O segundo dia de Lollapalooza Brasil trouxe rock de diferentes gerações para os palcos do evento, desde os fundadores do festival até os novos nomes do alternativo.
Neste sábado, 25, o plano original era trazer o pop punk nostálgico do Blink-182, como headliner, mas a banda cancelou a participação após Travis Barker sofrer uma lesão e passar por uma cirurgia. Para substituir, entrou em cena o Twenty One Pilots, donos de uma performance incendiária e já consolidada com o público brasileiro.
Na cobertura do Wikimetal, o dia dos roqueiros presentes começou com Pitty, seguindo com o favorito de Brian May e Mick Jagger, o britânico Yungblud, e seguiu com os responsáveis pela existência do festival: Jane’s Addiction.
Veja nossa cobertura e fotos exclusivas de Renan Facciolo abaixo. Leia a resenha do primeiro dia de evento aqui.
Pitty emociona e faz dançar em show recheado de clássicos
Às 14h40, Pitty subiu ao palco Adidas para uma multidão que cantou em coros emocionantes cada palavra dos clássicos da artista.
Após rodar o Brasil em turnê ao lado de Nando Reis, a cantora baiana agora se prepara para celebrar duas décadas desde o lançamento de Admirável Chip Novo em nova tour pelo país entre abril e julho. “A gente vai se encontrar muito na estrada esse ano, hein?”, lembrou aos fãs presentes.
No Lollapalooza, houve espaço para músicas recentes da carreira, com uma sequência de “Ninguém É de Ninguém”, a clássica “Memórias” e “Setevidas” logo no começo do show, navegando pelas muitas sonoridades exploradas na discografia, com direito a participação remota do Baiana System em “Roda”.
Mesmo assim, a grande explosão do show aconteceu nos clássicos da carreira de Pitty, em peso no setlist, nos quais o público cantava cada palavra, rendendo momentos emocionantes e que falavam por si da importância da artista no rock nacional.
Yungblud surpreende com show barulhento e atitude rockstar
Apesar dos pontos de melhoria quando se trata da distribuição de artistas de música mais pesada, geralmente isolados, certamente o Lollapalooza Brasil não é lugar para os “tiozões do rock” de mente fechada. A mistura de sons e cores do festival permite conhecer artistas que você jamais escutaria ao vivo em outras circunstâncias – e se surpreende positivamente, como no caso de Yungblud.
O som do britânico pode até não ser enquadrado como rock no sentido mais conservador, sendo categorizado como “pop punk”, mas existe peso e atitude inegáveis nas músicas do cantor, que já conquistou simpatia de grandes ícones do estilo. Mick Jagger elogiou a postura “post-punk” de Yungblud e disse que ele traz “um pouco de vida” ao rock n’ roll, enquanto Brian May chegou até a dar sermão nos fãs que viram a cara para o novo nome, com direito a uma comparação ao que Freddie Mercury passou.
Yungblud mostrou a que veio logo ao entrar no palco, em alto volume, correndo pelo palco e pulando sem parar ao longo da apresentação. Com som surpreendente pesado e sujo ao vivo, mesmo em faixas mais pop em estúdio, o músico mostrou toda a atitude rockstar necessária para justificar a multidão que pulava e cantava em frente ao palco Chevrolet: aprendeu a falar “abre mais” em português para pedir rodinhas (ainda que elas não tenham se formado), se jogou no público e soube dominar a plateia. A experiência ao vivo com Yungblud prova que Jagger e May não estavam errados.
Nem só de bom repertório vive um show – e Jane’s Addiction não contagiou no Lolla
A banda do criador do Lollapalooza, Perry Farrel, marcou presença mais uma vez no festival que deveria ter sido apenas a turnê de despedida do Jane’s Addiction, mas se tornou uma marca internacional com edições em vários cantos do mundo.
Sem Dave Navarro, impedido de sair em turnê por sequelas de COVID-19 na forma longa, a banda subiu ao Palco Chevrolet às 17h50 com Josh Klinghoffer na guitarra como substituto. Em ótimo horário e com grande público em frente ao palco Chevrolet, a banda mostrou a qualidade inegável de seu repertório, guiado pela voz afinada e distinta de Farrel.
Apesar disso, a maior parte do público assistiu ao show com interesse educado, sem acompanhar com palmas as ótimas deixas da bateria. Com exceção de dispersos fãs agitados, que dançavam intensamente, e as mãos erguidas mais perto do palco, as interações só chegavam ao final de cada música, sem grande animação por parte da plateia com as interações do frontman, que falava sobre o amor pelo Brasil e o quão especial aquela noite era, criando um quebra-cabeças em cada frase
Assim como no show solo da banda na última quinta-feira, 23, as bailarinas de cabaré da capa do disco Nothing’s Shocking são representadas no palco por dançarinas. Ao contrário do efeito na casa intimista (leia a resenha aqui), porém, a presença delas no Lollapalooza se perde no palco e não traz ao show nada mais edge ou envolvente, nem ao menos para justificar a atitude ultrapassada.
O show do Jane’s Addiction no Lollapalooza Brasil foi impecável em muitos aspectos, dos solos ferozes ao baixo ritmado, da bateria poderosa aos gritos certeiros do vocalista, mas nem mesmo um ótimo repertório foi capaz de envolver os presentes neste sábado.
Toda a emoção orgânica que faltou em boa parte do show ficou para o final, quando a banda fez uma homenagem para Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters e “um dos melhores músicos do mundo”, nas palavras de Farrell antes de iniciar o tributo intenso, entregue e de toque humano, que se encerrou cedo demais. Nesse momento, fotos da banda com Hawkins foram exibidas no telão e frases anteriores do vocalista do Jane’s Addiction (“Nós amamos o Brasil, amamos o oceano e amamos surfar”) foram explicadas.
Taylor Hawkins morreu há exatamente um ano, em 25 de março, às vésperas de realizar shows nas edições do Lollapalooza no Colômbia e no Brasil.