Texto por Helena Meireles, do Coletivo Preto No Metal
Antes de qualquer coisa: é provável que, ao longo desse texto, surja a discussão sobre apropriação cultural. De maneira alguma a autora desse texto tem por objetivo delimitar o que fulano X ou Y usa ou faz. Aliás, isso não é nem cabível dentro dessa mesma discussão. O que a autora faz é pontuar sobre questões e acontecimentos que se deram ao longo dos anos 2000.
Para quem acompanha o desenrolar da cena do metal desde sempre, é sabido sobre a febre que o nu metal foi durante muito tempo ali no final dos anos 90 (talvez até antes, dependendo do ponto de vista), tendo se prolongado por alguns vários anos pela frente. Há quem considere o nu metal sendo metal alternativo, então a nomenclatura pode mudar de pessoa para pessoa. É o subgênero do metal em que há a mistura de alguns elementos de outros gêneros musicais, principalmente (e quase que predominantemente) do hip hop. Eis que aqui inicia a polêmica sobre muito do que é o famigerado nu metal.
O metal, desde que surgiu ali como sendo heavy metal, se mistura a outros gêneros e elementos. Por si só, ele não é “puro”. Desde Black Sabbath, uma alta mistura de heavy metal e jazz, por exemplo, não tem como falarmos que há uma “pureza de som” no metal. Isso soa até eugenista? Sim. Se formos parar para pensar, muita gente torce o nariz para o nu metal justamente nessa pegada eugenista. Afinal, é visto como “o metal impuro que se misturou com som de preto”. Curiosidade: o que você conhece por heavy metal tem raíz preta.
Nessa mesma linha de pensamento sobre o nu metal ter usado vários elementos do hip hop, foi um dos gêneros que mais trouxe pessoas não-brancas para que desbravassem outras várias possibilidades dentro do metal. É possível citar tanto a experiência pessoal da autora desse texto quanto de vários fóruns, vídeos e afins sobre a questão. Vou deixar a recomendação do texto How Linkin Park Helped Me, And Other Black Rock Fans, Through Abuse & Depression (em tradução livre: Como Linkin Park me ajudou, e a outros fãs, a passar por abuso e depressão), de Aude Konan, e que ilustra perfeitamente a identificação de fãs (principalmente) pretos que tiveram contato com o nu metal. É um paradoxo bastante interessante perceber a identificação de pessoas pretas num tipo musical em que a maioria dos músicos conhecidos são brancos, mas que usaram muito da estética que, por sua vez, é associada (e, muitas das vezes, tidas como repugnantes) ao negro.
Jonathan Davis (Korn), por exemplo, usando dreads, as roupas e o boné aba reta de Fred Durst (Limp Bizkit), as calças largas de Chester Bennington e Mike Shinoda (Linkin Park)… A não ser por Mike Shinoda, todos são brancos e usaram de elementos que remetem à negritude, tanto na estética visual do nu metal quanto musicalmente falando. É também interessante perceber o quanto vários músicos pretos também se sentiram confortáveis dentro do nu metal, como Willow Smith, Skin (Skunk Anansie) e Fallon Bowman (Kittie), que por sua vez, trouxe uma abertura para que outras pessoas não-brancas também seguissem pelo caminho desse subgênero.
Querendo ou não, o nu metal pode ser considerado, fortemente, uma forma de inclusão de pessoas marginalizadas na cena (sabe aquela máxima de “porta de entrada para drogas mais pesadas”? É quase isso). Fora que muitas pessoas mais jovens que tem conhecido a música pesada tem começado por bandas de nu metal, principalmente pelo fator diversidade que o gênero abrange.
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