A banda brasileira NervoChaos formada por Eduardo Lane (bateria) Brian Stone (vocal), Luiz “Quinho” Parisi (guitarra), Woesley Johann (guitarra) e Pedro Leme (baixo) esteve recentemente em Londres para o Incineration Festival e convidou o Wikimetal para acompanhar o backstage do show em uma das casas de shows mais emblemáticas de metal em Londres, o The Black Heart. Confira abaixo a entrevista exclusica com o baterista da banda Eduardo Lane.
Wikimetal : Como está sendo a primeira turnê depois da pandemia?
Eduardo Lane: Está sensacional! Bom poder estar de volta e parece que estamos de volta a vida, né? 28 meses parados, desde a última vez que subimos ao palco. Nossa turnê começou dia 16 de abril, começamos pela Finlândia, fomos para Suécia, Noruega, Bélgica, Holanda, França e agora estamos na Inglaterra. Ainda vamos para Praga e Alemanha e depois vamos para a América do Sul com as bandas Krisiun, Belphegor e Crypta. Quando voltarmos ao Brasil estaremos em turnê com a banda Vazio de Black Metal.
A primeira parte da nossa turnê serão 65 shows e termina só em julho com um show muito inusitado, vamos tocar na cidade de Portel, na Ilha de Marajó onde terá um festival de metal chamado Port Hell. Todos os shows são incríveis, alguns são mais especiais porque são lugares que a gente nunca foi ou são exóticos. Estamos muito felizes.
WM: E qual é a sensação de voltar ao palco?
ED: O primeiro sentimento que vem é de ter sobrevivido a esse período tão sombrio e tão difícil que foi a pandemia, muitas pessoas não tiveram a mesma sorte que a gente teve, de tomar a vacina e poder estar aqui retomando as atividades. É uma sensação de alívio, felicidade e realização, poder estar fazendo o que a gente mais gosta de fazer, estar trabalhando de novo, fazendo shows. Parece até surreal, porque ficamos tanto tempo em casa e parece como a primeira vez. Então, estamos todos muito empolgados.
WM: Como está sendo a receptividade de vocês nos shows? Aqui em Londres, vocês levantaram a galera!
ED: É muito bacana! Por exemplo, nunca havíamos tocado na Finlândia e a gente não tinha muita expectativa, porque não sabíamos se as pessoas conheciam nosso trabalho. A receptividade está sendo muito bacana em todos os locais e talvez esteja culminando com essa volta e vontade das pessoas saírem e verem as bandas, o que acaba dando um pouco mais de valor.
Acho que antes da pandemia a gente estava vivendo uma vida corrida e não dávamos o devido valor as coisas que deveríamos dar e quando fomos privados disso tudo, acho que a gente percebeu a importância disso. Então, eu percebo que as pessoas estão felizes de poderem sair de novo, de serem vacinadas e estarem sem máscaras. Temos tido também muito apoio das pessoas, está sendo muito importante para a gente, até porque ano passado completamos 25 anos de banda e a gente não conseguiu comemorar do jeito que gostaríamos. Então, estamos aproveitando agora e comemorando.
WM: Como é representar o Brasil no Festival Incineration, que é tão importante na Inglaterra?
ED: É uma honra para nós antes de mais nada, poder levar para o mundo um pouco do nosso metal. Apesar de ser um tipo de música que nasceu na Inglaterra e Estados Unidos, acho que o Brasil sempre foi um berço e também revelou nomes fortes dentro desse estilo em geral e, principalmente, heavy metal.
É interessante esse tempero que o metal brasileiro tem e que os outros não tem, que é característico nosso, da nossa cultura. Então quando vamos aos lugares, temos muito orgulho em dizer que somos brasileiros e as pessoas respeitam muito e admiram muito. Porque sabem um pouco da dificuldade que a gente tem no nosso país. Mas é uma honra levar nossa bandeira por aí e tantos outros que fizeram antes da gente e continuam fazendo até hoje, como o próprio Iggor Cavalera que estava presente hoje no show.
WM: E como foi saber que o Iggor Cavalera estava na plateia?
