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Ian Anderson, do Jethro Tull

Ian Anderson, do Jethro Tull. Créditos: Reprodução/Facebook

Jethro Tull faz show arrepiante em Porto Alegre

A aclamada banda de Ian Anderson tocou na capital gaúcha no dia 10 como parte da ‘7 Decades Tour’

Texto por Patricia C. Figueiredo

A pandemia do Covid-19 causou o adiamento de diversos shows nos últimos anos e, em pleno 2024, ainda estamos colocando em dia uma agenda de eventos que deveriam ter acontecido quatro anos atrás. É o caso do Jethro Tull, que finalmente pôde retornar ao Brasil para realizar os shows remarcados desde o início da pandemia, incluindo a cidade de Porto Alegre. Com dois novos álbuns lançados desde então, a turnê 7 Decades celebra a carreira da lendária banda de rock progressivo desde os seus primórdios em 1968 até os dias atuais.  

A abertura ficou por conta do músico Luciano Reis e seu projeto Rock Concert. Ele fez um pocket show com versões de grandes músicas do rock no violino, como “Kashmir” do Led Zeppelin, “Nothing Else Matters” do Metallica e “Highway to Hell” do AC/DC. A recepção do público foi bastante positiva. 

Antes do show do Jethro Tull, o público foi avisado que o uso de celulares e câmeras estava proibido, uma exigência do próprio Ian Anderson sob a justificativa de que a banda e até pessoas na plateia são prejudicadas pela distração dos equipamentos. Algumas pessoas tentaram burlar a restrição e chegaram a ser abordadas pelos seguranças do local para guardar seus aparelhos. Em geral, o público respeitou e colaborou com a medida. 

Após momentos de grande expectativa, Ian Anderson e banda entraram no palco ao som de “My Sunday Feeling”, do primeiro álbum da banda This Was, de 1968. Anderson aparece com seus passos dançantes e levemente saltitantes. O público, que até este momento ocupava cerca de metade dos assentos do Auditório Araújo Vianna, aplaudiu e vibrou com a aparição do músico. Sua voz segue impecável e seu timbre suave é reconfortante. Junto dos músicos Jack Clark (guitarra), David Goodier (baixo), John O’Hara (teclado) e Scott Hammond (bateria), começou a dar forma ao espetáculo.

Na sequência, “We Used To Know” deu o tom da nostalgia fortalecida por imagens antigas no telão de Anderson em shows e dois solos bastante sentimentais de Jack Clark. Clark passou a fazer parte do line up da turnê há cerca de um mês ao substituir Joe Parrish, que decidiu deixar o grupo após quatro anos. 

A sensação não era a de estar em um show de uma grande banda de rock progressivo, mas em um concerto clássico, com um ar de reverência. Anderson comentou rapidamente as músicas do setlist antes de cada execução e o músico não é de sair do script. Durante diversos momentos na noite, fez sua aclamada pose elegante de flautista, com uma perna dobrada e um braço erguido. A plateia, apesar de animada, estava mais contida e admirava a arte no palco minimalista, com apenas alguns holofotes, o telão ao fundo e um espaço otimizado permitindo que os músicos ficassem mais próximos uns dos outros. Essa produção evidencia a harmonia entre os integrantes atuais da banda e prova que o grupo está ali com o único objetivo de oferecer uma experiência musical orgânica para o público. 

O show seguiu com uma mistura de décadas representadas, “Heavy Horses” e “Weathercock”, ambas do álbum Heavy Horses de 1978, e “Mine Is The Mountain”, do álbum The Zealot Gene já de 2022. Para aqueles que dizem que banda de rock não se faz com flauta, “Roots to Branches” do álbum homônimo de 1995 e a mais recente “Wolf Unchained” do álbum RökFlöte, lançado em 2023, trouxeram mais peso ao setlist.  Para finalizar a primeira parte da noite, tivemos ainda a clássica “Bourrée in E minor”, cover de Johann Sebastian Bach.

Após um breve intervalo tradicional de quinze minutos, a banda retomou o show com “Farm on The Freeway”. Durante “Warm Sporran”, percebemos como Anderson se sentia relaxado no palco. O músico sentou-se confortavelmente à beira do palanque da bateria enquanto tocava sua flauta. Essa energia emanava do palco para o público, e o espetáculo passava tranquilidade e leveza mesmo com músicas que o próprio vocalista chamou de deprimentes, referindo-se às faixas “Mrs. Tibbetts” e “Dark Ages”. 

Apesar do grande show até então, a experiência não estaria completa sem o maior sucesso do Jethro Tull. A breve introdução no teclado de John O’Hara foi o suficiente para exaltar o público de uma forma que ainda não havia acontecido nessa noite. Podemos dizer que a instrumental “Aquadiddley” é um prefácio de “Aqualung” no show, vai construindo uma expectativa, uma tensão em que o espectador aguarda ansiosamente o momento em que poderá desfrutar deste clássico de 1971, até que a faixa instrumental conecta instantaneamente com o verso “sitting on a park bench”, um segundo arrepiante que levou o público ao delírio. Infelizmente, a versão ao vivo acabou ficando mais curta e não foi exatamente o momento de cantoria imaginado.   

Antes da última música, o uso de câmeras e celulares para fotos e gravação de vídeos foi finalmente liberado. O movimento foi geral e o auditório virou um mar de celulares apontados para o palco (exatamente o que Anderson quis evitar durante toda sua performance). As pessoas ainda se levantaram para curtir ao máximo “Locomotive Breath”, o último clássico da noite também de 1971, era de ouro do Jethro Tull. E após cerca de duas horas, o show chegou ao fim. 

Particularmente, senti falta de “Crossed-Eyed Mary”, música que às vezes entra no setlist, às vezes não. Infelizmente não fomos contemplados com esta em Porto Alegre, contudo, a banda não deixou de entregar grandes músicas executadas com maestria ao vivo. 

Na saída, algumas pessoas comentaram que este pode ter sido nosso último show do Jethro Tull, talvez por conta da idade mais avançada de Ian Anderson, apesar de a banda já ter vindo ao Brasil diversas vezes. Talvez este seja um sentimento comum para os fãs que também estão vendo o tempo passar junto com seus ídolos e parece que cada vez será a última, mas o Jethro Tull se mostrou muito vivo com suas sete décadas de sucesso. O show foi empolgante e diversas vezes causou arrepios. Se alguém foi ao espetáculo por conta de apenas duas ou três músicas que conhecia da banda, garanto que saiu muito mais impressionado do que imaginaria.

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