Texto por Marcelo Gomes

A 15ª edição do Festival Setembro Negro aconteceu nos dias 7, 8, 9 e 10 de setembro no Carioca Club em São Paulo. O terceiro dia contou com Sodom, Holocausto Canibal e mais – confira aqui como foi.

O último dia de festival começou mais cedo, a primeira banda estava marcada para o meio dia.  Horário meio ingrato, afinal era domingo, horário de almoço e tudo isso depois do massacre que foi o show do Sodom que acabou quase a 1 da manhã. Claro existe um cronograma do festival mas acaba sendo difícil de acompanhar.

Como o show não pode parar, quando o Inferno Nuclear começou, haviam poucas pessoas dentro da casa. Isso não diminuiu o empenho da banda paraense que faz um thrash cheio de criticas cantado em português. 

A próxima foi o Siegrid Ingrid, banda conhecida de São Paulo que retornou há poucos anos à atividade depois de ficar parada por mais de 15 anos. Prestes a  lançarem um novo disco intitulado “Back From Hell”,  o quinteto entregou peso, agressividade e muita energia, tudo isso comandado pelo icônico vocalista Mauro Punk.

Uma grata surpresa foi o Miasthenia, banda de Brasília (DF) de black metal que é liderada pela vocalista/tecladista Susane Hécate e Thormianak (guitarra). Dentro de sua música, incluem o teclado na qual criam várias atmosferas, além de alternar o vocal gutural com o limpo e tudo isso cantado em português. A combinação chama a atenção por fugir do tradicional, os arranjos são de bom gosto fazendo a banda cair rapidamente nas graças do público. 

Ninguém pode negar que a cena de black metal grega está cheia de boas bandas. Um exemplo disso é o Lucifer´s Child que reúne ex-membros do Rotting Christ e Nightfall, respectivamente, George Emmanuel e Stathis Ridis. Apesar de ser uma banda relativamente nova e com dois álbuns apenas, os gregos já têm uma base de fãs fiéis que seguem o trabalho deles. Com um show coeso, pesado e arrastado como pede o estilo, mantêm com dignidade o legado da cena grega.

Mantar, o duo alemão que veio a seguir fez um show que não empolgou muito. Nem com os pedidos do vocalista/guitarrista, Hanno Klanhardt, o público se animou a responder. A apresentação seguiu morna até o fim, muitos aproveitaram para tomar um ar e descansar nesse momento.

Diferentemente da banda anterior, o Acid King, banda de stoner rock americana, conseguiu uma reação do público logo nos primeiros acordes. Afinação baixa e forte influência de Black Sabbath geralmente geram uma boa aceitação. Enquanto Lori S. (vocal/guitarra) cuidava dos riffs e solos, Rafa Martinez proporcionava uma base solida para as canções. Foi um bom show para quem curte algo mais psicodélico.

Com a casa mais cheia, o Assassin veio mostrar a potência do thrash alemão. Iniciaram com “Fight” e “Breaking The Silence” e o timbre de guitarra do Jurgen Scholli parecia ter saído direto de uma pedaleira ruim dos anos 90. Tirando esse detalhe que perdurou por todo o show, a apresentação dos alemães foi excelente, com direito a várias interações em português do simpático baixista, Joachim Kremer e várias rodas na pista. Os caras fizeram até uma jam para incluir um palavrão  em português em uma música, no caso “fdp”. Estavam bem à vontade e fizeram um baita show.

O Cancer veio a seguir e não decepcionou. Os ingleses calcaram o setlist principalmente nos discos To The Gory End, Death Shall Rise e Shadow Gripped.  Logo de início, começaram com duas pedradas, “Blood Bath” e “Tastelass Incest”. A devastação sonora que proporcionaram demonstrou não apenas a habilidade musical dos integrantes mas também a resiliência e dedicação do John Walker (vocal/guitarra) à sua banda. 

O público acompanhou atentamente a execução de “Dead Shall Rise”, Into The Acid”, “Down The Steps” que mais pareciam uma aula de death metal. Teve espaço para uma música nova,  chamada “Enter The Gates” que remete muito aos primeiros trabalhos da banda. O show chega ao fim com “Hung, Drawn & Quartered” e pode se dizer que a apresentação foi uma celebração ao death metal, tocado com uma inabalável ferocidade.

No mundo do metal extremo, poucas bandas deixaram uma marca tão impactante como o Hellhammer. Com um som inovador para a época, eles se tornaram uma grande referência para o metal extremo. Como a banda já não existe mais, o Tom Warrior (vocal/guitarra) formou o Triumph Of Death para homenagear as canções icônicas do Hellhammer. 

Acompanhado por André Mathieu (guitarra), Tim Wey (bateria) e Jamie Lee Cussigh (baixo), Tom Warrior  subiu ao palco fazendo seu famoso grito de “Hu” que foi respondido de imediato. Iniciaram com “The Third Of The Storms”, seguida por “Massacra” e “Maniac”. Foi o que bastou para serem ovacionados. 

A competência dos músicos durante a apresentação, provou a reverência da banda pelo legado do Hellhammer. Era incrível como aquelas músicas estavam soando bem. O som inconfundível do baixo Rickenbacker da Jamie se faz presente antes de “Bloody Insanity”, faixa que foi cantada competentemente pelo guitarrista  André. A história do metal extremo sendo passada diante dos nossos olhos. 

E não parou por aí, foi uma sequência absurda de clássicos, dentre eles, “Decapitator”, “Crucifixion”, “Reaper”, “Agressor” e “Revelation Of Doom”. O show correu bem até esse momento mas quando estavam tocando “Messiah”, uma grande confusão se desencadeou na pista culminando numa grande briga. A segurança do Carioca Club sequer apareceu e mesmo com a turma do deixa disso, foram  quase 2 minutos de pancadaria. Infelizmente, essas cenas lamentáveis que pareciam ter sido extintas dos shows de rock/metal têm se tornado recorrentes, o que só prejudica a imagem da cena.

Ao que parece, a banda não percebeu o que estava acontecendo, já que o fato ocorreu do meio da pista para trás e seguiu o show normalmente que estava quase chegando ao fim. Encerraram com “Visions Of Mortality” e “Triumph Of Death”.  A apresentação do Triumph Of  Death foi uma ressurreição triunfante do espírito sombrio do Hellhammer  que serviu para consagrar definitivamente o Festival Setembro Negro.

Tirando a questão da briga que aconteceu nos minutos finais do festival e o calor sufocante dentro do Carioca Club, o saldo foi mais que positivo e uma experiência fantástica. Os shows foram ótimos e quase sem atrasos, o som estava bom em 99% das bandas e você tinha a liberdade para sair quando quisesse. Resumindo, quem foi teve uma verdadeira imersão dentro do mundo da música pesada na qual  reuniram bandas do mundo inteiro num festival que já está em sua 15ª edição que só vem se consolidando e ganhando mais fãs.

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