Antes de serem conhecidos mundialmente como os pais do heavy metal, Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward lançaram um álbum que arrepiou o mundo até o último fio de cabelo.

Meio século se passou desde que o Black Sabbath lançou o disco homônimo, dando luz a um dos gêneros mais sombrios da música. O poder do quarteto é óbvio hoje, mas há 50 anos, os trovões e os sinos de igreja que abrem a faixa-título do disco de estreia foram cruciais para a criação do heavy metal e ninguém imaginava.

“What is this that stands before me? / Figure in black which points at me” (em tradução livre: O que é isso que está na minha frente? / Um vulto preto que aponta para mim) foram as primeiras palavras que Osbourne cantou para a cidade de Aston, em Birmingham, no Reino Unido. “Oh no, no, please God help me! / Is it the end, my friend?” (Oh não, não, por favor Deus me ajude! / Esse é o fim, meu amigo?) foi o grito que apresentou os incríveis riffs de Iommi, acompanhando perfeitamente o poder do baixo de Butler e, claro, o ritmo impecável de Ward.

Nos anos 1960, artistas como Jimi Hendrix, Cream e Led Zeppelin já haviam entrado no terreno sombrio do rock and roll, mas foi o Black Sabbath que mostrou a todos eles – e ao mundo – o verdadeiro peso do heavy metal e como vivê-lo de forma genuína como um estilo de vida. Foi em uma sexta-feira 13 que o quarteto lançou o auto-intitulado, e a data foi apenas um dos elementos macabros entre vários que cercam o álbum, como a mulher – muitas vezes reconhecida como bruxa – em frente a uma antiga casa na capa.

Em Black Sabbath, Osbourne usa o gótico, os riffs destruidores e a psicodelia suja do grupo para detalhar um encontro com o diabo em “N.I.B.”, narrar cenas de terror em “Behind the Wall of Sleep” e expor os diabos da sociedade em “Wicked World”. Se não fosse por todo esse peso, o Metallica não teria criado o clássico “Enter Sandman”, o Judas Priest não teria cantado o hino “Breaking the Law” e muito menos o Slayer estaria se despedindo de anos de “Reign in Blood”.

Apesar de algumas bandas ativas até hoje, como Judas Priest, já existirem na época, é difícil imaginar que elas soariam do jeito que soam hoje se não fosse pelo pioneirismo do Black Sabbath no mundo obscuro e inexplorado do heavy metal. Foi necessário nascer na sombria e fria Aston para iniciar o movimento que cresce até hoje com grupos como Slipknot, Korn e System of a Down e até os mais novos como Halestorm, Asking Alexandria e Of Mice & Men.

Nos primórdios, o Black Sabbath era chamado de Earth e o som dele era facilmente reconhecido como um filho mal criado do blues com o rock. Elmore James, Lightnin’ Hopkins, Robert Johnson e Buddy Guy foram alguns dos artistas que o Earth escolheu para tocar nos primeiros shows da carreira. Desses covers, o quarteto encontrou inspiração e criou a primeira música autoral “Wicked World”, praticamente um manifesto contra a cultura de hippies, da qual eles queriam se afastar. “Esse não era o ambiente em que nós nascemos. O Black Sabbath estava completamente fora disso”, disse Ward em uma entrevista à Rolling Stone.

Com a criação do som deles, Osbourne, Iommi, Butler e Ward estavam prontos para se apresentar como o quarteto pesado e rebelde. Com Black Sabbath, a banda mostrou que a música não se limita a um único gênero e é possível incorporar diferentes elementos em uma canção. O som que veio a ser tornar heavy metal foi criado após bandas se inspirarem na diversidade e no peso do Black Sabbath.

A mistura de sons e influências em Black Sabbath abriu o caminho para outros artistas experimentarem o inusitado. Hoje, a importância disso pode ser vista na evolução dos diversos subgêneros dentro do metal. As introduções lentas e convidativas que ouvimos no disco deram vida ao que hoje é chamado de metalcore. Os riffs de Iommi e os vocais melódicos de Osbourne deram oportunidade para o stoner. Já o metal progressivo veio da distorção da guitarra de Tony e os dez minutos de “Warning”. As letras poderosas e o casamento perfeito e pesado da guitarra com a bateria trouxe o thrash metal. A influência é infinita.

Agora, mesmo depois de tanto tempo, o grupo continua influenciando o rumo da música pesada. Black Sabbath abriu um portal para um mundo de música alta, pesada, agressiva e comovente. O grande público duvidaria do “comovente”, mas, graças ao quarteto, os fãs que estavam sedentos por algo mais sensível, porém que chegasse com os dois pés no peito, encontraram um lugar. O heavy metal é um gênero sentimental, grosseiro, forte e atencioso aos detalhes. E ele não existiria se não fosse pelos trovões e os sinos de igreja em “Black Sabbath”.

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Jornalista musical há 8 anos, é editora do Wikimetal, onde une suas duas grandes paixões: música e escrita. Acredita que a música pesada merece estar em todos os lugares e busca tornar isso realidade. Slipknot, Evanescence e Bring Me The Horizon não podem faltar na sua playlist.