A trajetória de Jesse Leach no Killswitch Engage não é a das mais fáceis. O vocalista é um dos fundadores do grupo, de 1999. Por causa da depressão, doença com que lida desde a infância, em 2002 Jesse resolveu que não conseguia mais ficar na banda e decidiu se afastar.
Ele foi substituído por Howard Jones, que permaneceu dez anos com o Killswitch, até que, também por problemas pessoais e de saúde, deixou o grupo. Foi o momento perfeito para a volta de Jesse, que, hoje, já está de novo com a banda há sete anos.
Durante as gravações do mais recente disco, Atonement, Jesse notou que não conseguia alcançar as notas que alcançava antes. Percebendo que algo estava errado, voou da Califórnia para Nova Iorque para se consultar com um médico. A notícia: Jesse estava com um pólipo na garganta que precisava ser retirado.
Sem saber se conseguiria voltar a falar e cantar novamente, Leach teve que lidar com o medo e com a crise de suas doenças psicológicas.
Com show em São Paulo marcado para o sábado, 7, o vocalista conversou com o Wikimetal sobre o álbum, as doenças e a relação com o antigo vocalista Howard Jones.
WM – Primeiro, vamos falar sobre o álbum Atonement. Como foi o processo de fazer o disco?
JL- O processo foi bem difícil. Passei por uma crise na vida pessoal, uma cirurgia nas cordas vocais… Foi realmente desafiador. Dito isso, tudo acontece por um motivo e fico muito feliz que o álbum saiu do jeito que saiu. Ele realmente captura um momento no tempo para o Killswitch Engage. Eu não mudaria nada.
Você sente que esse é um disco muito pessoal?
– Sim, com certeza é pessoal. Mas eu incorporei histórias de outras pessoas, vivências, coisas que aconteceram no mundo. Acho que é uma mistura de todas essas coisas, não só sobre mim.
Você comentou que passou por uma cirurgia. Teve que retirar nódulos das cordas vocais, certo?
– Sim! Eram pólipos nas cordas vocais. Foram dois ou três meses em que eu não podia falar, sem saber dos médicos se eu poderia continuar a minha carreira. Foi um período muito estressante de não saber o que estava acontecendo. Mas, ainda bem, a cirurgia foi um sucesso e eu pude fazer uma turnê com o Iron Maiden semanas depois da operação. Eu me sinto melhor do que nunca. Eu sinto que estou soando melhor do que já soei na vida. Estou mais controlado como vocalista.
Você aprendeu técnicas novas como vocalista, certo?
– Sim, eu tive que aprender a construir minha voz de novo, do começo. Eu não entendia direito as técnicas vocais antes, foi importante entender agora.
Deve ser muito estressante para a voz fazer parte de uma banda de metal. Quais são os cuidados que você toma agora depois da cirurgia?
– Eu não forço tanto agora. Todos temos a capacidade de gritar e berrar. Quando somos bebês, nós choramos o dia todo e usamos a voz. É uma técnica de relaxar e voltar para como era como criança. A técnica que eu uso agora é muito mais saudável. Isso e cuidar mais de mim. Dormindo o suficiente, bebendo bastante água, não festejando tanto, não indo dormir tão tarde. Mudei meu estilo de vida e estou cuidando de mim.
Eu sinto que Atonement é mais melódico que os predecessores, mas, ao mesmo tempo, mais brutal. Você concorda? E como vocês conseguiram isso?
– Concordo, sim. Acontece de uma forma bastante natural, é meio o que a gente faz no Killswitch Engage. Temos feito isso há tanto tempo que se tornou meio que uma linguagem própria pra gente. Apenas acontece. Se soa bem e parece bom, é porque é bom. [risos]
Fala um pouco sobre “The Signal Fire”, essa colaboração sensacional com o Howard Jones.
– Howard e eu nos tornamos amigos alguns anos atrás. Ele foi em um show nosso no Canada, nos tornamos amigos muito rápido. Ele começou a ir no ônibus da turnê com a gente e me mostrou a banda dele, Light The Torch, que eu gostei muito. Escrevendo o álbum, eu surgi com a ideia de uma música sobre “unidade” e a imagem do “sinal de fogo”. O nome Light The Torch (Acenda a Tocha) me influenciou; essa imagem. Então chamamos ele para cantar conosco. Isso mostrou a família Killswitch, que não há rusgas entre nós. É importante que as pessoas saibam disso.
Você sente que você e o Howard tenham coisas em comum? Os dois tiveram que deixar a banda por problemas pessoais, por exemplo.
– Nós dois tivemos problemas sociais que nos afetaram com a banda, então nos relacionamos nesse sentido. Quando eu voltei pra banda, estava muito inseguro sobre isso; eu tinha que entrar no lugar dele, nós nem nos conhecíamos no momento. Ele era perfeito na banda e eu tinha que retomar de onde ele parou. E, na verdade, ele tinha os mesmos questionamentos sobre mim quando ele entrou. Temos muito em comum, o que ajudou na música.
Você lida com a depressão por um longo tempo. Você acha que a música é uma ferramenta para lidar com a doença?
– Eu lido com a depressão desde a infância, criei uma linguagem para isso. Com a música ajuda a tocar outras pessoas com os mesmos problemas. É uma terapia que ajuda de muitos jeitos. A música transcende a linguagem, faz parte da experiência humana, é a trilha sonora de nossas vidas.
Se tivesse um conselho que você gostaria de dar para alguém que passa por isso, qual seria?
– Fale sobre isso, peça ajuda, não se sinta com medo e não fique quieto. Não pense que você está sozinho, pois não está.