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Mulheres no Heavy Metal Nacional

Mulheres no Heavy Metal Nacional

A força e a resistência das mulheres na realidade do Heavy Metal Nacional

Num mundo rodeado de comentários e atitudes machistas, vindo de todas as áreas da sociedade, será que a cena metálica ainda é palco pras esses comportamentos? Será que existem mesmo pessoas que duvidam do talento de outra, baseado se a pessoa é homem ou mulher? Batemos um papo com 14 mulheres de 12 bandas diferentes, são (em ordem alfabética): Darkship, Fenrir’s Scar, Final Disaster, Hatefulmurder, Inraza, Losna, Miasthenia, Quintessente, Save Our Souls, Shadowside, Sons Of Rage e Torture Squad pra saber  como é a realidade das musicistas no Heavy Metal brasileiro.

Desde a infância Angélica Burns, vocalista da banda carioca Hatefulmurder, se interessava por música, mas foi só aos 16 anos que ela descobriu do que sua voz é capaz. “Estamos trabalhando bastante desde o lançamento do álbum Red Eyes. No ano passado, fizemos uma turnê pelo Brasil todo passando por 26 estados. Foi uma experiência única”.

“O machismo existe em todos os lugares. Várias vezes no palco já tive que ouvir gracinhas do público como ‘gostosa’, ‘tira a roupa’. Infelizmente, ainda temos que passar por situações como essa”.

Cada vez mais meninas percebem que elas também podem ter suas bandas, que o Heavy Metal também é som de mulher”
Dani Nolden – Shadowside

O Shadowside surgiu no início dos anos 2000, na cidade de Santos, São Paulo, e logo chamou atenção com a voz potente de sua vocalista, Dani Nolden.

“Em 2001, mulheres no Heavy Metal estavam bastante associadas ao Metal Sinfônico. O pessoal mais ‘conservador’ da época não considerava isso Heavy Metal de verdade, então antes do nosso show, uma das bandas que iria tocar com a gente estava fazendo algumas piadinhas, insinuando que faríamos um som ‘levinho’, e imitavam mulheres cantando com um vocal erudito, e riam. Riam até não aguentar mais. Só que eu ria também, porque nós ainda fazíamos alguns covers na época, e tínhamos Painkiller, do Judas Priest, no set list, e a reação deles quando tocamos a música foi sensacional”

Alguns seguranças me barravam ao entrar no camarim, achando que eu não fazia parte da banda”
Mayara Puertas – Torture Squad

Mayara Puertas, vocalista do Torture Squad, sempre foi fã de música, mas foi no Death Metal que ela realmente se encontrou. “Era esse estilo que dava voz aos meus pensamentos, de uma maneira intensa que não havia encontrado em nenhum outro estilo musical”. Ela começou sua carreira na banda Necromesis, e desde 2015 integra o Torture Squad.

“O Brasil é um dos países onde você encontra muitas mulheres fazendo som pesado, e isso não é tão comum lá fora. Aliás, o Brasil é um país que dentro do estilo Heavy Metal tem um público muito grande nas vertentes extremas, com as mulheres sempre presentes mostrando muita competência. Tenho orgulho de fazer parte disso e poder inspirar mais mulheres a irem atrás de seus sonhos!”

“[Às vezes] Você está checando o palco e tem um bobão que fica na platéia falando gracinhas. Sempre vou aos shows das minhas amigas do Nervosa quando posso, e em um deles fiquei revoltada com o tipo de baixaria que um sujeito gritava para as minas enquanto montavam o palco. (…) Eu não acho que isso seja atitude de headbanger, o cara que desrespeita uma mulher em um show, repete essa atitude no dia a dia também. Mas eu fico feliz que dentro do Metal isso venha de uma minoria, e quando isso acontece em um show você pode ver também que essas atitudes são repreendidas pelo próprio público. Isso demonstra que a grande maioria dos bangers não concorda com atitudes machistas ou abusivas”.

Por volta de 2003 eu cheguei até a ser ameaçada de morte por um nazista que dizia não aceitar essa minha condição de vocalista em uma banda de Black Metal antinazi”
Hécate – Miasthenia

 “Desde o início já era estranho ser mulher, circular na cena Metal e se interessar em montar e liderar uma banda de Metal Extremo. Alguns homens preconceituosos acham que seu interesse é apenas em sexo e namoro, que você é apenas uma groupie que circula na noite. Então tive que ser bem durona e me tornei bruta e agressiva como eles, para me impor e ter o respeito. No passado eu briguei e discuti muito com os homens por conta de machismo, e cheguei até a brigar fisicamente em porta de show por conta de assédio. Não esqueço dos amigos que me ajudaram e acabaram com os rostos machucados e sangrando. Mas conquistei muitos amigos homens, tive uma galera muito forte ao meu lado e que de certa forma foram aprendendo a respeitar as mulheres na cena, inclusive os que tocaram comigo no Miasthenia e Afonia, que sempre me respeitaram, admiraram, apoiaram e aderiram às minhas idéias no Metal. Isso para mim é uma grande conquista”.

