Com um line-up feroz, a edição de 2022 do Kool Metal Fest aconteceu no último domingo, 29, no Carioca Club, em São Paulo. O retorno do evento trouxe ao palco sete bandas de metal extremo, passando do thrash metal ao hardcore, com apresentações frenéticas, protestos políticos, estreia de banda na cidade e a continuidade da antiga relação de outras com os fãs, com destaque à força do metal extremo brasileiro entre as atrações.
Pouco depois das 14h, quando boa parte do público ainda estava chegando ou em fila nas lojinhas de merch na área externa, a banda paulista Cerberus Attack chegou para iniciar os trabalhos do dia com energia impressionante, logo correspondida pela plateia já presente com aplausos eufóricos e uma rodinha.
Alguns dos problemas técnicos que surgiriam ao longo do festival já apareceram, mas foram superados sem problemas com a presença de palco elétrica do guitarrista Marcelo Araujo e comunicação do frontman Renato Moulin, que resumiu bem o Kool Metal Fest como uma “verdadeira celebração do underground e metal extremo”.
A entrega total do Cerberus Attack já mostrava o tom das próximas apresentações e a banda deixou o palco ao som de “mais um, mais um!”, sem poder alongar o set para não atrasar os demais shows. Foi também no show da banda em que as primeiras manifestações políticas contra o atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro surgiram, com o coro de “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*”.
As cortinas pareceram se abrir cedo demais para o black metal do Vazio, sem nenhum aviso ao público presente sobre o começo de mais um show, mas logo a imagem da banda de costas, ao som de uma intro opressiva, capturou a atenção dos fãs. Divulgando o álbum Eterno Aeon Obscuro (2020), o grupo tem uma abordagem mais performática, característica do gênero, e entregou um show de qualidade ímpar, guiada pelos vocais impressionantes de Renato Gimenez, deixando a plateia mais uma vez desejosa de mais ao se despedir sob os gritos pelo Vazio.
A espera pela terceira banda do dia se tornou elétrica conforme mais fãs se aglomeravam perto do palco. Na primeira turnê da carreira e estreia em São Paulo, Crypta era um dos nomes mais vistos nas camisetas do público – e foi o primeiro show do Kool Metal Fest com um séquito fervoroso de seguidores presente. Enquanto os roadies trabalhavam para ajustar o palco, o coro pela banda começou, assim como novos protestos contra Bolsonaro.
A presença de palco das integrantes da banda de death metal é hipnótica, com Fernanda Lira como uma frontwoman impressionante e capaz de dominar o público a todo instante com intensidade devidamente correspondida pela plateia, com direito a fã subindo na grade e lamentos sinceros com o fim do set. “Nada existiria se não fossem vocês”, agradeceu a vocalista e baixista.
Recém-chegados de uma turnê pela Europa, o Nervochaos encontrou um público mais do que aquecido, com a casa bem cheia, mosh pit e o público cantando. A voz de Brian Stone não se fez tão presente pela altura do microfone, mas os experientes representantes do thrash e death metal brasileiro fizeram um show imparável mesmo assim.
A chegada do Krisiun ao palco foi digna da realeza do death metal brasileiro diante de súditos fiéis. Com o Carioca Club lotado, os gaúchos hipnotizaram a plateia com um dos shows mais potentes da noite, mostrando uma conexão poderosa com os fãs.
“Aqui é metal, doa a quem doer nessa porra”, pontuou Alex Camargo após uma nova onda de protestos contra o presidente, devidamente apoiados pela banda. No público, havia um mar de corpos batendo cabeça, no crowd surfing e cantando todas as letras antes de gritar o nome da banda nos intervalos da apresentação.
Os únicos estrangeiros do line-up chegaram algum tempo depois. Os austríacos do Belphegor trouxeram seu black metal potente ao palco, parecendo figuras de outra dimensão sob a luz azulada, criando cuidadosamente uma atmosfera sombria. O contraste com a explosão do Krisiun fez parecer que o público não estava tão envolvido, mas haviam muitos entusiastas na plateia, obedientes aos comandos dos integrantes da banda.
Perto das 20h30, o Ratos de Porão invadiu o palco para fechar a noite com um show político e pesado, destruindo tudo desde a primeira faixa até o final da apresentação, sem dúvidas a mais intensa do evento. Os problemas técnicos voltaram a aparecer, mas os fãs preenchiam qualquer pausa com votos pela saída de Bolsonaro do governo ou assistindo enquanto os mais corajosos se preparavam para se jogar na plateia. Os headliners comemoram 40 anos de carreira e também o lançamento do álbum mais recente, chamado Necropolítica (2020).
Veja a galeria de fotos tirada pelo nosso colaborador Wellington Penilha abaixo.
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