A edição de 2023 do Lollapalooza Brasil começou na última sexta-feira, 24, em um dia de sol sem perdão em São Paulo. Diferentemente do último ano, quando o festival investiu no rock de forma indireta com atrações pop, este ano o foco do festival foi atrair grandes multidões com nomes do pop e rap, deixando as atrações de rock e até de metal espalhadas no line-up dos três dias de evento.
O festival, que já teve Foo Fighters e até Metallica como headliners em edições anteriores no país, optou por dar mais espaço ao rock indie e alternativo, gêneros que são a cara do evento, com Modest Mouse e Mother Mother entre os destaques, mas seguiu com o aceno aos públicos de música mais pesada: foi o punk do Rise Against que fechou a noite para quem gosta de guitarras altas e letras rápidas.
Veja a cobertura do Wikimetal, com a galeria de fotos de Renan Facciolo abaixo.
Modest Mouse enfrenta calor escaldante no Lolla
Às 15h50, Modest Mouse chegou com alta energia ao Palco Chevrolet com seu indie rock colorido e dançante, trilha sonora perfeita para o versão sob o sol escaldante de São Paulo naquela tarde. A posição privilegiada, bem de frente ao Astro Rei, não passou despercebida ao vocalista Isaac Brook, que agradeceu o público por assisti-los mesmo assim.
Os fãs deixaram para chegar de última hora, provavelmente pelos horários apertados entre as atrações em outros palcos, e pareciam pouco animados a princípio, mas logo a multidão crescente na colina do palco rragiu com entusiasmo adequado ao som ora ensolarado, hora frenético, do Modest Mouse, e passados 30 minutos, o set da banda parecia afastar um pouco dos efeitos da alta temperatura.
Formada no começo dos anos 1990, a banda estadunidense perdeu recentemente o baterista e membro fundador Jeremiah Green, que morreu em 31 de dezembro de 2022, aos 45 anos, vítima de um câncer.
Mother Mother faz estreia impecável no Brasil
Anunciados no começo de março para completar o line-up do Lolla na sexta-feira após o cancelamento de outras atrações, os canadenses do Mother Mother trouxeram um indie de atmosfera mais fechada, mas de groove irresistível, ao palco Budweiser, às 16h55, em uma estreia impecável no país.
Com baixo densos e vocais elétricos de Jasmin Parkin, Molly Guldemond e Ryan Guldemond, sendo que os as cantoras revezam no teclado e o último também toca guitarra, o grupo conquistou um grande público e coordenou bem os fãs para saltar e bater palmas de acordo com os rumos ditados por uma guitarra suja e bateria forte.
Entre refrões contagiantes e ótima presença de palco da banda, o Mother Mother ainda fez um cover impressionante de “Creep”, do Radiohead. A banda certamente foi uma adição acertada no line-up do Lollapalooza Brasil. “Somos do Canadá e vocês são maravilhosos. Essa é nossa primeira vez no Brasil, obrigado por nos receberem nesse país lindo”, disse Ryan.
Rise Against fica isolado, mas faz palco ficar pequeno para tanta energia
O maior destaque para os fãs de música mais pesada do dia foi o Rise Against, banda responsável por fechar a noite no palco Adidas, às 21h15.
Assim como o Alexisonfire na edição do último ano, o Rise Against era uma atração de grande potencial para conquistar públicos maiores, mas a posição no line-up deixou a banda de punk rock completamente isolada, competindo única e exclusivamente com Billie Eilish, fenômeno pop que o público brasileiro aguarda há anos para ver ao vivo pela primeira vez.
Toda a parte mágica e desafiadora de conquistar novos fãs em festivais é prejudicada pela lógica de isolar nomes da música pesada assim. Como o vocalista Tim Mcilrath explicou em entrevista ao Wikimetal: “Sempre me animo para me apresentar para diferentes tipos de fãs de música, estamos na estrada há 20 anos. Sempre queremos ver novos rostos”.
Mas nada disso foi impedimento para o público fiel da banda, que compareceu em uma aglomeração agitada, que já clamava “Rise Against, Rise Against” antes das luzes se apagarem anunciando o show, às 21h15, com potência suficiente para preencher todo o Autódromo de Interlagos se necessário fosse.
Ao cantar “Swing Life Away” acústica, sozinho no palco, o frontman da banda brincou com um fã da grade. “Vou desacelerar porque você precisa de uma pausa. Eu e você precisamos”, disse com uma risada.
Altos e barulhentos, os norte-americanos trouxeram um setlist equilibrado entre clássicos queridos e faixas do Nowhere Generation, álbum mais recente, fazendo o palco ficar pequeno para a explosão de energia e conexão poderosa com a plateia, desde essas conversas de amigos entre frontman e plateia, chamando o público para se fazer presente “bem aqui, bem agora”, até Tim subindo na grade para diminuir a distância entre eles e os fãs.
A frustração de ver uma banda de performance tão arrebatadora isolada ao próprio público em um festival dessa proporção só pode ser aliviada pela visão dos fãs dançando ao fundo da multidão ou pulando perto da grade. Ali, o Rise Against estava em família.
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