A carreira de Rita Lee é marcada pela rebeldia e resistência contra o autoritarismo. Censurada ferrenhamente pela ditadura e até presa nesse período nefasto do Brasil, a maior representante do rock nacional não mudou de tom com o passar do tempo. Em 2012, no show que deveria ser o último da vida, ela foi detida por defender os fãs de abordagens policiais truculentas na plateia.

Esse momento polêmico, que dividiu a opinião pública na época, aconteceu no show de Rita Lee no Festival de Verão Sergipe, em Aracaju, em 28 de janeiro. A artista tinha anunciado a aposentadoria dos palcos há alguns dias quando se apresentou no evento, inicialmente programado como o último show da carreira.

Então com 64 anos, Rita interrompeu o show ao perceber uma movimentação de policiais militares na plateia, cujo público estimado era de 20 mil pessoas. A ação seria para apreender fãs que estariam fumando maconha, mas as abordagens foram truculentas e desnecessárias, como a cantora prontamente denunciou.

“Vocês não tem direito de usar a força na meninada que não está fazendo nada! Cadê o responsável? Eu quero falar. Eu tenho direito, esse show é meu, não é de vocês. Esse show é minha despedida do palco e vocês continuam tendo que guardar as pessoas, e não agredir, seus cachorros! Coitados dos cachorros… Cafajestes!”, bradou Rita Lee no palco. “Eu sou do tempo da ditadura, vocês acham que eu tenho medo?”

Na ocasião, os policiais foram chamados de “cavalos” e “filhos da p**a” pela cantora, indignada pela ação. Ao todo, o show ficou paralizado por mais de cinco minutos, enquanto Rita Lee discutia com a força policial presente no evento, que formou um cordão em meio ao público. 

“Não pode ser, [isso tudo] por causa de um baseadinho? É isso? Cadê o baseadinho para eu fumar aqui agora? Eles não vêm me pegar! Vem cá, gatos, gatinhos! Ah, vão embora, não, não”, ironizou antes de pedir “uma salva de vaias” para os policiais.

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Os policiais registraram boletim de ocorrência contra a cantora, acusada de desacato à autoridade e apologia ao crime. Intimada a prestar esclarecimentos à Corregedoria da Polícia Militar, às 9h da manhã do dia seguinte, a cantora recusou e foi levada à delegacia.

De acordo com o Correio Braziliense, Rita Lee afirmou em depoimento que “todo o ocorrido se deu como uma reação emocional, provocada pela ação truculenta desnecessária dos PMs”. 

Os policiais militares presentes no show seguiram com um processo por desacato contra a cantora. Em 2013, Rita Lee foi condenada a pagar indenizações por danos morais causados a diversos envolvidos na confusão. Segundo o G1, até agosto daquele ano, 35 policiais processaram a cantora, que foi condenada a pagar indenização a sete deles.

Em nota, a assessoria de Rita explicou alguns pormenores dos processos que ainda corriam na época. “40 policiais militares de Sergipe moveram ações pedindo indenização a Rita Lee, num total de 42 processos (alguns deles são coletivos). Rita Lee ganhou 17 processos, perdeu 20 e os demais encontram-se em andamento. Embora tenha se expressado de modo forte na ocasião do show, sua única intenção era defender o público da ação agressiva de certos policiais, sem pretender, com isso, ofender a quem quer que fosse”, afirmaram

A despedida para os palcos foi adiada. Depois do show em Sergipe, Rita Lee anunciou uma turnê comemorativa de 50 anos de carreira e fez o último show da vida aconteceu no aniversário de São Paulo, em apresentação histórica no Vale do Anhangabaú, em 25 de janeiro de 2013.

Relembre cenas do episódio marcante da reta final da carreira de Rita Lee nos palcos. 

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