Shaman se apresentou na Audio, em São Paulo, no último domingo, 31, em um show da turnê de divulgação do álbum Rescue, primeiro com Alírio Netto, e de comemoração dos 20 anos de Ritual, clássico da banda, na Audio.
Às 20h30, a performance foi anunciada por Marcello Pompeu, vocalista do Korzus, que subiu ao palco para agradecer à produtora HonorSounds e agradecer ao público presente. Apesar de não ser um show sold out, a Audio estava com uma ótima lotação de fãs que já denunciaram o clima de celebração na abertura do Allen Key, banda que só deixou o palco após atender aos pedidos de “Mais um! Mais um!” bradados pela plateia receptiva.
Essa energia foi bem coordenada e usada a favor do show desde a primeira canção apresentada pelo Shaman naquela noite. Sob a orientação silenciosa e firme de Hugo Mariutti, capaz de comunicar o que espera dos fãs com olhares ou simples acenos de mão, o público se tornou parte integral da apresentação desde o começo do set, quando foram convidados a preencher alguns instantes de correções técnicas com aplausos e gritos logo após a abertura com “Tribute”.
Igualmente enérgico e descontraído desde o começo do show, Alírio Netto certamente já conquistou o público na dificílima tarefa de assumir o posto deixado por Andre Matos de forma tão abrupta. Dono de uma voz poderosa que o colocou no Queen Extravaganza com aprovação de Brian May e Roger Taylor, o artista se mostra uma escolha acertada no entrosamento com os colegas e em momentos como “Fairy Tale”, mais ao final da noite, quando cantou notas impressionantes.
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O show é composto por esses detalhes da personalidade e musicalidade de cada um, com a plateia retribuindo ao chamar os nomes de Luis Mariutti, carinhosamente apelidado de Jesus desde os tempos de RockGol, Hugo e Alírio em mais de uma ocasião. Ao fundo do palco, visto como apenas uma sombra recortada em frente ao telão, o tecladista Fabio Ribeiro faz uma performance à parte ao tocar com desenvoltura e um toque de teatralidade, enquanto Ricardo Confessori é uma máquina potente na bateria que mantém toda a estrutura funcionando.
Shaman passou pela tracklist completa de Rescue em um show competente e entregue com dedicação, com especial destaque ao tributo “Gone Too Soon”, feito para o Maestro. Com um começo emocionante, com a banda quase toda ausente do palco, por exceção de Alírio no piano, a faixa marcou o momento mais introspectivo da performance.
O formato de apresentar um álbum recém-lançado na íntegra e depois seguir com um disco aclamado da discografia, prestes a ser repetido por Edu Falaschi com a turnê de Vera Cruz e Rebirth, tem as vantagens de uma experiência mais completa e a oportunidade ouvir canções que, com o tempo, provavelmente não serão reproduzidas novamente, algo único também para a banda, além de matar as saudades de outros tempos.
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Apesar disso, momentos como a tentativa de Alírio de jogar o refrão de “Resilience” ao público sem uma resposta calorosa o suficiente (“Precisam aprender a letra”, ele brincou, sem se abalar) e a duração de quase três horas de show, com um intervalo de 10 minutos entre ambas as partes, fazem questionar se realmente há necessidade de apresentar o lançamento mais recente integralmente ou se não seria mais prudente selecionar apenas os destaques do novo trabalho antes de partir para o grande destaque da noite.
Uma coisa é certa: a banda e os fãs parecem entrar em uma nova atmosfera quando a intro de “Ancient Dreams” anuncia a chegada de Ritual ao show. De repente, parece que o show tinha acabado de começar, com a plateia cantando cada uma das palavras, com “Distant Thunder” como o primeiro grande momento da noite, com a casa inteira pulando – e com os refrões entregues seguramente ao público ávido por soltar a voz.
Os convidados especiais ficaram para o final, com o retorno de Karina Menascé, da Allen Key, para dividir os vocais com Alírio em “Blind Spell”, que marcou também a chegada do baixista Fernando Quesada substituindo Jesus. O músico ficou ainda para “Ritual”, com grande desenvoltura e bem recepcionado pelo público.
Na sequência, a descontração de Alírio se mostrou bem vinda mais uma vez ao apresentar a banda com anedotas sobre cada um dos colegas, chamando Hugo de “fofo” e um dos melhores compositores que ele já conheceu, e Luis tendo um momento emocionado de conversa ao contar sobre os problemas de saúde e duas cirurgias que enfrentou antes da apresentação, aproveitando para elogiar o novo frontman: “Não tinha pessoa mais certa”.
Na reta final do show, chegaram os convidados que faltavam: Bruno Sutter e Rafael Bittencourt pareciam integrantes estendidos da banda em “Pride”, criando um momento ao estilo de Helloween com os vocais intercalados e uma performance poderosa. Quando o criador de Detonator deixou o palco, Rafael continuou ali para a surpresa de tocar “Carry On”, do Angra, para alegria dos presentes.
A noite chegou ao fim em alto nível com “Turn Away”, do álbum Reason (2005), selando a relação de apoio mútuo entre público e banda em São Paulo, mostrando como é possível navegar entre passado e presente e prosperar.
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