Texto por Marcelo Gomes
No horário previsto para a abertura da casa, me assustei com a quantidade de fãs que se aglomeravam nas imediações, a fila dobrava o quarteirão, a ansiedade e euforia tomavam conta do público que estava ávido por ver um integrante da família Ramones de volta ao Brasil depois de tantos anos. Com a abertura atrasada, muitos descobriram na hora que o show seria praticamente um festival com 4 bandas de abertura.
Os shows começaram dentro da programação recém divulgada e a primeira banda foi a School Of Rock. Formada basicamente por adolescentes, apresentaram um repertório de covers que incluiu “Ace Of Spades” do Motorhead, “NIB” do Black Sabbath, “Burn” do Deep Purple e rolou até “Eu Quero Ver O Oco” dos Raimundos. Em pouco mais de 30 minutos conseguiram mostrar uma boa performance e arrancaram aplausos, destaque para a guitarrista e vocalista da banda que estavam bem seguras.
A próxima banda foi a Apnea, de Santos, que tem o Boka do Ratos De Porão na bateria. O som é bem diferente do Ratos, aliás destoou bastante do “festival”. Fazendo um som mais stoner, cheio de influências de Black Sabbath e até um pouco psicodélico. tocaram músicas de seu debut, Sea Sound”. Eu curto esse tipo de som, a banda é competente e as composições me agradaram, mas no geral, o público acompanhou e respeitou mas não chegou a se empolgar.
O Electric Punk conseguiu agitar a galera fazendo alguns covers de Buzzcocks, Dead Kennedys, fizeram também um som dos Inocentes, “Eu vou Ouvir Ramones” em homenagem ao Marky já que o guitarrista Ronaldo Passos faz parte da banda e tiveram tempo de apresentar uma faixa autoral, “Last Chance”.
O Supla teve a seu favor um som bem regulado, na qual apresentou várias músicas de sua carreira. Esbanjando energia, tocou “Charada Brasileiro”, “Ratazana De Iphone” na qual chegou a pegar um celular de um fã e devolveu a seguir, isso sem contar nas já famosas “Humanos” e “Garota de Berlim”. Fizeram também um cover bem legal de “Dancing With My Self” do Billy Idol.
Era chegada a hora e a apresentação do Marky Ramone´s Blitzkrieg foi carregada de emoção do início ao fim. Todo mundo sabe do carinho que o público brasileiro têm pelos Ramones. Há décadas, os fãs daqui demonstram sua devoção à banda americana e dessa vez, não foi diferente.
Trajando uma camiseta com os dizeres “Fuck Johnny Forgotten”, talvez uma menção “carinhosa” ao vocalista Johnny Rotten do Sex Pistols, Marky subiu ao palco mandando beijos para a galera e junto de seus companheiros Pela (vocal), Martin Sauan (baixo) e Marcelo Gallo (guitarra) começaram o show com “Rock And Roll High School”. Já na introdução de bateria inconfundível do Marky, os fãs enlouquecidos explodiram pulando e gritando “Hey, Ho, Let ‘s Go”. Se o público até então foi de certa forma comedido nas outras apresentações, tudo se transformou num turbilhão de emoções já nos primeiros acordes e ficou evidente que essa seria uma noite memorável.
Sem anúncio, João Gordo, vocalista do Ratos De Porão surgiu para cantar “Havana Affair”. Se perderam um pouco na execução mas logo se recuperam em “Commando”. A galera estava histérica e nem o som mal equalizado diminuiu a empolgação dos fãs que agitavam sem parar. O setlist foi cuidadosamente selecionado para esse show, passeando pelo vasto catálogo do quarteto americano. A avalanche de clássicos seguiu com “Beat On The Brat”, “I Don´t Care”, “Sheena Is a Punk Rocker”, entre outras. É quase impossível descrever a energia que estava rolando no Carioca Club lotado de Ramones maníacos.
Sempre anunciadas com o tradicional “One, Two, Three, Four” pelo baixista Martin, vieram mais uma daquelas sequências matadoras com Let’s Dance”, “Judy Is a Punk”, “I Wanna Be Your Boyfriend” mas foram com os hinos “Surfin Bird” com João Gordo participando novamente, “The KKK Took My Baby Away”, “Pet Sematary”, “I Wanna Be Sedated” e “Pinhead” com seu grito de “Gabba Gabba Hey” que incendiaram de vez os fãs e criaram uma sensação de nostalgia que somente um show desses poderia evocar. Aliás, como tudo sabe, o João é grande fã da banda e assistiu boa parte da apresentação do palco.
Uma grata surpresa foi quando incluíram duas músicas do disco Mondo Bizarro, foram as faixas “Tomorrow She Goes Aways” e “Anxiety” que para mim tiveram um significado especial já que foi o primeiro CD que comprei na vida. Se despediram com a homenagem que o Motorhead fez a banda na música “R.A.M.O.N.E.S.” e o Marky parecia um pouco irritado pelos problemas que teve com sua bateria.
Talvez por isso, a volta para o famoso “bis” levou quase 10 minutos. Voltaram com “You’re Gonna Kill That Girl” e seguiram com a versão de “Wonderful World” que o Joey Ramone gravou em seu disco solo e para fechar, não poderia faltar o hino “Blitzkrieg Bop” que foi o ápice da noite e foi difícil de acreditar que o show estava chegando ao fim. Mas como um verdadeiro show de punk, acabou de maneira apoteótica.
No final, a apresentação entregou tudo o que os fãs queriam. O lendário Marky Ramone no auge de seus 71 anos, mostrou que é a força motriz que nunca perde o ritmo. Os outros integrantes da Blitzkrieg são muito bons e capturaram o espírito cru dos Ramones. O setlist com mais de 30 músicas foi um sonho se tornando realidade e a resposta do público foi a prova do valor atemporal da música dos Ramones. Para quem não teve a chance de ver o original ou até mesmo quem viu, o Marky Ramone´s Blitzkrieg é uma emocionante viagem pelo legado da banda que mantém vivo o espírito punk dos Ramones.
Nossa colaboradora Jéssica Marinho também esteve por lá e cobriu o evento. Confira as fotos exclusivas logo abaixo.