Após dois anos de preparação, a segunda edição do Knotfest Brasil finalmente abriu suas portas para dois dias de shows marcantes – após ter sido adiada. O primeiro dia de evento levou ao Allianz Parque, em São Paulo, aquela já conhecida multidão que moldou seu gosto musical baseado nos anos 90 e 2000, usando os clássicos moletons da Adidas, camisetas com as bandas da época, e claro, fãs fantasiados com o look da banda idealizadora do festival: Slipknot. A chuva não espantou o público que compareceu desde o início, e foi comparecendo com o passar o dia. 

Novas gerações e veteranos no primeiro dia do Knotfest

O dia foi marcado por shows inesquecíveis. E apesar do show mais esperado ser o do Slipknot, teve apresentações para todos os gostos, equilibrando entre os veteranos como Mudvayne, Dragonfoece e POD e as novas gerações como Poppy, Bad Omens e Babymetal. Além das bandas nacionais que representam quase metade do lineup. Abrindo as apresentações do sábado no palco Maggot Stage, as brasileiras do Eskrota estreiam no Knotfest, levando seu crossover politizado ao Allianz Parque. A banda composta majoritariamente por mulheres e que buscam conquistar esse público, estão dando cada vez mais evidência para o mulher no rock, e são a atração mais esperada do Knotfest pelos leitores do Wikimetal. A apresentação foi calorosa, logo cedo, reunindo muitas pessoas que agitaram com mosh e os fãs de longa data que cantaram todas as músicas. 

Abrindo o palco principal, KnotStage, os suecos do Orbit Culture mostram o porquê tem sido tão elogiados pelo mundo. Estreando no Brasil após 10 anos de formação, eles ganharam elogios de nomes como Trivium e Machine Head. A banda fez uma apresentação poderosa, deixando a multidão agitada com energia. Os rosnados do vocalista Niklas Karlsson estavam tão ferozes e com uma técnica que surpreendeu o público. Com certeza, saíram do palco com uma nova legião de fãs. A ideia do festival foi intercalar as bandas nacionais e as internacionais entre os palcos, seguindo essa ideia, a próxima banda a se apresentar foi o Kryour. A banda brasileira de death metal melódico vem ganhando destaque e conquistando seu espaço entre os nomes do metal nacional. Os jovens integrantes mostraram sua habilidade e técnica em um show rápido mas muito caloroso. 

A velocidade do Dragonforce marcou presença no Knotfest Brasil 2024

Representando os veteranos, Dragonforce mostrou ao público mais jovem que fazem jus ao título de lendas do power metal. A banda tem uma habilidade e ouso falar que é a banda mais rápida do metal, surpreendendo todos que tiveram o prazer de assistir essa apresentação. O show contou com duelos épicos de guitarra de alta velocidade e um setlist de músicas memoráveis. Claro que não podia faltar a mais famosa no setlist, “Through the Fire and Flames”, que muitos ali conheciam devido ao jogo Guitar Hero – e que aposto que a maioria não sabia quem era -, e para nossa surpresa, covers inusitados do clássico “My Heart Will Go On” da Celine Dion e “Wildest Dreams”, da Taylor Swift. A celebridade pop apareceu no telão em uma foto vestindo a camiseta da banda. Dragonforce entregou uma festa, uma celebração.

Representando bem o metal nacional neste sábado, vamos falar de bandas que com certeza quase todo mundo já assistiu pelo menos uma vez: Eminence, Project 46, Krisiun e Ratos de Porão. Bandas que são destaque no Brasil, partindo dos novatos (mas nem tanto) do Eminence. Carregando o sangue do tradicional metal mineiro, entregaram um show digno de grandes festivais da gringa. Neste momento, a garoa começou, mas isso não impediu que o show fosse tão impactante quanto os anteriores. Project 46, subiu ao palco do Knotfest Brasil pela segunda vez, com uma banda reformulada mas que mantém a potência que os fez ganhar destaque. Krisiun e Ratos de Porão, os maiores do death metal e punk/hardcore no Brasil, dispensam comentários. Fizeram o que sabem fazer de melhor, rendendo muito mosh e rodas. 

40 anos de carreira do Meshuggah

Voltando às bandas gringas, que realmente foi o motivo da maioria do público comparecer. O Meshuggah subiu ao palco carregando uma experiência de quase 40 anos de carreira. A banda sueca se apresentou após oito anos da sua última passagem pelo Brasil. E entregou um show potente que revisitou singles de quase todos os discos da carreira. Tudo isso além de singles do último álbum Immutable (2022). O show do Meshuggah desafiou o público comum, através de estruturas musicais complexas e cheias de peso, fugindo das convenções básicas do metal progressivo. Este show garantiu que a banda aumentasse sua base de fãs.

Outra banda veterana e muito aclamada também foi um dos destaques do festival, apesar de ser um pouco fora dos estilos do lineup. Amon Amarth levou sua temática icônica para o Knotfest Brasil, com um palco ao estilo viking que serviu de piada para alguns e emoção para outros. O acontecimento que rendeu memes não podia faltar: fãs (e entusiastas) remando uma Drakkar imaginária durante a música “Put Your Back Into the Oar”.

