Texto por Pedro Tiepolo

Com uma carreira de 25 anos, o vocalista e líder Josh Homme é a única constante nas inúmeras diferentes formações do Queens of the Stone Age, banda que já incluiu desde Mark Lanegan até Dave Grohl como membros. Essas mudanças na formação não são por acaso, aparentando ser uma decisão intencional para evitar a inércia e continuar experimentando diferentes sonoridades. O novo álbum, In Times New Roman…, 8º disco de estúdio do grupo, é curiosamente a primeira vez em que a formação da banda continua a mesma por dois álbuns consecutivos. Inicialmente, isso poderia ser interpretado como um sinal de que a banda se acomodou na formação, encontrando uma certa zona de conforto; mas conforto é a última palavra que pode ser usada para descrever a situação em que esse álbum foi feito.

A vida pessoal de Josh Homme foi tumultuosa e trágica nos 6 anos desde Villains, último álbum do grupo. Além da morte de diversos amigos próximos nesse período (incluindo Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters), ele foi publicamente exposto na mídia durante meses em um divórcio litigioso, tendo que disputar a guarda de seus filhos em um caso que culminou em uma ordem de restrição contra sua ex-esposa. Para completar a sequência de eventos trágicos, Homme ainda revelou recentemente que nesse mesmo período foi diagnosticado com câncer, agora já tratado por uma cirurgia bem sucedida.

Toda essa tristeza que o vocalista viveu, como se pode imaginar, permeia as 10 faixas do novo álbum de sua banda. Mas, ao invés de assumir um tom depressivo e de derrota, o que surpreende é a maneira não convencional com que Homme aborda o tema. Ele trata a sua situação de um jeito irreverente e com certo humor, apontando o absurdo de todas as tragédias que viveu, e que também são inevitáveis na vida de todos nós. É um lugar de aceitação da realidade, uma perspectiva que é bem definida na faixa “Carnavoyeur”: “Quando não há nada que eu possa fazer, eu sorrio e aproveito a vista”.

Musicalmente, a formação atual da banda demonstra toda sua maestria e sintonia construída ao longo dos anos, com instrumentais que parecem refletir perfeitamente o estado mental de Homme: faixas que lembram a sonoridade sombria do disco Lullabies to Paralyze, como a intrigante “Sicily”, coexistem perfeitamente com músicas sobrecarregadas de energia, como o lado punk de “What The Peephole Say”, o estilo Bowie anos 70 de “Made to Parade”, ou o imediatismo de “Paper Machete”. As letras atuam como o fio condutor de todo o álbum, e mesmo com seu bom-humor, sacadas e trocadilhos, Homme se mostra mais vulnerável que nunca, tratando de temas pessoais pesados e de modo muito mais direto do que nos outros discos do grupo.

O disco culmina em um final intenso em “Straight Jacket Fitting”, uma imensa faixa de nove minutos com diversas partes diferentes, passando por ritmos envolventes e orquestrações dramáticas. É um ponto alto do álbum tanto musicalmente quanto pelas letras, que servem como síntese de todo o álbum. Depois de um verso em que denuncia de modo indignado todos os problemas que vê na sociedade, Homme confessa: “Me segura, estou confuso e não quero ir embora”.In Times New Roman… é um disco cativante, profundo e intenso sem se perder na melancolia da realidade. Como o vocalista afirmou numa entrevista, “estamos no Titanic, e afundando… mas enquanto isso, a banda está tocando. O que você quer ouvir?”.

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