Texto escrito por Luiz Pimentel
Queria puxar como gancho deste texto o fato de o baterista do Rolling Stones ser o músico roqueiro mais longevo na ativa sem interrupções, mas uns amigos cortaram minha onda citando de Bob Dylan a Neil Young, passando por John Mayall, Jerry Lee Lewis, Sonny Curtis, Duane Eddie e Buddy Guy. Mas que se danem os fatos. A verdade é que chegar aos 80 anos na banqueta da batera de uma das 10 maiores bandas de rock do planeta é missão para um super-homem como Charlie Watts.
Seu jeito, gestos e estilo econômicos o subestimam.
Escutei (ou assisti em documentários? Nem sei mais) que ele é o centro decisório da banda, escondido por trás dos disputantes egos de Mick Jagger e Keith Richards. Escutei que ele não consegue mais se apresentar como considera devido, de terno e gravata. Escutei que ele não é um bom baterista. Ou ao menos não está à altura da profusão criativa dos Stones (mas convenhamos que isso é uma besteira de marca, né?).
Mas minha história preferida é de quando recebeu uma chamada de um Mick Jagger bêbado em seu quarto de hotel. Ao escutar um: “cadê meu baterista?”, Watts não respondeu e foi até o quarto do companheiro de banda.
Mick abriu a porta e nem viu de onde veio o murro que tomou na cara. No chão, escutou: “nunca mais me chame de ‘seu baterista’. Você que é o meu vocalista, seu merda”. Gosto de imaginar que arrumou, então, o nó da gravata, deu meia-volta e retornou ao aposento, onde foi terminar a audição de “A Love Supreme”, do John Coltrane, antes que degelasse e aguasse seu copo de scotch no braço da poltrona.