ED: Nossa, foi uma surpresa sensacional! Para mim, especificamente, foi um dos caras que me influenciaram a tocar. Eu o conheço desde 1988. O pessoal do Sepultura e o Iggor sempre foram uma inspiração para mim, como baterista. Iggor pelo seu estilo e jeito único de tocar com uma assinatura própria. E foi até bom que não o vi antes do show (risos) porque se não iria ser mais difícil para mim. Eu iria ficar muito nervoso (risos). Ele é uma inspiração, apesar da gente ser amigo, tem aquela coisa: é “o cara”. Algumas pessoas me inspiraram a tocar bateria e o Iggor foi um deles. Então foi surreal, porque quando eu era moleque eu era super fã e depois eu conheci os caras e se formou uma amizade entre a gente. Ainda bem que eu só fiquei sabendo depois (risos).
WM: Como está sendo essa incrível experiência em tocar quase no mundo inteiro?
ED: É uma troca de culturas muito grande e isso vai além da música. A música é uma forma de entretenimento, uma coisa legal, mas eu vejo como uma ferramenta da alma. É muito interessante porque a gente vê que um headbanger é um headbanger em qualquer lugar do mundo, apesar de todas as culturas e diferentes características no fundo a gente está unido por uma coisa só que é a musica e no nosso caso, a música pesada. Existe essa irmandade que é sensacional. Isso é que me move a fazer o que eu faço. A gente não ganha muito dinheiro, a gente sobrevive, a gente faz o que a gente ama.
WM: Você tem uma banda bem sólida no mercado, qual é a sensação de ter essa bagagem ao longo do tempo?
ED: A gente nunca parou como banda, são 26 anos esse ano ininterruptos de carreira. Mas o heavy metal vem de muito antes na minha vida, eu sempre gostei. Minha formação musical veio através do meu tio que me deu uma caixa de vinis onde tinha Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple e comecei a descobrir o rock com 12 anos de idade e fui mergulhando na música. Meus pais não apoiavam a ideia de eu ser musico então só comecei a me dedicar a musica quando saí da casa dos meus pais quando eu tinha 17 anos. Sou autodidata, nunca estudei, faço por paixão e não por modismo. É muito mais garra e sentimento, do que técnica. E nunca parei. Já toquei em outras bandas também e teve um momento da minha vida que eu decidi fazer algo pela cena do metal brasileira quando resolvi montar minha própria produtora que se chama Tumba e também é um selo. E através dela eu produzo um festival anual em São Paulo que chama Setembro Negro Festival.
Isso começou em 1996, porque como fã de música pesada eu estava muito frustrado em não poder ver outros nomes, sempre vimos as grandes bandas e queria ver também as bandas mais alternativas e extremas então, resolvi começar. Esse ano também estou fazendo 26 anos como produtor. E minha ideia era essa, botar o Brasil no mapa das turnês e da música extrema, formar uma cena onde a gente pudesse fazer turnês dentro do Brasil. Minha intensão sempre foi colocar o Brasil no mapa mesmo e mostrar que temos muito mais que carnaval e praias bonitas. A gente tem muita boa música e tem muita boa música extrema também.
A gente representa a contra-cultura, não fazemos parte da grande mídia, nas rádios e na TV, essa subcultura é também um estilo de vida.
WM: E como essa turnê te inspira?
ED: Tudo me inspira, na verdade. Poder fazer o que eu amo e viver disso é demais. Eu agradeço todos os dias, eu me sinto um sortudo, afortunado de poder viajar o mundo e levar a música brasileira, produzir shows no Brasil e levar bandas inéditas para lá. Isso tudo me inspira além da receptividade do publico e das pessoas. O contato que a gente tem com as pessoas é tudo verdadeiro, sem esperar nada em troca, é algo feito com paixão de coração mesmo. E isso é o que conta no fim das contas. A gente leva boas memórias. Esse trabalho é o meu combustível, é o que me move e o que me faz continuar, nunca imaginei que fosse chegar onde eu cheguei.
WM: Mensagem para o Wikimetal?
ED: Pô, muito obrigado, muito bacana a iniciativa de vocês! Tamo junto!
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