O Dream Festival, que inicialmente era apenas um show do Dream Theater e se expandiu para um festival com diversos gêneros do metal, aconteceu neste sábado (07) em São Paulo.
No Sambódromo do Anhembi, um espaço reduzido em comparação a outros grandes shows que acontecem por lá, reuniu um público de diferentes tribos do metal. O evento, por exemplo, começou com a sinfonia operística dos italianos do Turilli/Lione Rhapsody, que chamou a atenção dos que iam chegando no festival debaixo de sol.
Pelas camisetas, era nítido que a maioria dos fãs ali era mesmo do Dream Theater, com grupos menores de apoiadores das bandas que vieram antes. Muito disso, talvez, deva-se ao fato do evento só ter virado um festival depois de anunciado o show das lendas do metal progressivo.
Quando o Sabaton entrou no palco e o sol já começava a dar uma trégua, a tribo do power metal se fez presente. Joakim Brodén, trajando o tradicional figurino com placas de metal no torso, mostrava-se feliz por estar no Brasil e ver o alcance da música sueca, cujas letras são regadas por histórias de combates e guerras mundiais.
Desde o início, com “Ghost Division”, o grupinho de fãs na pista fazia um mosh pit animado, que misturava empurrões com abraços, ao ritmo dos hinos de guerra. Talvez eles não percebessem, dada a empolgação, mas a banda foi muito prejudicada pela péssima qualidade de som do evento até ali. Os PAs abafavam o som e depois soltavam, atrapalhando, principalmente, a bateria e o vocal.
Mesmo assim, os fãs cantavam em coro por toda a setlist. Como surpresa, o vocalista anunciou: “Nós já falamos muito sobre a história da Suécia hoje. Que tal falarmos sobre a história do Brasil?”, e tocaram “Smoking Snakes”, sobre a incursão do exército brasileiro na Segunda Guerra Mundial. Com o refrão “Cobras Fumantes, eterna é sua vitória”, assim mesmo em português.
A noite já havia chegado enquanto o público esperava pelo metalcore do Killswitch Engage. A equipe técnica testava, de novo, todos os microfones, com um dos roadies da banda anunciou no: “Vocês vão ter que esperar um pouquinho mais. Estamos deixando isso aqui perfeito, porque estava realmente uma merda”, o que arrancou risos da plateia.
Jesse Leach e sua banda, então, entraram com um pouco menos de dez minutos de atraso. Se até ali as bandas eram muito mais performáticas e cheias de coros e vocais operísticos, o Killswitch trouxe o fino do metalcore, com as distorções de guitarra, os blast beats e os guturais.
Começando com “Unleashed”, do mais recente álbum Atonement, e emendando na já clássica “Hate By Design”. É impressionante o alcance de Jesse Leach, principalmente depois da cirurgia nas cordas vocais pela qual foi obrigado a passar no começo do ano. Quando ele retornou para a banda, substituindo Howard Jones, muitos disseram que Leach não chegava ao nível de seu companheiro. Agora, é impossível dizer isso, uma vez que a performance de Jesse é perfeita. O Killswitch está, definitivamente, no auge.
Com uma porrada atrás da outra, “My Last Serenade”, “This FIre” e “Reckoning” deram lugar a “I Am Broken Too”. A faixa foi precedida por uma dedicatória a todos que passam por doenças como depressão, ansiedade e vícios, tornando aquele um momento de intimidade do vocalista com o público.
O show do KSE é cru, rápido, poderoso e tecnicamente impecável. Jesse ainda dedicou músicas a Derrick Green, que estava assistindo ao show, e ao Sepultura. E encerraram a setlist com um incrível cover de “Holy Diver”, como uma homenagem a Ronnie James Dio.
Curioso que durante as performances do Sabaton e do Killswitch era possível ouvir o famoso “chega, próxima banda…” de fãs do Dream Theater. Muito provavelmente por causa do lineup meio esquizofrênico do festival, com bandas de gêneros que não realmente conversam.
Depois do Killswitch, o palco começou a se transformar. Luzes de led e projeções foram espalhados por toda a extensão, preparando para o espetáculo que o Dream Theater viria apresentar.
James LaBrie, Jordan Rudess, John Petrucci, John Myung e Mike Mangini entraram no palco para o êxtase do público. A setlist de três horas contemplou, na primeira parte (de uma hora), clássicos como “Untethered Angel”, “A Nightmare to Remember”, e “Fall Into the Light”. Não é preciso dizer como é impressionante a habilidade técnica de todos os membros.
A banda cria o clima de um verdadeiro “teatro do sonho”, auxiliados pelas projeções e o jogo de luz. A partir dalí, o Dream Theater apresentou o disco Scenes From a Memory na íntegra, o disco conceitual que conta uma história com regressões espirituais e assassinatos.
O público berrava e comemorava cada solo, virada de tempo e nova música que a banda apresentava. A pergunta que fica é mesmo “como eles fazem isso?”. A duração das músicas é grande, do show maior ainda. E não tem uma nota errada ou uma pausa para os gênios descansarem.
Mesmo com um lineup diverso, o Dream Festival acabou por agradar cada tribo que ali se reunia. Apresentações distintas coroaram uma celebração do metal em todas as suas formas.
Confira as fotos exclusivas feitas por Marta Ayora: