Texto por Thiago Vidal

Nos dias que se aproximam da apresentação dos gigantes do rock alternativo Smashing Pumpkins no Brasil eu me pego pensando sobre a capa de Mellon Collie and The Infinite Sadness, álbum clássico de 1995 e sua arte de capa. A figura de uma mulher à deriva que parece não se importar o mínimo com o momento retratado é provocante e contemplativa, e as raízes da sua criação despertaram a curiosidade que resultou nesse pequeno texto sobre a concepção da figura.

A imagem de capa é uma colagem criada por John Craig, ilustrador de Pittsburgh que vivia em Wisconsin na época. O vocalista Billy Corgan estava à procura de um artista cujo trabalho girasse em torno de pinturas vitorianas para o encarte do álbum e, mesmo após ter contato com o trabalho de John, o vocalista seguiu a procura de alguém que pudesse entregar o que ele tinha em mente inicialmente. 

Após o contato inicial com uma artista que faria as pinturas para o encarte que por algum motivo acabou por não dar certo, Frank Olinsky, diretor de arte do álbum, recomendou Craig. Apesar da incerteza por parte de Corgan, alguns rascunhos foram enviados via fax e algum tempo depois a colagem das crianças no campo foi criada.

“Me dê uma ideia do que você quer e deixe-me criar alguma coisa” John Craig com instruções de Billy Corgan

O trabalho da capa viria algum tempo depois após uma situação inusitada. A ideia seria originalmente um trabalho fotográfico com a banda num set com temática vitoriana e teria a assinatura de um fotógrafo francês, até ele pedir uma quantia altíssima de dinheiro pelo trabalho. Contente com as criações para o encarte, Billy foi convencido por Craig a dar uma chance para a arte de capa, após alguns faxes, nascia a garota à deriva em sua estrela particular. O rosto sonhador criado por Greuze e as mãos inquietas retratadas por Rafael foram rearranjadas por John, resultando em uma das capas mais interessantes do mundo da música

A criação tem uma forte conexão com os temas retratados no álbum. A sensação constante de insatisfação e a melancolia são perfeitamente retratadas nos olhos e expressões da garota perdida, as colagens e as músicas conversam como pedaços ainda existentes de um livro perdido.

John e Billy nunca chegaram a se conhecer de fato, o artista foi ao show de estreia do álbum e havia sido convidado para o after party mas nunca chegou a ir na festa por ter filhos recém nascidos. A garota à deriva que se tornou clássica ficou restrita a duas mentes brilhantes, alguns rascunhos e a (é engraçado imaginar que as pessoas realmente se comunicavam por esse meio) já obsoleta troca de fax.

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