Banda californiana volta ao país essa semana para quatro shows

Entre as décadas de 1970 e 1980, nasceu o movimento punk que trouxe notoriedade para bandas como Ramones, The Clash e Bad Religion. De suas ideologias anarquistas e revolucionárias, o subgênero punk rock nasceu. Dele, diversas bandas começaram a seguir o estilo DIY (Do It Yourself, ou seja, faça você mesmo, em português) e entre elas estava o Pennywise.

Formado em 1988 e na ativa até os dias de hoje, o grupo californiano se inspirou na criatura do livro de horror It, de Stephen King, para seu nome e desde então, com suas letras politizadas e seu som rápido, é um dos maiores destaques da cena underground norte-americana.

Com um sucesso de 30 anos, a banda passou por maus bocados, como o suicídio do primeiro baixista e principal compositor, Jason Thirsk, em 1996, quando tinham apenas três discos lançados. Mas a banda conseguiu se recompor com a contratação de Randy Bradbury, que já havia trabalhado com a banda como músico temporário.

Agora, anos depois, Bradbury é um dos pilares do grupo e um dos responsáveis por manter o Pennywise o ícone do punk rock underground que é hoje. “Quando você começa fazer musica, você não imagina que vai poder fazer por tanto tempo”, conta o baixista em entrevista ao Wikimetal. “Temos muita sorte de ainda estar fazendo que fazemos e você só percebe quando olha pra traz e vê tudo que você passou.”

Nessa semana, o grupo chega ao Brasil com a a turnê We Are One Tour promovendo seu disco mais recente, Never Gonna Die, lançado esse ano. As apresentações acontecem em Fortaleza (29/11), Rio de Janeiro (30/11), São Paulo (1/12) e Curitiba (2/12). “Nós sempre gostamos de ir ao Brasil”, ele confessa, “O público é sempre animado e muito energético e é um lugar lindo com praias lindas”, ele conta relembrando turnês passadas por aqui quando ele e seus colegas de banda aproveitaram os mares brasileiros para surfar, “Mas confesso que não lembro de muitas coisas, pois minhas memórias estão inundadas no álcool que consumimos aí”, ele fala rindo.

Com 54 anos, Bradbury confessa que a vida na estrada nem sempre é fácil. Todos os membros já têm família com filhos, “Mas a gente tenta não ficar muito tempo na estrada sem voltar para casa. Acho que a minha esposa até gosta quando não estou por aqui”, ele brinca pelo telefone enquanto sentado no seu estúdio que construiu em casa.

Ao falar sobre o novo álbum, o baixista conta que eles buscaram manter o som original que conquistou os fãs: “Se nossos fãs querem ouvir reggae, eles vão colocar Bob Marley para tocar. Quando eles querem ouvir Pennywise, é exatamente isso o que eles querem ouvir e é isso que vamos entregar, pelo tempo que eles nos permitirem continuar fazendo isso.”

O processo criativo em Never Gonna Die seguiu o mesmo padrão dos outros onze álbuns de estúdio da banda: cada integrante traz suas ideias ao estúdio e juntos eles trabalham nas faixas, mas hoje, a tecnologia facilita o trabalho. “Antes a gente se juntava sempre no estúdio, mas agora está mais fácil, você pode gravar muita coisa em casa.”

“Basicamente o que fazemos é cada um em sua casa grava suas ideias e depois nos reunimos no estúdio e ouvimos tudo. Antes, quando eu tinha uma ideia, precisava esperar a próxima sessão para entrar no estúdio e tentar explicar o que eu pensei para os outros, agora eu chego com tudo pronto para ser discutido.”

Mas Bradbury confessa que essa facilidade tem seu lado negativo, “Acho que isso deixou as pessoas mais preguiçosas, porque antes, na minha época, você precisava saber tocar bem, se não a gravação ficava ruim. Agora, você pode arrumar tudo nos programas. Eu não gosto disso, mas é o preço a se pagar pela praticidade em fazer música.”

Never Gonna Die é como qualquer disco do Pennywise, letras fortes e políticas, “Só queremos mais igualdade e que todo mundo seja feliz, sabe?”, ele confessa. O baixista diz que apesar da temática da banda, eles não buscam ir contra nenhuma ideologia ou partido, “Não quero falar para as pessoas o que elas devem pensar, se não nós seríamos tão ruins quanto aquilo que tanto criticamos. O nosso recado é: acordem e olhem em volta, vejam o que está acontecendo e façam alguma coisa, qualquer coisa. Nós queremos que cada um consiga pensar por si mesmo, sem a influência e a pressão da família, amigos e colegas de trabalho.”

“Você não pode chegar e dizer que alguém está errado em pensar daquela forma, cada um tem o direito de acreditar naquilo que quiser, e é por isso que lutamos”, ele conta. “Eu quero que música seja algo que ajude as pessoas. Música é algo que te faz se sentir bem e te faz esquecer um pouco dos problemas lá fora”, ele fala ao mandar uma mensagem aos fãs brasileiros: “Venham ao show, se divirtam e vamos, juntos, esquecer um pouco dos nossos problemas e nos divertir.”

“As pessoas estão brigando o tempo todo e eu não aguento mais isso”, ele fala um pouco desanimado, “Esses assuntos precisam ser discutidos e acho importante levá-los para a mesa, mas o respeito está se perdendo… Eu quero que as pessoas se lembrem de se divertir de vez em quando. É por isso que eu faço música.”

“Eu sei que é clichê, mas a vida é uma jornada e você tem que aproveitar cada momento dela, se não, qual é o sentido disso tudo? O que estamos fazendo aqui? Cada indivíduo, cada vida importa. No final, o importante é ser uma pessoa boa e fazer o bem para você e para os outros. O mundo está louco e temos pessoas loucas no poder e alguns de nós estão genuinamente insatisfeitas com isso, mas vamos esquecer disso por um tempo e apenas curtir música juntos e nos divertir?”

Jornalista musical há 8 anos, é editora do Wikimetal, onde une suas duas grandes paixões: música e escrita. Acredita que a música pesada merece estar em todos os lugares e busca tornar isso realidade. Slipknot, Evanescence e Bring Me The Horizon não podem faltar na sua playlist.