Texto por Helena Meireles, do Preto No Metal
A ideia para que se escrevesse esse texto, primeiramente, era que fosse recomendando algum som, algum projeto… Alguma recomendação positiva. Mas, dado o cenário de alguns dias atrás, nós tivemos que mudar o rumo da situação e escrever algo um tanto quanto… tenso.
Pouco ali depois do início de março, chegou tanto ao Preto no Metal quanto na Afroheadbanger (página administrada por uma das integrantes do Preto) uma denúncia de racismo em um festival de metal, que por sua vez, aconteceu em Santa Catarina. Uma mulher, a vítima, denunciou um homem branco que, após se envolver em brigas e discussões (inclusive com direito à tentativa de agressões usando um estilete), a xingou de diversas coisas; não bastante, terminou o “showzinho” se direcionando para a vítima dizendo a ela que (SIC) “voltasse para a senzala, pois ela é uma ‘preta nojenta’”. Não é necessário tecer aqui o quão pesado é o teor desse tipo de comentário, e quantas camadas horríveis ele possui.
O que mais espanta é saber que esse tipo de agressão, principalmente contra mulheres negras, é comum. O absurdo segue sendo normalizado. Sabendo que os espaços culturais, incluindo festivais de metal e música extrema, são recortes da sociedade, essa situação não seria diferente por ali (e em vários outros espaços que comportam eventos de metal/música extrema). São cada vez mais frequentes relatos de mulheres negras expostas aos mais diversos tipos de violência, desde agressões verbais até agressões físicas, e todas são sustentadas pelo mesmo pilar: o racismo. Então, mulheres pretas estão vulneráveis duas vezes mais nesses meios, sendo atravessadas tanto pelo racismo quanto pelo machismo e/ou misoginia.
Não tem como negar o quanto a situação negativa para mulheres pretas dentro da cena do metal e da música extrema é alarmante. Aliás, a ausência dessas mulheres nos eventos é bastante sintomática, justamente por conta das diversas violências que elas estão cientes que sofrerão nesse espaço. Para além disso: quem irá proteger as mulheres pretas dessas violências? Parte-se do pressuposto que:
- Caso essa vítima não responda (leia-se “reaja”) ao que acontece, ela abre um leque de possibilidades para que esse ódio siga acontecendo;
- Caso ela responda, ainda corre risco de ser taxada como “agressiva”, “selvagem” ou “barraqueira”; afinal, é assim que o mundo enxerga mulheres pretas.
Lembra daquela conversa sobre privilégio branco que sempre esbarra-se quando o assunto é racismo? É possível usar desse privilégio para se confrontar racistas, da maneira que for necessária. E é um passo enorme quando falamos sobre proteger as mulheres pretas. Seja no rolê de metal ou não. Inúmeras mensagens chegam tanto ao Preto no Metal quanto na Afroheadbanger de mulheres pretas comentando que abandonaram rolês, shows e afins por conta do racismo escancarado que sofrem, além da pitada sutil de misoginia.
Imagina ir se divertir e ter que lidar com ódio gratuito? Imagina ter que lidar com um patife contrariado te mandando “voltar para a senzala”, num momento que deveria ser de descontração e distração? Imagina? Imagina… Afinal, quem protege as mulheres pretas?
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Link da última notícia sobre o Preto no Metal na mídia: G1 RS