Foram três anos desde o anúncio do show do Kiss em São Paulo, nos telões do festival Rockfest, até que a despedida da banda finalmente se realizasse no último sábado, 30, no Allianz Parque com a End of The Road Tour. Os gigantes trouxeram um show explosivo que, apesar de cronometrado, foi capaz de provar como a magia do rock n’ roll ainda está viva – e não vai embora tão cedo.
Como é de praxe, tinham se passado 20 minutos do horário previsto quando Paul Stanley, Gene Simmons, Tommy Thayer e Eric Singer subiram ao palco para encontrar o estádio cheio de fãs. Na plateia, tinha gente de diferentes cantos do Brasil e de todas as faixas etárias, algo que causou espanto em uma das funcionárias da segurança do evento. “Esperava que só tivesse velho aqui, mas tem muito jovem. Kiss é da minha época, dos anos 1970, mas tem muita criança também, nunca imaginei isso”, disse em uma conversa rápida antes do show.
De fato, o público do Kiss continua se renovando e a banda não perde a lealdade de quem se apaixonou lá no começo. Perto da grade, era fácil achar quem estava no primeiro show dos norte-americanos na vida, sendo eu parte deste grupo, e quem já contava outras experiências no culto ao vivo. Uma fã especialmente dedicada narrava a jornada de acompanhar toda a turnê brasileira, estando ali no terceiro show apenas este ano e décimo quinto no total.
O entusiasmo ao ver a banda surgir no alto do palco ao som de “Detroit Rock City”, primeiro de tantos sucessos da noite, parecia ser universal naquele momento. Com um setlist apenas de clássicos da carreira de mais de 40 anos, o Kiss trouxe uma produção impecável que faz valer o preço do ingresso: são fogos de artifício, labaredas impressionantes, telões e plataformas para fazer o melhor show da história na despedida.
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Sob a liderança carismática de Stanley e a presença icônica de Simmons, o show é ensaiado nos mínimos detalhes. A experiência e as necessidades de uma turnê tão extensa assim o exigem, mas não faz diferença saber se os discursos de tom intimista do vocalista ao elogiar a plateia são os mesmos de toda outra cidade: São Paulo queria a experiência completa e assim foi feito, com espaço para espontaneidade quando um grilo pousou no microfone de Paul, que conversou com o inseto antes de “Lick It Up”.
Uma criança próxima ao palco se dividia entre a euforia e o medo. A emoção de ver os ídolos e receber acenos de Thayer se contrapunha ao medo da artilharia incandescente da banda e explosões no palco, assim como outrora o sangue cuspido pelo The Demon apavorava os mais jovens em outras décadas. The End Of The Road Tour é um espetáculo milimetricamente calculado no qual cada personagem tem um momento para brilhar, mas nem por isso se torna menos real e emocionante.
Cada integrante da banda tem destaques dentro do setlist. Se algumas vezes a persona de Simmons parece ter envelhecido mal com as insinuações sexuais descaradas, a performance de “God of Thunder” é capaz de nos transportar no tempo. Apesar da idade, Stanley é o showman perfeito, ciente do próprio magnetismo em um flerte constante com a plateia, mesmo sem uma voz perfeita após tanto tempo de vida e estrada. Os agudos roucos do vocalista controlam a plateia e alguns refrões são jogados para o público, com auxílio do backing dos demais integrantes, com direito a malabarismos a cappella antes de “Cold Gin”. Se existe uso de playback, como muitos afirmam, não é constante e nem prejudica a qualidade do show.
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Já Singer e Thayer também mostraram, pela última vez, o valor que possuem. Os “novatos” da banda incorporam os personagens que herdaram de Peter Criss e Ace Frehley, com um gato divertido brincando nos solo de bateria e um homem espacial muito simpático explodindo cenografia com a guitarra de outro mundo.
A teoria da importância de se despedir no topo se provou mais do que correta: quando Paul Stanley verbalizou as palavras temidas (“Hoje à noite, nos despedimos”), foi impossível conter o aperto no coração. Aqueles são rostos (ou maquiagens) que sempre estiveram ali, no Olimpo do rock, e é difícil imaginar como será sem esperar por uma nova turnê da banda pelo Brasil.
O comentário espontâneo daquela segurança e os olhos ora assustados, ora encantados do menininho perto da grade mostram o poder do espetáculo gigantesco do Kiss. A magia da banda e do rock, independentemente de comentários do baixista sobre o mercado, se mantém viva e flutuava no ar mesmo após “Rock and Roll All Nite”, com o público relutante a deixar aquele templo de adoração onde todos os sonhos pareciam possíveis.
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