Texto escrito pelo WikiBrother Diogo Tomaz Pereira
No dia 3 de setembro, o Iron Maiden lançou o seu 17º álbum de estúdio: Senjutsu. Há muito que utilizo as músicas da Donzela de Ferro em minhas aulas de História. Guerras, mitos, lendas, personagens que marcaram épocas, enfim, as canções da banda são ferramentas riquíssimas para se contextualizar e abordar várias temáticas históricas.
Após o anúncio do novo álbum, minhas redes sociais não pararam. Alunos e alunas me enviavam mensagens tentando adivinhar os assuntos que estariam por trás dos títulos anunciados. Várias teorias surgiram. Inclusive, fui praticamente intimado a ter, para a semana seguinte ao 3 de setembro, uma aula planejada sobre uma ou duas letras. Coitados, fiquei devendo.
Escuto Iron Maiden desde os meus oito anos de idade. Lembro perfeitamente meu irmão chegando em casa com a coletânea Best of the Beast, após ter trocado um CD do Planet Hemp por ela. Não fazia ideia do que era aquilo, ele também não. Mas as ilustrações logo chamaram minha atenção. Aquele pequeno livro preto era de uma riqueza de detalhes, de imagens, de Eddie’s… que logo eu estava tentando copiar alguns para as capas dos meus cadernos de escola. Tenho camisas, livros, todos os álbuns, já fui a quatro shows… eu precisava curtir esse álbum, depois eu pensaria em levá-lo para as minhas aulas.
Depois de ouvir muito, mas muito, todo o álbum, o considero como o melhor desde o Brave New World e praticamente empatado com o mesmo em minha admiração (lembrando: é a minha opinião). A sensação que tive e tenho quando o ouço, é a de estar ouvindo uma ópera rock ou a trilha sonora de um filme épico: algumas vezes me lembra Mad Max, O Senhor dos Anéis, outras me parece uma trilha sonora perfeita para jogos como Ghost of Tsushima ou Call of Duty. Coisas que só um nerd pode explicar.
Comparações com os álbuns antigos também são inevitáveis: “Stratego” poderia muito bem ser uma canção do Powerslave (1984); “Death of the Celts” é uma parte dois de “The Clansman” e “Darkest Hour” me lembrou muito “Tears of the Dragon”, da carreira solo do Bruce Dickinson. Inclusive, se eu tivesse que explicar esse álbum, diria ser uma junção de The Chemical Wedding (1998) e The X Factor (1995).
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Mas, voltando para o planejamento de uma aula, qual seria a música escolhida para ser trabalhada com os alunos? A ideia inicial foi “Death of the Celts”, claro, conteúdo histórico ali não falta, mas “Senjutsu”, além de ser uma música fantástica, é um bom material para se trabalhar com o livro A Arte da Guerra de Sun Tzu. O título da música não tem uma definição muito simples, já sendo traduzido do japonês como “tática”, “estratégia”… Pela etimologia, “sen” pode significar “sábio, eremita ou mago”, enquanto “jutsu” determina “arte, caminho, meios”. Enfim, a canção começa com tambores de guerra anunciando o início de ataques e invasões por todos os lados.
“Beat the warning the sound of the drums
Set the beacons afire for them all
Call to arms all the men far and wide
Have to fight now for dynasty pride at stake“
“Mande o aviso com o soar dos tambores
Acedam as chamas dos faróis para todos eles
Um chamado de guerra aos homens de todas as partes
Eles precisam lutar para defender o orgulho da dinastia”
“The invaders repel from the north
Keep out nomads who come from the plains
Northern grasslands awash with them all
Blocking the tribes that invade from the south of us“
“Os invasores repelem do Norte
Cuidado com os nômades que vêm das planícies
Eles inundam as pastagens do Norte
Bloqueando as tribos que invadem o nosso Sul”
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O mais antigo tratado militar da história da humanidade, A Arte da Guerra, foi escrito pelo general Sun Tzu por volta de 500 a.C. Infelizmente pouco sabemos sobre o general, porém, acontecimentos mencionados em registros por volta de 100 a.C. nos ajudaram a conhece-lo melhor. Os ensinamentos contidos em seu livro, que possui 13 capítulos, aplicam-se em qualquer conflito.
Para facilitar o entendimento de sua obra, é preciso compreender que até 500 a.C. a guerra era considerada algo sagrado, um ritual. Existiam regras e códigos que deveriam ser obedecidos antes de cada conflito. O clima, por exemplo, era levado em consideração, logo, não se combatia no verão por causa das altas temperaturas ou nos períodos de frio intenso do inverno.
Na China antiga, as grandes batalhas eram consideradas primitivas. Não havia uma organização militar. Quando o momento escolhido chegava, os soldados partiam de maneira desordenada sobre os inimigos. A partir do general Sun Tzu as coisas começaram a mudar. A arte de estratégias e táticas militares foram alçadas a um novo patamar. Os Estados organizados possuíam especialistas em todas as áreas, entre eles, engenheiros civis responsáveis por construir trincheiras e túneis. Até os equipamentos bélicos evoluíram, colaborando para um novo método de guerra, por exemplo, na China. Inclusive, a letra possui uma referência a uma grande muralha, provavelmente a famosa Muralha da China.
“Hear them coming – Ready now we wait
Must be steadfast – Must be patient“
“Ouça-os chegando – Prontos, devemos esperar
Devemos ser firmes – Devemos ser pacientes”
“Must believe in – That we can win
What will save us – The great wall“
“Nós devemos acreditar – Que podemos vencer
O que irá nos salvar – A grande muralha”
[…]
“Now under siege have the real strength to hold them now
Have to believe that we can repel them
Faith in the years our ancestors taught us
Have the belief that we can protect the wall“
“Agora sob o cerco nós temos a verdadeira força para contê-los
Precisamos acreditar que podemos expulsá-los
Fé nos anos em que nossos ancestrais nos ensinavam
Temos a crença de que podemos proteger a muralha”
Letras como Senjutsu e obras como a A Arte da Guerra são ferramentas que contribuem de forma fantástica para uma boa aula de História, Sociologia e Filosofia. Os seis primeiros capítulos do livro abordam características em um nível estratégico, enfatizando a tomada de decisão, a análise da estratégia adotada pelo inimigo e cálculos de poder de combate. Nos sete capítulos seguintes, a análise vai ao nível tático, com aspectos relacionados à ofensiva, à defensivas e ao resultado dos combates.
A frase que abre o primeiro capítulo nos mostra a importância da guerra para o Estado: Arte da Guerra é de vital importância, é questão de vida ou morte, uma estrada tanto para a segurança quanto para a ruína. Portanto, é um tema de estudos que não pode, de forma nenhuma, ser negligenciado.
O estudo de sociedades passadas, a forma como enxergavam o mundo, são fundamentais para lidarmos com questões atuais. Nosso modo de viver está impregnado de histórias. Com o estudo do passado aguçamos a leitura do tempo presente, enxergando e compreendendo as contradições que se apresentam.
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