Com pontualidade e cenário grandioso, Mötley Crüe e Def Leppard trouxeram uma noite de hits e nostalgia dos tempos áureos dos anos 1980 para São Paulo na última terça-feira, 07, como parte da turnê conjunta The World Tour.
Apesar de pertencentes a movimentos e estilos diferentes no rock, sendo a primeira um ícone dos excessos do glam, enquanto a segunda se tornou mundialmente conhecida pelo hard rock de arena e as baladas poderosas, ambas as bandas trouxeram o melhor (e o pior) do rock oitentista para o Allianz Parque.
Realizado em plena terça-feira útil, o show teve uma configuração reduzida do espaço do estádio para acomodar uma lotação inferior ao almejado em shows dessa escala, mas a alteração resolveu bem a questão: atravessada quase inteiramente por uma plataforma, a pista premium ficou confortavelmente próxima ao palco, beneficiando também a visão de outros setores.
É verdade que demorou um pouco para o público chegar, provavelmente pelos desafios de locomoção em horário de pico em uma cidade como São Paulo. Por isso, quando Edu Falaschi subiu ao palco um pouco depois do horário previsto, de 18h15, as arquibancadas estavam longe da lotação que alcançariam no decorrer da noite.
No set curto, o vocalista brasileiro fez um bom resumo da própria carreira, de Vera Cruz (2021) aos clássicos do Angra com “Bleeding Heart” e “Nova Era” no final da apresentação, tendo reconhecido ser de um estilo diferente das bandas que em breve estariam no palco. Com a banda completa e rigor técnico, Falaschi conseguiu capturar a atenção dos fãs presentes.
Com um público de faixa etária diversa, de adolescentes aos roqueiros mais velhos, ficava fácil parecer que o Mötley Crüe era a principal atração da noite pela quantidade de camisetas da banda e rostos pintados ao melhor estilo Nikki Sixx perto do palco. Pontualmente às 19h30, com o estádio praticamente preenchido, o telejornal fictício sobre o show da banda em São Paulo foi ao ar. Sob os berros da plateia, o Crüe entrou no palco para uma sequência de sucessos, todos cantados com energia pelos fãs, fato que disfarçou a mixagem distante e carregada em reverb da voz de Vince Neil, o menos acessível de todos os integrantes, apesar dos “obrigados” e gritos protocolares.
Com “Saints of Los Angeles” e “The Dirt (Est. 1981)” como as faixas mais recentes do setlist, os refrães chiclete da banda se provaram mais do que capazes de preencher o ambiente de estádio, com direito a momentos mais intimistas mesmo assim: Sixx teve um momento sozinho no palco, no qual agachou e escondeu o rosto no joelho como quem está beira das lágrimas, e depois chamou uma jovem fã para uma selfie no palco. “Se estamos aqui há mais de 40 anos, é por causa de vocês”, disse.
Depois foi a vez de Tommy Lee receber o carinho do público, que levantou um coro de “Tommy, Tommy!” para o baterista, responsável por convidar os fãs para cantarem “Home Sweet Home”, executada em formato acústico e na passarela do palco em um dos momentos mais bonitos de toda a apresentação, com um coral tão intenso dos fãs que Neil nem se preocupou em cantar vários versos.
Apesar de evocar todo o poder de contágio do glam em uma apresentação intensa e conectada com os fãs, o Mötley Crüe também traz o pior dos anos 1980 ao insistir no sexismo descarado das letras na forma como representa mulheres ao vivo. As cantoras de apoio, Hannah Sutton e Ariana Rosado, são expostas como meros objetos de decoração, com diversas trocas de lingerie e figurinos, muitas vezes presentes no palco apenas para danças sensuais no pole dance ou amarradas em correntes.
Na maior parte do tempo, ambas as artistas são completamente ignoradas pela banda, que também faz questão de erguer dois enormes robôs sexualizados ao final do set, como em um grande templo no qual a misoginia parece insuperável. Apesar disso, o set terminou em alta energia com “Kickstart My Heart”.
Pouco tempo depois, também com pontualidade exemplar, Def Leppard entrou em cena para mais uma excelente performance no Brasil. Mesmo com o público menos barulhento, os clássicos da banda foram cantados especialmente nos refrões, com Joe Elliot em ótima forma e sem fugir das partes mais agudas das músicas.
A banda de origem britânica apresenta uma performance mais estruturada que os norte-americanos do Crüe, com solos de bateria e guitarra, ótimo entrosamento entre os cinco integrantes e lindas projeções nos telões, levando o jogo de luzes no show ao próximo nível ao criar galáxias inteiras dentro do Allianz Parque, emoldurando a atmosfera perfeita para as baladas poderosas do grupo: “When Love and Hate Collide” tirou o fôlego em versão acústica e “Bringin’ On the Heartbreak” continua sendo um espetáculo por si só.
Dono dos backing vocals mais reconhecíveis do hard rock, o Def Leppard demonstrou facilidade ainda maior em dominar o estádio. Até “Take What You Want” e “Kick”, faixas do mais recente álbum Diamond Star Halos, possuem ótima energia e combinam perfeitamente com o set de hinos, que encerrou a noite com uma sequência imbatível de “Hysteria”, “Pour Some Sugar on Me”, “Rock of Ages” e a clássica “Photograph”, perfeitas para dançar.
Da parte do Leppard, apenas o melhor do rock oitentista se fez presente – e mostrou como as novas músicas são donas de pegada e energia suficiente para encontrar um lugar no coração dos fãs de diferentes gerações. Ao receber os aplausos finais do público e agradecer pela noite, Joe Elliot fez a promessa bem vinda de retornar ao país para mais shows. “Não se esqueçam de nós e não esqueceremos de vocês”, pediu. Com um show tão contagiante e enérgico, certamente essa não será tarefa difícil de se cumprir.
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