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Pentagram

Pentagram. Crédito: Divulgação

Pentagram celebra 50 anos de carreira com show intimista no Rio de Janeiro

Com abertura da banda chilena Black Messiah, Pentagram encerra sua primeira passagem pelo Brasil com apresentação memorável no Solar de Botafogo

Texto por Ana Clara Martins

Após mais de dois anos desde o primeiro anúncio da turnê pela a América Latina, a banda norte-americana Pentagram finalmente comemora os seus 50 anos se apresentando pela primeira vez no Rio de Janeiro na última terça-feira, 13. Uma banda tida por fãs como lendária, não só pelo seu doom metal pioneiro, pesado, arrastado e tenebroso, nem apenas pela história conturbada da banda e de seu frontman, Bobby Liebling; mas também pelo fato de que, ao longo dessa trajetória, shows como esse não foram ocorrências comuns.

Formada no início dos anos 70, no vácuo de bandas como UFO e Black Sabbath, Pentagram não lançaria o seu primeiro LP até os anos 80. Acostumado com as mudanças na formação, o único membro constante em toda a história da banda é Bobby Liebling, vocalista e compositor excêntrico. Cercado de controvérsias, incluindo uma recente prisão em 2017 por agressão e uma extensa batalha com as drogas, retratada no documentário Last Days Here de 2011, Bobby é o responsável por grande parte daquilo que torna o grupo impressionante, ainda que discutivelmente trágico.

Simultaneamente esquecidos e seminais, Pentagram atingiu grande parte do público apenas após o documentário, mas esteve presente desde o início do gênero. Dessa forma, a banda assume uma posição que permite encontros muito especiais e íntimos com seu público. Encontros que seriam muito mais complicados para fãs de outras bandas da mesma época e influência. Em um evento relativamente pequeno, nos moldes informais dos shows de metal, se reuniam fãs apaixonados e ansiosos para realizar o desejo de ver um ídolo ao vivo.

Nesse ambiente de expectativas, poucas eram direcionadas especificamente à banda de Santiago, Black Messiah, encarregada da abertura do espetáculo. Sem um álbum oficial lançado e com aparentemente poucos ouvintes antigos presentes, os chilenos foram recebidos, inicialmente, por poucos espectadores. Ao longo da apresentação, entretanto, ganharam a atenção do público com sua sonoridade sombria reminiscente ao metal clássico. 

Com um visual mais parecido com o das bandas de thrash metal dos anos 80 do que o esperado de uma banda de doom metal, os membros da Black Messiah entregaram uma performance confiante e entusiasmada. Os vocais de Rodrigo Pérez complementam as guitarras distorcidas de Felipe Troncoso e Rodrigo Echeverría, e a sintonia entre a baixista Nancy Gomez e o baterista Ricardo Letelier contribuíram para uma execução bem amarrada das músicas. Com a conclusão deste show de abertura, o público estava ansioso para a apresentação final da aguardada turnê latino-americana do Pentagram.

Os integrantes da formação atual do Pentagram subiram ao palco um a um, todos recebidos com calorosas boas vindas cariocas. O primeiro a aparecer foi o guitarrista Matt Goldsborough. Então o experiente baixista Greg Turley, seguido da mais recente adição à formação, o baterista Ryan Manning. Por último, recepcionado com muito barulho, como reservado apenas às verdadeiras estrelas do rock, o vocalista Bobby Liebling. Com um figurino colado e espalhafatoso, Bobby provou que o tempo fez não só a ele, mas também  ao Pentagram, muito bem. Com o vocal poderoso, carregado de melancolia sensual, e uma atitude divertida definida pelas danças inusitadas, expressões exageradas e comentários bem humorados entre as canções, Bobby cantou com habilidade e experiência. 

Da abertura, “The Ghoul”, do primeiro disco; ao bis, “Forever My Queen”, o hit da banda, o público navegou entre diversas emoções e momentos. Dos que cantaram juntos cada palavra, aos que se desligaram do coral para se juntar ao mosh, todos pareciam muito conectados com a banda. Os músicos por sua vez, muito conectados entre si. Liebling e o público dançavam ao som dos solos hipnotizantes de Goldsborough e o ambiente intimista permitia uma interação direta entre a banda e os presentes. Do palco, os integrantes da banda cumprimentavam os fãs com soquinhos e gestos, e entre diversos pedidos da plateia, davam risada quando alguém “adivinhava” qual música viria a seguir. “Agora não preciso mais falar o que vamos tocar!”, comentou Bobby antes de explodir na execução de Petrified, logo após um pedido pela canção reverberar pela sala. 

Se a expectativa era ver um bom show de doom metal de perto, o Pentagram nos deu um show incrível, o mais próximo possível, contando inclusive com uma eventual invasão do palco, não existia uma separação rígida entre a banda e a plateia. Greg e Matt estenderam seus respectivos instrumentos para que os fãs pudessem tocá-los e criar a última parede de som distorcido da noite. Ryan distribuiu baquetas e setlists autografados, e no fim do show, depois de muitas palhetas distribuídas aos presentes, o clima era de realização. Os músicos pareciam satisfeitos de estarem concluindo com sucesso a turnê e o público realizado por presenciar em primeira mão a grandeza do Pentagram. Depois de uma primeira visita como essa, torcemos para que esses não sejam os últimos dias do Pentagram por aqui.

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