Texto por Marcelo Gomes
Uma coisa inegável é que o Kool Metal Fest já é um patrimônio da música pesada no Brasil. Tanto que estão comemorando 20 anos em 2024 e os amantes da música pesada ganharam a segunda edição no mesmo ano com nada menos que Possessed e Venom Inc. O festival rolou no último domingo, 09, na Vip Station e contou ainda com os brasileiros do Facada, Cemitério, Velho e Vulcano.
A tarefa de abrir o festival ficou por conta do Facada. Apesar de ter sido a primeira banda, o público já estava em um bom número e trio de Fortaleza (CE) começou a desgraceira assim que subiu no palco. Apresentando o melhor grindcore, conseguiram uma recepção calorosa durante todo o show, inclusive com algumas rodas. Seu som rápido e visceral parecia um caminhão desgovernado que deixava até os fãs mais radicais, atordoados.
O Cemitério veio a seguir. Começaram com “A Volta dos Mortos Vivos”, seguida por “A Vingança de Cropsy” e “Quadrilha De Sádicos”. O trio, que tem suas letras baseadas em filmes de terror cantadas em português, vem se destacando como um dos nomes mais fortes da cena atual. Esse show veio para provar isso.
O vocalista e baixista, Hugo Golon, não perdia tempo e mandava uma atrás da outra. O público respondia cantando e fazendo rodas. A parte final do show ainda teve “Sexta-Feira 13”, “Holocausto Canibal”, “Natal Sangrento” e se despediram com “Morte Infernal”, uma versão em português de Infernal Death da banda Death.
A grande surpresa do dia para mim, foi o Velho. Antes de começar a apresentação, o público já gritava seu nome. O quarteto de black metal do Rio de Janeiro surgiu no palco com corpse paint (pintura facial usada por bandas do estilo) impactando os presentes com aquele visual sinistro.
Fizeram parte do repertório músicas como “Mais um Ano Esfria”, “Cadáveres E Arte”, “Coma Induzido”, “Satã, Apareça!”, entre outras, que cantadas em português, fizeram desse show um culto ao obscuro, tamanha a participação dos presentes. Sem dúvida alguma, um dos pontos altos do festival.
Os veteranos do Vulcano vieram para fechar a participação dos brasileiros no festival. Com um setlist baseado em seu disco de estreia, Blood Vengenace, a banda liderada pelo guitarrista fundador, Zhema Rodero, mostrou a importância desse clássico em músicas como “Holocaust”, “Dominios Of Death”, “Incubus”, entre outras que fazem parte da história da banda como “Witches Sabbath” e “Guerreiros De Satã”. O ponto negativo ficou pela péssima equalização do som, mas que foi superada pela garra da banda. Se despediram prometendo um álbum novo para 2024.
A encarnação do Venom com o Tony Dolan chegou para escancarar as portas do inferno. A atual formação do Venom Inc conta, além do Tony Dolan (vocal e baixo), com Curran Murphy (guitarra), substituindo Mantas da formação original que teve problemas de saúde, e Marc Jackson (bateria). A banda iniciou sua apresentação com dois hinos da fase Cronos, “Witching Hour” e “Bloodlust” que foram suficientes para deixar os fãs insanos e a banda ser ovacionada.
As composições da atual fase da banda se fizeram presentes. Faixas como “Come To Me”, “War” e “Inferno” mostraram que a banda conseguiu manter sua essência nesse novo momento. Os fãs reagiam das maneiras mais insanas possíveis, subindo no palco, fazendo mosh pit e acenderam até um sinalizador na pista. O trio respondia com uma performance eletrizante, especialmente do guitarrista Curran, que batia cabeça e corria de um lado para o outro do palco.
Mais uma sequência poderosa de clássicos veio, executaram “Welcome To Hell”, “Live Like An Angel”, “Carnivorous” e “In Nomine Satanas” para incendiar mais ainda o público que parecia possuído. Intercalaram com uma nova, a excelente “There´s Only Black” do homônimo lançado em 2022. Não fazia diferença se era material novo ou mais antigo, a reação era sempre brutal. A pista estava pegando fogo e o calor era absurdo.
Sem misericórdia, o Venom Inc proporcionou uma viagem ao reino da escuridão. O trecho final teve “Black Metal”, “In League With Satan”, “Countess Bathory” e “Sons Of Satan”. A apresentação avassaladora da banda, que definiu um gênero através do seu álbum Black Metal, provou que seu lugar na história do metal é inabalável e segue forte com o Venom Inc.
A expectativa estava enorme para o retorno do Possessed ao Brasil após 11 anos. Os americanos são uma grande referência dentro do death metal mundial, e aqui no Brasil, não é raro ver um headbanger usando a camiseta da banda. Com 15 minutos de atraso, às 20h15, o lendário vocalista Jeff Becerra surgiu acompanhado por Daniel Gonzalez (guitarra), Claudeous Creamer (guitarra), Robert Cardenas (baixo) e Chris Aguirrez (bateria) para mostrar o porquê são umas das maiores referencias do estilo.
Abriram com “No More Room In Hell” e “Damned” do último álbum Revelations Of Oblivion (2019), provando que quem é rei nunca perde a majestade. A essência da banda continuava intacta e Jeff foi reverenciado como merece, seu nome foi gritado logo no início. O vocalista mesmo numa cadeira de rodas fazia questão de se movimentar e retribuir o carinho dos fãs. Ainda na segunda música entregou um setlist para um sortudo. Becerra parecia incomodado com o som, pelos gestos, dava a entender que não ouvia as guitarras e sua voz.
Os fãs possuídos queriam mais, então vieram “Pentagram”, “Seance”, “The Word” e “Storm In My Mind”. Essa última com Daniel se destacando na introdução. A banda parecia um rolo compressor prestes a devastar almas enquanto a pista se transformava num verdadeiro pandemônio. O que chamava atenção era como conseguiam abrir rodas com a casa tão lotada.
As luzes vermelhas deram o tom da apresentação, uma verdadeira imersão ao mundo das trevas. A brutalidade de “Dominion”, “The Eyes Of Horror”, “Tribulation” e “Graven” pareciam ter levado o público ao seu limite.
O cansaço estava ganhando espaço até que tocaram o clássico “The Exorcist” e a devastação na Vip Station foi reestabelecida com sucesso. Certamente, um dos momentos altos da apresentação que levou cada um que estava presente a liberar seus demônios, selando um pacto de arrepiar entre o público e Possessed.
O show estava se aproximando do fim, mas ainda teve tempo para “Demon”, “Fallen Angel”, na qual Jeff deu o microfone para algumas pessoas fazerem uns guturais, “Death Metal” e para fechar, “Burning In Hell”.
A intensidade da apresentação seguiu forte até o final. Nas rodas, era possível ver pessoas com sinalizadores celebrando essa noite histórica.
E o que dizer do Jeff Becerra? O cara é um guerreiro do metal, a verdadeira definição de resiliência. Em todo show esbanjou força e carisma servindo de inspiração a todos nós. O festival foi um sucesso, tudo ocorreu bem e dentro dos horários, e o resultado foi um público mais que satisfeito. Com certeza, essa edição consagrou definitivamente o festival celebrando o metal extremo.