Segundo dia da nossa maratona musical em Austin e depois da já quase ritualística busca por comida grátis em alguns dos muitos espaços ocupados na cidade por empresas e iniciativas participando do SXSW, começamos nossas atividades relacionadas à música em si encontrando o pessoal da Akeem Music, pessoal gente boa de Porto Alegre, sobre quem ainda vou falar em um dos próximos relatórios. Eles compartilhavam nosso plano de ir conferir o show do trio paranaense da Tuyo em um lugar chamado Empire Garage, onde também aconteceria um pouco mais tarde a festa de abertura do Festival de Música.
No Empire Garage, fora um certa confusão na fila de entrada e a decepção sobre a tal Festa da Música liberar dois míseros drinks cortesia, a noite seguiu bem divertida. No show da Tuyo, apesar da presença de alguns grupos de brasileiros aqui e ali, a constituição maciça do público era de não-falantes de português, e por isso mesmo, o mérito da banda em engajar e levantar esse público me parece maior ainda. Mais que a poesia das letras em português, em Austin o que falou alto foram as melodias envolventes, a presença de palco e o carisma do trio curitibano.
Alguns minutos antes do início do show, falei com um americano estiloso usando um chapéu de cowboy e muito glitter, que aguardava bem perto do palco e ele sequer sabia quem estava para tocar mas estava ali para sentir a “vibe”. Quando avistei de longe, esse mesmo cara, dançando sozinho super empolgado no final do show, não pude deixar de recuperar um pouquinho de fé na união dos povos e tribos do mundo.
Depois da Tuyo ficamos ali pela Empire Garage e além dos camaradas da Akeem Music encontramos também o Gabriel Gonti, de quem também vamos falar mais adiante no Festival. Sempre legal ver em ocasiões assim os brasileiros apoiando e conferindo o trabalho dos colegas.
Emendamos então ali no mesmo palco outros dois shows de mulheres das mais interessantes. O eletro-pop da sul-coreana Cifika e, por outro lado, a sul-africana Moonchild Sanelly com seu autodeclarado future gettho punk. Como eu disse, duas mulheres das mais interessantes, mas em nome da otimização do texto aqui, vou me limitar grosseiramente a dizer que Cifika passa uma coisa mais Björk (no bom sentido) enquanto Moonchild é uma mistura de energia, ritmo, sexo, sotaque sul-africano e uma cabeleira azul exuberante.
Já fora da Empire Garage, depois de comer um Kung Pao Chicken dividindo a mesa na rua com um canadense aleatório, fomos encerrar nossa noite de cobertura na Flamingo Cantina, segundo uns amigos locais que fizemos mais cedo, um lugar clássico em Austin para “stoners”, como eles se referem aqui aos camaradas que apreciam o consumo da cannabis para fins recreativos.
Encontramos a Flamingo Cantina um tanto quanto vazia na nossa chegada mas ficamos felizes em perceber que quando soaram os primeiros beats da rapper paulista Bivolt, a pista encheu o suficiente pra empolgar e dali em diante só cresceu. Chamar Bivolt de rapper é um tanto quanto reducionista e a própria mensagem de dualidade que ela traz no nome fala disso. Ela faz rap, ela canta com doçura, canta com potência, ela dança e faz graça, tudo ao mesmo tempo.
E da mesma forma que observamos com o pessoal da Tuyo, foi bem bonito testemunhar o público gringo se deixando levar e sentindo a música sob o comando da Bivolt, sem necessariamente entender as palavras.
Era isso por hoje, amanhã tem mais!