor de cowntry e hard rock não tão reconhecido no mundo como é nos EUA. O ponto forte dele é a melodia de suas composições. Como se Slash precisasse. Essas influências de Kid são transbordantes e o solo de guitarra é impecável. Grande música! A título de informação, essa foi produzida pelo próprio Kid. O restante do disco foi produzido por Eric Valentine e Big Chris Flores.
“Nothing to Say” é a faixa 11.É interpretada por Matt Shadows, um dos nomes que está em maior evidência no cenário do metal atual. Outra faixa pesada, mas naturalmente, mais inclinada ao metal moderno. Myles Kennedy já disse numa apresentação ao vivo que essa é uma de suas músicas favoritas. A faixa é marcada pelo andamento claramente mais rápido. Aqui Slash utiliza a técnica do shredding, ou senão, chega quase lá.
Por falar em Myles, é ele quem assume os vocais em “Starlight”. Outro hard rock da melhor qualidade! Outra música fantástica e um solo de guitarra ainda mais fantástico! Ela confirma Myles Kennedy como uma das boas revelações do rock e metal da nova geração. Como canta esse rapaz!
“Saint is a Sinner Too” é a única canção que não agrada. Nem um pouco! Mesmo o disco sendo muito heterogêneo, essa música é um ponto totalmente fora da curva. Aqui a guitarra de Slash é substituída por um violão e o intérprete é um cantor indie norte-americano chamado Rocco DeLuca.
A última faixa é “We’re All Gonna Die”, interpretada pelo cantor punk Iggy Pop. A música tem influências de alguns momentos da carreira de Iggy, não é um daqueles “punkzão”. Está mais pro hard rock, mas não deixa de ser uma boa canção.
A versão brasileira do disco ainda conta com duas faixas bônus. A primeira é uma versão lamentável de “Paradise City”, interpretada por Fergie e Cypress Hill. Um verdadeiro assasinato do clássico do Guns N’ Roses. A segunda chama-se “Baby Can’t Drive” que tem Alice Cooper e Nicole Scherzinger (vocalista do Pussycat Dolls) na linha de frente. A parte boa é que a cozinha é administrada por Steven Adler (outro ex-Guns N’ Roses) e Flea do Red Hot Chili Peppers.
Esse é um dos discos com um dos melhores elencos possíveis. Grandes nomes do metal, grunge, pop, etc se uniram a um dos maiores guitarristas do mundo para gravarem um disco excelente. Gosto muito de quase todas as músicas, mas não posso discordar de quem diga que é um álbum “perdido”. É praticamente impossível uma reunião de tantos músicos vindos de estilos musicais tão diferentes ter como resultado um trabalho direto e homogêneo.
Mas nesse caso “menos é mais”. É óbvio que essa miscelânea é proposital. Slash tinha o objetivo de mostrar que ainda está vivo e respirando sem ajuda de aparelhos. Esbanjando musicalidade. E acertou o alvo em cheio! Tudo isso sem perder sua essência. Slash já tem uma identidade própria. Também por ser longo e muito melódico o disco tem um apelo comercial significativo.
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