Ser fã de bandas como Metallica pode te fazer querer voltar no tempo, seja porque nunca viu os caras na época dos discos antigos ou pelo desejo de reviver esses tempos gloriosos, mas o show da banda em São Paulo, na última terça, 10, mostra que o melhor momento sempre é agora.
Com 40 anos de carreira, a banda é a maior de thrash metal no mundo e conquistou uma legião de fiéis seguidores, chamados por James Hetfield de “família Metallica”, que lotaram o Morumbi em pleno dia útil para finalmente reencontrar o grupo, que deveria ter feito essa turnê em 2020, mas foi interrompida pela pandemia.
A relação do grupo com o Brasil é consistente e duradoura: vieram pela primeira vez em 1989 e nunca mais pararam, com a última passagem por aqui em 2017, em show no festival Lollapalooza. Depois de tanto tempo, existem poucas novidades para os fãs de Metallica em mais uma turnê da banda pelo país e mesmo quem nunca viu o grupo de perto parecia saber o que esperar quando “It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ’n’ Roll)”, do AC/DC, começou a tocar, anunciando a aproximação do início do show.
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Se engana quem pensa que isso torna o espetáculo do Metallica menos incendiário. Pelo contrário, existe uma cumplicidade poderosa entre a banda e os fãs desde o começo frenético em “Whiplash” até a despedida em “Enter Sandman”, com direito a brincadeira do frontman antes de tocar “Dirty Window”, do controverso álbum St. Anger (2003). Por duas vezes, Hetfield perguntou: “St. Anger?”, com alguns fãs balançando a cabeça negativamente em resposta.
O palco do show garante um espetáculo audiovisual: com telões gigantescos, labaredas impressionantes, canhões de luz que cortam o céu noturno e pirotecnia, a potência da devoção pela banda é aumentada e alcança todo o estádio. Em nenhum momento os clássicos da banda, lançados há algumas décadas, parecem um último suspiro de nostalgia. São músicas vivas, impressas no público, que se renovam a cada bater de cabeça, e os brasileiros estão longe de se cansar dessa experiência na pele.
“Faz tempo demais [desde nosso último encontro], não é mesmo? É lindo ver a família Metallica reunida”, comemorou o vocalista. “Não existe outro lugar no mundo onde a gente preferia estar, vivemos por isso”. As demonstrações de satisfação, meras formalidades protocolares para tantas bandas, pareciam genuínas pelos sorrisos de Kirk Hammett, o conforto evidente de Lars Ulrich e a palhinha de Robert Trujillo ao final com o refrão de “Paixão do Brasil”, além do bom humor contagiante de James.
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Assistir ao Metallica com tanta experiência, longe dos dramas de toda banda bem sucedida e dos abusos, com um ótimo entrosamento e estrutura magnífica tem muito valor, por mais que alguns insistam em chamar a banda de “batida” em alguma tentativa de se mostrar como um admirador de música alheio ao mainstream. Ainda bem que eles chegaram lá e podem proporcionar um espetáculo desses para a base de fãs em constante crescimento.
Quando o show chegou ao inevitável fim, a banda ainda passou diversos minutos no palco, jogando palhetas, cumprimentando a plateia e simplesmente aproveitando o momento. Do lado esquerdo do palco, Hetfield colocou as mãos sobre o coração e se curvou em agradecimento, abrindo os braços para absorver a energia dos gritos ensurdecedores daquela família, como se não quisesse ir embora ou já estivesse pensando em voltar. Pela reação do público, ele não era o único.
Veja abaixo uma galeria de fotos tiradas pela nossa colega Marta Ayora.
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