Da Legião Urbana com “Que País É Esse?” em 1987, até Gabriel O Pensador em 1992, para Fernando Collor, e em 2018, para Michel Temer, com “Tô Feliz (Matei O Presidente)”, utilizar a música para criticar assuntos políticos no Brasil é uma prática, inconstestavelmente, utilizada com a premissa que a arte é uma forma de liberdade de expressão. No entanto, rumores da tentativa de censura da primeira-dama Michelle Bolsonaro sobre a faixa “Micheque”, do Detonautas, fazem principalmente hoje, 28, no Dia Nacional da Liberdade de Expressão indagar: quais são os limites da arte e de sua liberdade?

“Hey, Michelle, conta aqui pra nós: a grana que entrou na sua conta é do Queiroz?”, indaga a primeira frase da música “Micheque”, que, no dia 04, foi lançada com um vídeo que explícita ainda mais símbolos vínculados ao presidente Jair Bolsonaro, tais como laranjas, se referindo ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, e cabeças de gado, apelido adotado por alguns contra o político sobre seus fiéis seguidores.

O lançamento, que segundo a VEJA, com um levantamento feito pela consultoria Quaest, o apelido foi replicado cerca de 9 milhões de vezes no Facebook, Twitter e Instagram entre os dias 22 de agosto e 21 de setembro, se tornou alvo de críticas dos apoiadores do governo, e também, de fãs que afirmaram que a banda “não deveria falar de política, e só fazer música”, tarefa, segundo o vocalista Tico Santa-Cruz em suas redes sociais, prontamente atendida por ele e pela banda, tendo como resultado a polêmica faixa.

“Se você veio aqui para dizer que ficamos quietinhos durante os 16 anos passados, escrevendo músicas apenas de amor e cotidiano, não perca seu tempo, desde 2002 que a gente escreve também sobre críticas político-sociais. Foram 12 durante os governos petistas, 2 durante o breve governo [Michel] Temer e 2 pro sem partido até o momento”, escreveu a banda respondendo as críticas no vídeo do single.

Além da onda de xingamentos das redes sociais, na última semana, uma notícia surge: segundo a VEJA, a primeira-dama estaria “estudando” processar e derrubar o clipe e vídeo de “Micheque”, e na última quinta-feira, 24, foi pessoalmente prestar queixa à respeito de supostas ofensas na Internet que podem ser configuradas como crime de honra, informa o G1.

Sobre a possibilidade de ter o conteúdo retirado das redes sociais por Michelle, Santa Cruz afirma em seu Twitter que tal ato parece se tratar de censura, e em entrevista à coluna de Chico Alves, na UOL, afirma a respeito da indagação e crítica que a música traz, “Ela [Michelle] deveria cobrar do Presidente uma explicação, pra que deixe de ser o alvo, não cobrar de quem pergunta.”

Hoje, em resposta à UOL, o Planalto afirmou que não irá comentar a possibilidade da primeira-dama processar o Detonautas, o que fez Tico indagar publicamente: “Por que será?”, parecendo reforçar as suspeitas de que uma tentativa de censura estaria em curso em pleno 2020.

A tentativa de derrubar conteúdos que possuam posições políticas baseadas em fontes verdadeiras e que não apresentam intolerância, ou seja, estejam dentro do que se configura um discurso de ódio, não é justificada, passando por cima do que faz a arte, e principalmente a música, um veículo de comunicação tão poderoso e vital. Essa forma de arte consegue atingir milhares de pessoas com uma mensagem que pode fazer o público se apaixonar mais ainda com canções românticas, aproveitarem a vida com faixas entusiasmantes, e sim, também exercer o direito de todos os cidadãos de refletir sobre a sociedade em que vivemos através de músicas que elogiam ou críticam os governantes e seus atos para manter ou rever nossas escolhas sobre quem nós deixaremos nossas vidas em mãos na próxima eleição.

Confira abaixo o clipe de “Micheque”, do Detonautas.

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