Engraçado certo protecionismo que se vê para que seja encontrada a ‘próxima grande banda'”

Por Ricardo Batalha (*)

Talvez você me conheça, me chamo Ricardo Batalha. Tenho 45 anos de idade e não sou “bom sujeito” porque não sou aquele típico brasileiro apreciador de Samba. Também não torço para o time do povo em São Paulo; considero Nelson Piquet mais piloto que Ayrton Senna e sempre achei Muhamad Ali mais boxeador que Mike Tyson. Não, eu não sou da turma ‘Up The Irons’, pois para mim os sinônimos de Heavy Metal são Black Sabbath e Judas Priest. Não entro em discussões de Metallica versus Megadeth pois desisti de Mustaine faz tempo. Ah, enquanto todo mundo falava do Halestorm, eu ficava ouvindo o Vanity Blvd., da Suécia. Truezice? Vontade de ser “do contra”? Não sei, mas meu gosto é esse. Das cinco mil pessoas que constam no meu Facebook, poucas têm o gosto muito parecido com o meu. Seja como for, aqui estou.

Quando me disseram que o grupo norte-americano Rival Sons, a nova “salvação do Rock”, seria uma das atrações da edição deste ano do “Monsters Of Rock”, achei muito interessante. Só não pude deixar de lembrar o que diziam anos atrás. Na década de 1990, o The Black Crowes já havia feito a sua viagem no tempo e provado que o sucesso pode ser obtido com este olhar ao passado – com ressalvas, é claro. Revisite os anos 60 e 70 e você terá chance, pois a nova moda que vemos hoje, com zilhões de Sabbath, Led, Bad Company, Free, The Faces e afins, está firme e forte.

Desde 2009, com o lançamento de “Before the Fire”, o Rival Sons vem mostrando seus predicados, com um som decente e correto. Mas, confesso que fiquei intrigado com aquela coisa de “salvação do Rock” e me lembrei do Kingdom Come, que “ousou” voltar um pouco no tempo para escancarar sua maior influência: Led Zeppelin. Não deu certo. O segundo grupo do vocalista alemão Lenny Wolf (ex-Stone Fury) e do baterista James Kottak (atual Scorpions) teve seus quinze minutos de fama, mas foi (e sempre será) escorraçado, achincalhado e chacoteado.

O Rival Sons pode se vestir com roupas finas e gravar vídeos com concepção vintage. Em meados dos anos 80, o Kingdom Come não podia porque era um bando de ‘posers'”

Agora, deixem eu entender: o Rival Sons pode se vestir com roupas finas e ternos, gravar vídeos com instrumentos e concepção vintage e é um “herói” – hoje todos os grupos que revisitam o passado tem esta “cartilha” decorada. Em meados dos anos 80, o Kingdom Come não podia porque era um bando de ‘posers’ com cabelos de poodle e um vocalista ‘wannabe’ de Robert Plant, pura “cópia mal feita”. OK, tudo bem, eu entendo, mas é engraçado certo protecionismo que se vê para que seja encontrada a “próxima grande banda” (certo, Wolfmother?).

Claro, ninguém seria doente em afirmar que Rival Sons (ou The Black Crowes ou Wolfmother) não merece estar onde chegou com os quatro discos que lançou no mercado. Ocorre que, mesmo de forma velada e contando com um pouco de “embalo”, existe uma forcinha de manipulação até mesmo para bandas que não precisariam disso para vingar. Portanto, sigo aqui na contramão, pois o que me faz vibrar é diferente do chamado senso comum. Não sou melhor que ninguém por conta disso. Só que também não sou pior. Pois é, meu amigo, eu costumo defender o indefensável, mas não fui, digamos, “institucionalizado”. E não acho que estou errado. E você, acha possível curtir Rival Sons e Kingdom Come com o mesmo entusiasmo?

Visualizações recomendadas:

Rival Sons – Pressure And Time

Kingdom Come – What Love Can Be

Stone Fury – Break Down The Wall

(*) Ricardo Batalha é redator-chefe da revista Roadie Crew e diretor da ASE Assessoria e Consultoria.

Categorias: Opinião

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