Texto por Patrícia C. Figueiredo
Os portugueses do Moonspell chegaram ao Brasil após terem passado por um grande número de países da América do Sul em março e trouxeram um setlist um pouco mais longo do que o que os fãs latinos viram até agora. O repertório prestigia toda a história da banda, que está comemorando seus 30 anos com a turnê.
Na abertura, a banda Pain of Soul de Blumenau pontualmente aqueceu o público ainda tímido que chegava aos poucos no Bar Opinião. A banda de gothic metal existe desde 2000 e curiosamente tem apenas dois álbuns lançados. Digo curiosamente porque ao ver a banda ao vivo é fácil se impressionar com as melodias melancólicas, as guitarras pesadas e melódicas e a potência da voz de Daniele, que vai de tons mais graves até o lírico tão apreciado do estilo. A banda ainda conta com o gutural do guitarrista Mailon para completar os elementos que fazem da Pain of Soul uma banda que vale a pena escutar e descobrir. O público presente pareceu ter usado a oportunidade para isso mesmo, pois mesmo tendo sido uma plateia calma, aplaudiu com gosto os catarinenses.
Cerca de meia hora depois foi a vez dos chilenos do Weight of Emptiness tomarem o palco. No palco, Juan Acevedo e Alejandro Bravo nas guitarras, Mario Urra no baixo e Maurício Basso na bateria já provam que a banda tem as linhas do death, do doom e do black metal. O som pesado e melódico mas com grandes influências do metal progressivo contagia em pouco tempo. O vocalista Alejandro Ruiz faz uma entrada dramática ao som da melodia mística da introdução “Mütrümtun (The Calling)”, aparecendo com uma capa preta, encapuzado e com metade do rosto pintado de preto.
Tendo prendido a atenção do público bem rápido, não perderam tempo em entregar ao público o peso de músicas como “Defrosting” e “Wolves” do álbum Withered Paradogma, lançado este ano, e a homônima “Weight of Emptiness”, do álbum de estreia Anfractuous Moments for Redemption. Alejandro chegou a falar um pouco de inglês, mas percebeu que o espanhol era mais bem vindo pelo público que o incentivou a falar o próprio idioma. Inclusive, a banda inteira demonstrou muito carisma com o público, interagindo com a plateia várias vezes e sendo retribuída por muitas cabeças batendo e punhos no ar ao longo do show. O show da Weight of Emptiness não deixa dúvidas do porquê é uma das bandas de metal em ascensão na América Latina.
Após um breve intervalo, quase que pontualmente às 21h, começa a tocar “Mr. Crowley” de Ozzy Osbourne, música que também foi gravada pelo Moonspell e é o sinal de que o show há de começar. No palco sobem Hugo Ribeiro (bateria), Pedro Paixão (teclado e guitarra), Ricardo Amorim (guitarra), Aires Pereira (baixo) e Fernando Ribeiro (voz). Os lobos chegaram e foram muito bem recepcionados pelo público. “The Greater Good” abriu o show, mas foi em seguida, com a sequência de “Extinct” e “Opium” que a plateia começou a pular e cantar junto e seguiu assim até “In and Above Men” e “From Lowering Skies”, ambas do álbum Antidote, tido como o melhor da banda. Logo mais uma das adições do prometido setlist exclusivo para o Brasil: “Em nome do medo”, do álbum 1755.
Durante o show, pudemos ver toda aquela dinâmica que o Moonspell tem. Pedro saindo do teclado, pegando a guitarra e depois voltando ao primeiro posto; Fernando enfeitiçando com seu vocal tão apurado quanto nos álbuns; Aires, Ricardo e Hugo quebrando tudo. A banda tem uma sintonia incrível que envolve do início ao fim. “Breathe (Until We Are No More)” e “Scorpions Flower” foram músicas que também empolgaram bastante, sendo sucedidas pelas duas outras adições da noite que foram “In Tremor Dei” e “Todos Os Santos”.
Talvez estas não tenham sido páreas para uma das mais aguardadas da noite: “Vampiria”, com as luzes do palco todas em vermelho, criou aquele clima obscuro que tanto atrai na banda, e logo depois Alma Mater, para quem ainda não tinha batido cabeça nem pulado entender que essa era a hora. Fernando não deixou de apresentar esta música como sendo o resultado de um processo que a banda passou no início da carreira, quando se sentiam sozinhos e enfrentaram a solidão e até mesmo inveja por questão do som da banda, comentando que muitos deixaram de falar com eles e lhes viraram as costas, e que por isso era muito “confortante ver todas essas almas e todas essas caras bonitas” no show. Mais tarde, o vocalista também comentou sobre as bandas brasileiras que tocam muito na Europa, como o Sepultura e Krisiun, ressaltando a importância de apoiarmos o metal extremo, e ainda soltou um ‘é nóis”.
Um show de quase duas horas e que eu tenho certeza de que ninguém viu o tempo passar foi encerrado com “Wolfshade” e, claro, “Fullmoon Madness”, que não podia faltar. O feitiço desta noite nada ortodoxa e de lua cheia estava completo, o Moonspell satisfez as expectativas de um público que aguardou ansiosamente para vê-los e que não esquecerá desse show tão cedo.