Texto por Marcelo Gomes
O lendário Jethro Tull finalmente voltou ao Brasil. Após adiarem a turnê de 2020 por conta da pandemia, a banda retornou ao país para uma série de shows com sua turnê Rokflote Tour 2024 que passou por Porto Alegre, 10, Curitiba, 12, e teve o encerramento na cidade de São Paulo. A apresentação aconteceu no Vibra São Paulo que foi adaptado para um anfiteatro, com todos sentados, e teve a maioria dos setores esgotados.
Antes da apresentação, um aviso foi exibido nos telões dizendo que não seria permitido fotos e vídeos durante o espetáculo. A justificativa foi que isso poderia tirar a concentração da banda. Meio a contragosto, quase a totalidade dos presentes respeitou e quem ousava em sacar o celular, era abordado por algum segurança. Já fui em alguns shows e essa foi a primeira vez que isso aconteceu. Confesso que é uma sensação esquisita, mas se é pelo bem da experiência, tudo certo.
A pontualidade britânica dessa vez não foi cumprida. Um atraso de 20 minutos deixou o público ainda mais ansioso. Eram 21h20, quando Ian Anderson (vocal/flauta) acompanhado por David Goodier (baixo), John O´Hara (teclados), Jack Clark (guitarra) e Scott Hammond (bateria) subiram ao palco do Vibra São Paulo para entregar uma viagem a história do rock progressivo do Jethro Tull.
A jornada teve início com “My Sunday Feeling”, seguida por “We Used To Know”, na qual Anderson fez questão de destacar a semelhança que a faixa “Hotel California” do Eagles possui, especialmente no solo de guitarra. Vale lembrar que a música do Eagles foi lançada bem depois, em 1977, e realmente tem essa similaridade.
Deixando as comparações de lado, tocaram outro clássico, “Heavy Horses”. Com seu sarcasmo habitual, Ian fala que “Weathercock” é sobre um rapaz que vive em seu telhado dizendo como o tempo estará. O público confortavelmente acomodado em suas poltronas permanecia comportado, se restringindo a aplaudir ao final de cada música.
Com um setlist até então calcado no início da carreira, o Jethro Tull deu um salto em sua história e passou a explorar o material dos anos 90 em diante. Com isso, vieram “Roots To Branches”, “Holly Herald”, “Wolf Unchained” e “Mine Is The Mountain”. A banda demonstrou que não perdeu sua essência nas composições mais recentes, a flauta inconfundível de Anderson ainda se faz presente em meio ao rock progressivo com pitadas de folk resgatando a magia presente dos primeiros álbuns.
O vocalista Ian Anderson avisou que a primeira parte da apresentação se encerraria com “Bourrée In E Minor” do compositor Johann Sebastian Bach. A adaptação do Jethro Tull gravada no final dos anos 60, ganhou uma versão ao vivo cheia de improvisos e virtuosismo, que foi muito celebrada pelos fãs. Sob muitos aplausos, Ian se despediu com aquela pose icônica numa perna só, para delírio de todos.
Após 15 minutos de intervalo, a segunda parte começou com “Farm On The Freeway” e mais uma vez exibiram avisos sobre a restrição aos celulares e fotografia. Nesse momento, tudo começou a fazer sentido. As pessoas esqueceram seus aparelhos, o que acabou por promover uma verdadeira imersão ao show. Muito mais atentos a performance e as imagens sincronizadas nos telões, os fãs viveram uma experiência única. Não sou contra filmarem ou tirarem fotos, mas o que deu para perceber, é que o celular nos distrai e tira o foco em alguns momentos.
A viagem pelo vasto material continuou com “The Navigators” e nem mesmo a luz acesa na plateia em “Warm Sporran”, tirou a atenção do público. De forma irônica, Ian fala que “Mrs Tibbets” é sobre Paul, piloto de avião da 2° Guerra Mundial, que atirou bombas e recomenda que sua mãe, senhora Tibbets, não tenha mais filhos. As imagens nos telões sobre a guerra fazem uma reflexão sobre como isso é devastador e não deveria se repetir. Aliás, bem pertinente a inclusão dessa música no repertório, ainda mais nos dias de hoje.
A parte final do show contou “Dark Ages”, “Aquadiddley” e não poderia faltar, “Aqualung”, provavelmente, o maior clássico da banda. Talvez o único ponto negativo da apresentação tenha sido por conta da nova roupagem que a música ganhou. Não que tenha ficado ruim, longe disso, mas descaracterizou bem a composição original que possui riffs e partes marcantes. A longa versão resgatou seu riff principal somente nos momentos finais de sua execução, o que levou o público à loucura. O fim se aproximava e a despedida foi com outro clássico, “Locomotive Breath”.
O posicionamento dos músicos no palco, davam a sensação que estavam sobre os trilhos projetados nos telões, encerrando de forma magistral essa viagem mágica a história do Jethro Tull. Ian Anderson se despede com sua pose lendária, mais uma vez, imortalizando essa noite para sempre.
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