 

Todas as mulheres que estão nesse cenário lutando contra qualquer tipo de preconceito, me enchem de orgulho e são sempre a fonte de inspiração mais honesta”
Laura Giorgi – Final Disaster

“No trabalho, na música e até jogando video game subestimam a minha capacidade. O que mais acontece, e que eu acho um nojo, é quando vou conversar com algum músico homem, apenas para um papo sobre música, e ele supõe que eu esteja com segundas intenções. Ou quando beleza vem antes de talento e esforço. Isso são pequenos casos cotidianos dentre tantos outros grandes.
Hoje, as mulheres que são um exemplo para mim, são nosso orgulho nacional: as meninas do Nervosa. Elas quebraram várias barreiras e enfrentaram tudo que nós mulheres no cenário Metal brasileiro passamos todo dia”.

Tive algumas bandas formadas por mulheres e em várias ocasiões era perceptível que muitos estavam na plateia para ver se “aquelas mulheres conseguem tocar” e alguns estavam mais preocupados com a imagem do que com a música”
Cristina Müller – Quintessente

“Felizmente, venho percebendo uma melhora nesse cenário ao longo dos anos. Desde o retorno do Quintessente (em 2015) tenho visto uma maior valorização das mulheres, inclusive há cada vez mais mulheres concorrendo em listas de melhores músicos do ano e isso é maravilhoso! Quando eu comecei a tocar, minha banda era a única com mulheres no underground carioca e hoje em dia há muito mais mulheres musicistas, ou seja, o respeito faz com que cada vez mais mulheres tenham coragem de mostrar a sua música!”

Um cara resolveu me atacar na página da banda, me ofendendo, dizendo que eu, por ser mulher, não poderia cantar em uma banda de Metal, e o disse de várias formas desagradáveis”
Melissa Ironn – Save Our Souls

“Em outra época, eu pensava que era melhor não falar sobre isso, numa tentativa de abafar esse tipo de atitude. Hoje eu vejo que não! Que devemos e podemos combater isso de frente e pra todo mundo ver”.

Acho que todos podem ter suas próprias opiniões, mas sempre existe limite para tudo”
Graziely Maria – Fenrir’s Scar

Falam mal da minha aparência, como se mulher só pudesse cantar em banda desde que se encaixe dentro de um padrão estético.
Desireé Rezende – Fenrir’s Scar

“O que mais me marcou foi num programa de rádio online, aonde estavam tocando várias bandas nacionais e alguns comentaristas opinando sobre as músicas. Logo após tocar nossa música cara falou: ‘Não sou misógino, mas não gosto de mulher cantando metal’. Ele tem todo direito de não gostar do estilo, da minha voz… Mas reduzir o gênero feminino dessa forma… Achei bem absurdo. Com tanta mulher talentosa no cenário nacional e internacional.”

Por incrível que pareça, o machismo, o preconceito vem das próprias mulheres. Já ouvi muitas delas falarem: “parece um homem tocando”, ou “coloca muito marmanjo no chinelo”, total absurdo! As criaturas devem entender que o artista transcende ao gênero sexual”
Débora Gomes – Losna

“A música é o meu combustível para viver. Eu precisava de um instrumento que traduzisse a minha revolta e inquietude perante este mundo hipócrita e bitolado. Então fui para a guitarra e é o meu principal instrumento até hoje! Não vivo sem música. Sem ela, tenho crises de abstinência”

Se me olharem torto, eu olho torto de volta”
Fernanda Gomes – Losna

“Essa questão de ser olhada com desconfiança por parte das outras pessoas não dá muitas vezes para saber distinguir se o fato tem ou não relação com o meu sexo. Muitas vezes também pode ser racismo, por não gostarem de um exemplar da cultura Underground, por não curtirem pobre, são muitas variáveis, então é uma análise muito complexa”.

 

É bem comum aparecerem bandas com mulheres nos dias de hoje, mas a algum tempinho atrás, quando comecei a tocar e cantar era muito diferente, era coisa de homem. Hoje eu posso tocar e cantar do jeito que eu quiser, dentro do Metal e estou sendo bem aceita”
Silvia Cristina – Darkship

“Infelizmente ainda existe um certo preconceito em nosso país, não somente no meio do Metal Nacional, mas em várias áreas da sociedade, incluindo o próprio preconceito entre as mulheres. (…) No momento em que você acredita no que faz, acredita em seu trabalho, defende suas ideias e objetivos e não se importa com julgamentos que os outros irão fazer, você acaba sendo respeitada pelo que você realmente é”.

As coisas não vão mudar com a gente pedindo ‘por favor’ “
Stephany Nusch – Inraza

“Hoje em dia eu ainda me incomodo com alguns comportamentos, mas acredito que tenha melhorado bastante. A gente tem que bater de frente e se fazer presente no nosso espaço (…) Nós somos socializadas pra não reagir e os caras relaxam pra cima da gente nessa. Não pode deixar!”

Antes era mais foda, mas eu sempre fui muito de bater de frente, e quando isso acontece toda desculpa é ‘foi só uma brincadeira’ mas no fundo tem aquele machismo enrustido”
Fabi Azevedo – Sons Of Rage

Se você tem interesse em conhecer mais bandas brasileiras com mulheres, não deixe de ouvir: Nervosa, Luxúria de Lillith, Hellarise, No Way,  Valhalla, Volkana, Flammea, Pandora, Semblant, Corporate Death, Cauterization, Ecliptyka, Ocultan, Sinaya, Midnightmare, Vandroya e Arandu Arakuaa. Maioria delas, citadas pelas entrevistadas!

Sugestões de mais bandas? Deixe nos comentários! 😉

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