Texto por Marcelo Gomes

Depois da enorme expectativa sobre a permanência do Kiko Loureiro no Megadeth, o guitarrista marcou duas apresentações (8 e 9 de dezembro) solo em São Paulo. Nem precisa dizer que os ingressos evaporaram em poucos minutos.  Os sortudos que conseguiram algum desses cobiçados ingressos tiveram uma verdadeira aula de virtuosismo e bom gosto na apresentação. 

Toda essa hype em cima de seu nome atraiu desde os fãs antigos, os que chegaram agora, além de curiosos sobre o brasileiro que tocava numa banda estrangeira. Talvez o que a maioria não soubesse, era que a apresentação seria baseada em seu material solo e praticamente nada ou pouca coisa do Angra e Megadeth. Mas ao contrário do que pode se prejulgar sobre seu trabalho instrumental, Kiko tem um excelente trabalho solo e uma versatilidade que vai do metal à música brasileira passando pelo jazz e fusion. Todos esses elementos resultam numa música sofisticada e ao mesmo tempo atrativa aos ouvidos de todos.

Para acompanhá-lo, escolheu um time de primeira formado por Luiz Rodrigues (guitarra), Junior Braguinha (baixo) e Luigi Paraventi (bateria). A noite começou com “Overflow”, faixa do premiado Open Source de 2020. Bastou as primeiras notas para que o público ficasse hipnotizado com a virtuose do guitarrista. Sem conversa, emendou com “Reflective”. Mais uma vez, suas habilidades impressionaram, em meio ao um ótimo groove, conseguiu uma linda melodia na guitarra provando não ser preciso ter uma bela voz para demonstrar seus sentimentos. O ritmo acelerou com “Escaping” mas ficou evidente que não é sobre velocidade e sim como deixar partes complexas, atraentes aos olhos de um leigo, isso o Kiko faz com maestria encantando à todos.

O primeiro contato com os fãs foi falando sobre a saudade de tocar em São Paulo, aliás faz quatro anos desde a última vez. Sem se estender, tocou mais duas do Open Source, dessa vez “Vital Signs” e “Dreamlike”.  O público que acompanhava atentamente o trabalho brilhante de guitarra, conferiu os detalhes minuciosos da execução irreparável que deu o merecido status de guitar hero ao Kiko. Os fãs pareciam em choque diante de uma entidade. O legal desses shows mais intimistas é isso, ver o artista que você gosta de perto, mostrando suas facetas bem na sua cara. As influências brasileiras se fizeram presentes de maneira mais evidente em “Pau De Arara”, dentre seus acordes iniciais, Loureiro tocou o riff inicial de “Hunters And Prey” do Angra que também tem esse estilo. 

De posse de seu violão, tocou “Conquer Or Die” do Megadeth para delírio dos fãs que ansiavam por algo da banda. A faixa instrumental caiu como uma luva no repertório, saciando a vontade de todos que queriam ouvir esse material. Para acalmar um pouco, veio “No Gravity” do álbum homônimo. Kiko explicou que gravou esse álbum na pausa das gravações do Temple Of Shadows do Angra, sendo seu primeiro disco solo. A seguir, a brasilidade aflorou em “Feijão De Corda”, música que nasceu em  homenagem ao Alceu Valença e deu espaço para uma grande jam entre os integrantes da banda arrancando muitos aplausos da plateia. “Du Monde” encerrou essa parte de maneira incrível, Loureiro ainda inseriu algumas notas de “Rebirth” em seus acordes iniciais fazendo os fãs voltarem no tempo e matar as saudades.

A volta para o bis foi com “Nothing To Say”, clássico do Angra  que possui o riff mais emblemático da carreira do guitarrista e até hoje faz a galera pirar.  Mas o que é bom dura pouco e se despediram  com a complexa “Enfermo”, numa performance eletrizante.

O guitarrista continua afiadíssimo e em pouco mais uma hora, Kiko mostrou porque é reconhecido mundialmente. Seu estilo inconfundível consegue unir  técnica e bom gosto, transformando suas músicas em algo inspirador para todos. Não é à toa que ao longo de três décadas se tornou a maior referência da guitarra no Brasil, um exemplo a ser seguido por qualquer um que queira seguir essa profissão.

Categorias: Notícias Opinião

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