Texto por Patrícia C. Figueiredo

Demorou mas rolou! Não tem outro jeito de começar esta resenha, pois o show dos Replicantes que aconteceu em Porto Alegre na última quinta-feira, 15, foi apenas um dos agendados para maio e junho deste ano, mas que acabaram remarcados (alguns até cancelados) por conta das enchentes que atingiram todo o estado do Rio Grande do Sul há três meses.

A própria casa de shows Opinião está localizada em um dos bairros mais atingidos da capital gaúcha que ficou quase inteiro debaixo d’água. Por conta de tudo isso, é uma sensação bastante única estar de volta aos eventos nas últimas semanas e ver que, aos poucos, a cidade vai retomando a sua agenda cultural.

Os Replicantes teriam feito este show comemorativo em uma data muito mais significante, no dia 16 de maio, data que marcou os exatos 40 anos do primeiro show da história do quarteto. Mas o fato de a apresentação ter ocorrido três meses depois do planejado não prejudicou a experiência de celebração de uma das bandas mais emblemáticas da cena alternativa de Porto Alegre.

Com ingressos esgotados, a casa começou a lotar pouco depois que as portas abriram e, mesmo do lado de fora, havia muitas pessoas esperando e curtindo uma noite de clima agradável na rua enquanto não chegava a hora do show.

E quando não tinha mais como entrar nem uma formiga no Opinião, apareceu no telão um vídeo com depoimentos de fãs e amigos gravado na exposição sobre a banda que aconteceu entre março e abril no Museu do Trabalho em Porto Alegre. Eram mensagens de feliz aniversário e histórias que as pessoas tinham para contar sobre como Os Replicantes estiveram presentes em suas vidas.

Os Replicantes iniciam a festa punk Júlia Barth nos vocais

Comovidos pelo vídeo, os fãs aplaudiram. E foi nesse clima que Júlia Barth, Cláudio Heinz, Heron Heinz e Carlos Gerbase subiram ao palco e abriram a noite com “Nicotina”. O público cantou tão forte que parecia que estávamos ainda nos bons e velhos anos 80. Logo após a primeira música, começou a rotação no palco. Júlia saiu e Wander Wildner já apareceu. Os dois se abraçaram no canto do palco e lendário vocalista original da banda assumiu os vocais.

Uma grande roda punk se formou na frente do palco e outras pessoas na casa inteira pulavam e batiam cabeça. “Sandina” e “Surfista Calhorda” na sequência foram entoadas em coro. Wander mostra que mudou muito pouco em quatro décadas. Sua voz está impecável e é contagiante vê-lo no palco fazendo suas danças um pouco desengonçadas e fortes interpretações das letras. O espírito do punk rock é forte neste corpo!

E aí vem mais uma rotação de integrantes: Wander deixa o palco, Gerbase sai da bateria e assume o vocal. Aparecem Luciana Tomasi, que foi uma das produtoras da banda e fez vocais de apoio em algumas faixas, e Cleber Andrade assume as baquetas.

O set de Gerbase foi insano. Passou basicamente pelo primeiro álbum O Futuro É Vortex, com “Boy do Subterrâneo” e “Hippie, Punk, Rajneesh”, e pelo terceiro álbum com “Minha Vizinha”, “Só Mais Uma Chance” e “Negócios à Parte”. O set também contou com a participação do saxofonista King Jim, figura icônica da cena musical gaúcha e que também fez parte dos Replicantes.

Ex-integrantes puderam participar da festa

Mal chegamos na metade da noite e o show já havia virado uma legitima festa punk. No palco, na pista e no mezanino, a agitação tomou conta e as pessoas dançavam. Em frente ao palco, vi alguns rapazes surfando na plateia e acabando literalmente de cabeça pra baixo e de pernas para o ar. No palco, Gerbase e Luciana se divertiam tanto e a interação entre todos os integrantes estava incrível. Os irmãos Heinz estavam impecáveis na guitarra e no baixo, com suas linhas tradicionalmente mais simplistas porém sempre animadas, mantendo a essência da banda em evidência.

Júlia Barth faz uma breve aparição mais uma vez, cantando “África do Sul” e logo deu lugar novamente a Wander Wildner, que no seu set levantou o pessoal com “Astronauta” e “Ele quer se Punk”, um grande clássico. Ainda teve um momento em que os dois cantaram juntos “A Verdadeira Corrida Espacial”.

Júlia tem uma voz forte, raivosa e rasgada. A vocalista dá mais do que conta de cantar as faixas mais novas como “Maria Lacerda”, “Libertá” e “Punk de Boutique”, as duas últimas sendo do último álbum de estúdio Libertá, lançado em 2018. Mas ela também não deixa nada a desejar quando é a vez das mais antigas como “Chernobyl” e “Mentira”. Não é à toa que ela comanda os vocais da banda há 18 anos.

Um grande show, merece um grande final

Após o set de Júlia, todos os integrantes e convidados voltaram ao palco para uma reprise fantástica de “Surfista Calhorda”. Antes de terminar, é claro que teríamos “Festa Punk”, levando o público à loucura. E para encerrar, mais uma reprise, desta vez de “Sandina”

Foi realmente uma noite muito especial para a banda e para os fãs. Poder ver todas as pessoas que fizeram parte da carreira dos Replicantes é de fato um evento histórico. O tipo de evento que gostaríamos de ver mais bandas fazendo, com os integrantes e ex-integrantes interagindo numa boa e curtindo a noite tanto quanto o público.

Fica claro que, quarenta anos depois, Os Replicantes segue sendo uma banda de extrema relevância para o cenário musical gaúcho e nacional. Suas músicas nunca deixaram de retratar com criticismo os males da sociedade e da política que nos rodeia, e mesmo após todo este tempo, a banda entoa versos antigos que têm tanto impacto hoje quanto na época em que foram criados – e tudo isso com uma energia contagiante e alegre. Vida longa aos Replicantes!

Categorias: Notícias Resenhas

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