O esperado show do Mudvayne no Knotfest Brasil

Além do SlipKnot, o show mais esperado, sem dúvida, foi o Mudvayne. A banda americana fez sua estreia no Brasil, sendo ovacionada pelos fãs de new metal que esperaram anos para finalmente assistir um dos ícones do estilo. Após altos e baixos, a personificação do new metal elevou o nível do estilo com sua música agressiva e rápida. Além do visual marcante com maquiagem e vestimentas que fizeram os jovens da época se identificarem rapidamente. Ver uma banda como o Mudvayne de volta sentindo o amor dos fãs enquanto se envolve com novos fãs do gênero é algo incrível. E quem esteve presente neste sábado, fez parte dessa história.

O setlist do Mudvayne contou com todos os hits da carreira, e provaram que continuam energéticos, apesar dos vocais de Chad não alcançarem tão bem as notas. O guitarrista original Greg Tribbett não esteve presente nos shows devido a problemas familiares, sendo substituído pelo guitarrista de turnê Marcus Rafferty. Ele já atuou como técnico de guitarra para várias bandas de metal. Uma estreia memorável que esperamos há anos, provando que Chad estava certo, pois sua motivação para reunir a banda foram os fãs, incluindo aqueles que descobriram a banda durante sua ausência.

Experiência Knotfest além dos shows

É inevitável a comparação da edição de 2022 com a de 2024. A principal mudança, sem dúvida foi o local. O festival propõe uma experiência para além da música, e um show no estádio tem seus prós e contras. Mas em nossa opinião, foi melhor que no Anhembi. Há mais mobilidade entre os palcos MaggotStage e KnotStage, que desta vez ficaram uma ao lado da outro. Essa disposição permite aos fãs assistirem todos os shows sem precisar andar muito.

Os shows no estádio são ótimos pela estrutura. Há pontos de hidratação e até área coberta, ponto importante para o dia chuvoso. Há também um espaço para tatuagem e o famoso SlipKnot Museum. Tudo isso na área coberta, dando mais tranquilidade e permitindo melhor aproveitamento. 

O museu estava nos andares de cima do estádio, sem muitas novidades. Devido ao processo da família do Joey Jordison contra o Slipknot, não havia nenhum item do ex-baterista, morto em 2021. 

Desta vez, a curadoria musical investiu em mais bandas modernas e nacionais. O público realmente esperava mais bandas de fora, do que metade de um lineup com bandas brasileiras. Houve muita reclamação diante dos horários das apresentações, que foi intercalado, colocando as bandas gringas muito cedo, mas dando espaço para as bandas brasileiras tocarem antes da banda principal. 

O Knotfest promete oferecer a mesma experiência imersiva ao mundo do grupo, sendo uma ótima atividade para quem não conhece a banda. Para os fãs mais saudosistas, a opinião fica dividida, com uma nota geral mediana. 

Slipknot, mais uma vez, se prova como gigante do metal

Este foi um daqueles shows em que eu não tinha quase nenhuma expectativa sobre o que esperar, embora já tenha visto 8 shows da banda, em países diferentes. Apesar de um festival cheio de shows maravilhosos e atrações diversas, os maggots – como são chamados os fãs dos mascarados de IOWA -, não viam a hora de assistir ao Slipknot, e a todo momento ovacionavam o nome de Eloy. 

A banda esteve no Brasil em 2022, no Rio de Janeiro e na primeira edição do Knotfest, em São Paulo, mas nem esse intervalo de pouco tempo segurou a emoção dos fãs. Muitos ali tiveram a chance de assistir a banda pela primeira vez, e para sorte, com um setlist bem diferente do que a banda vinha entregando. 

A expectativa estava dobrada, graças a estreia do brasileiro Eloy Casagrande, que rendeu ao SlipKnot muito mais visibilidade e engajamento. Logo na entrada, Corey Taylor (voz), Shawn “Clown” Crahan (percussão), Mick Thomson (guitarra), Jim Root (guitarra), Sid Wilson (DJ), Alessandro Venturella (baixo), Eloy Casagrande (bateria) e Michael “Tortilla Man” Pfaff (percussão) colocaram o Allianz Parque abaixo – apesar do som não estar dos melhores, ficando abafado para o público que estava mais atrás na pista.

Um setlist inesquecível para fechar o 1o. dia do Knotfest Brasil

Para nossa alegria, a banda soube dosar bem seu setlist, com os maiores hits dos seus quase 30 anos de banda. Músicas dos 3 primeiros álbuns foram as mais escolhidas, deixando totalmente de lado o último disco The End, So Far – que cá entre nós, foi o menos ovacionado da banda. A banda também tocou um single do álbum All Hope Is Gone (2008), “Psychosocial” e uma do We Are Not Your Kind (2019), “Unsainted”. Como a banda promete um show com o primeiro álbum tocado na íntegra, esperávamos para este show de sábado um setlist com menos canções do Self Title. A icônica canção “Spit it Out”, foi a penúltima, e sem a famosa parte onde o público abaixa e se prepara para o mosh pit.

O público brasileiro sempre será um destaque, o que faz com que as bandas adorem tocar aqui. E agora, o Slipknot tem uma parte brasileira, o que torna tudo muito melhor e mais mágico. Para os fãs de longa data, a entrada do Eloy foi um marco muito importante, dando mais emoção e prazerContudo, a experiência se torna completa em cima do palco. 

A maturidade adquirida pelo grupo ao longo de mais de duas décadas de estrada é notória. Os músicos transmitem hoje mais confiança do que nunca e a essência se iguala à de bandas contemporâneas devido ao profissionalismo, mas criando o mesmo caos, adrenalina e emoções dos anos 2000.

Amanhã, no segundo dia do Knotfest Brasil, o show será em comemoração do álbum de estreia, onde o Slipknot irá tocar o disco na íntegra.

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