Korn está em um momento especial da carreira. A banda de nu metal, formada em 1992, lançou o décimo quarto álbum da carreira, Requiem, em fevereiro deste ano. Em entrevista ao Wikimetal, o baterista Ray Luzier falou sobre a importância do novo disco e de estar cercado de pessoas que acreditam no propósito do grupo, da equipe aos fãs. 

O novo disco é um projeto intenso e representativo dessa fase de maturidade e uma certa plenitude frente ao caos, pessoal ou do mundo. No período longe dos shows, sem a pressão com prazos para seguir em turnê, a banda se reuniu o quanto antes para criar música e “se reunir enquanto irmãos, fazendo o que amamos”. 

A banda escreveu “17 ou 18” faixas para Requiem, mas apenas nove foram escolhidas para a tracklist final. Algumas descartadas eram muito queridas para o baterista do Korn. A escolha da banda foi criar um álbum sucinto e coeso, mas ainda assim foi difícil para Ray deixar certas músicas para trás no processo, motivo pelo qual ainda pode sair uma edição deluxe do disco, especialmente se depender dele.

“Sempre sou suspeito para falar, eu gosto do lado B de tudo. Claro que gosto dos sucessos, mas amo as que não vão para o álbum”, explicou. “Sempre encontro a beleza em tudo, [mesmo quando] não é tão apelativo ao lado comercial, sabe?”

Mesmo ciente do carinho de todos os músicos com os novos lançamentos (“Todos dizem que o novo é seu favorito”, reconhece), Luzier reafirma a importância de Requiem para o Korn. “Cada novo álbum é como dar à luz ao seu filho, à sua alma”, descreve. 

Ironicamente, a estreia ao vivo do álbum foi mais pautada na morte. A banda realizou um show em formato de missa fúnebre na Igreja Metodista Hollywood United, em Los Angeles, com os fãs usando roupas de funeral.

A decisão pelo local chocou algumas pessoas, mesmo com a conversão de alguns músicos da banda ao cristianismo, mas o resultado foi ótimo – e o pastor era fã do Korn, no final das contas. A única limitação foi com palavrões, sob pena de multa de 1,5 mil dólares por palavra de baixo calão dita, então Jonathan Davis precisou modificar levemente as letras.

Criado em uma igreja protestante estrita na qual a fé era “enfiada goela abaixo” sem espaço para questionamentos, Luzier tem suas crenças, mas é no metal que parece depositar a maior parte da própria religiosidade. Quando a pandemia impediu turnês, o baterista ficou inconsolável por reconhecer como os shows são uma experiência transcendental para todos os envolvidos. “Não é simplesmente ‘Ah, vamos ver minha banda de rock favorita’. É terapia para as pessoas”, disse.

O baterista já tocou com David Lee Roth e Army of Anyone, mas nada se compara à relação dos fãs com a música do Korn. Apesar de todo artista escutar histórias sobre a importância do próprio trabalho na vida de quem ama as músicas, com a banda vai mais além. “As pessoas vão até o Jonathan e dizem: ‘Você salvou minha vida. Por causa do Korn, estou aqui hoje’. É muito pesado e poderoso, muitas vezes ele nem sabe como reagir”, contou. 

Com um efeito tão potente em seus seguidores, o grupo encontra plenitude em frente ao caos do mundo com o lançamento de Requiem. O caos no seio do Korn também se cura com a música, seja o afastamento de Fieldy ou das batalhas da banda após diversos integrantes contraírem COVID-19 na estrada, em uma teimosia apaixonada para seguir em frente. 

Com isso, não devemos nos preocupar com brigas internas capazes de encerrar esse projeto de mover legiões fervorosas, assim como qualquer outra religião. “Não temos 23 anos de idade, estamos chegando aos 50. Apreciamos ainda poder fazer isso para viver e que os fãs ainda aparecem [para nos ver]. É 100% por eles. O Korn é maior que todos nós. Não é apenas uma banda, é um movimento”. 

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