Texto por Nando Machado, co-fundador do Wikimetal.
15 de março, sábado à noite em São Paulo. Eu estava antecipando esse dia desde que o show do Graveyard foi anunciado em novembro de 2024. Infelizmente, não consegui chegar cedo para ver as bandas que abriram o excelente line up do Buena Onda, festival promovido pela Xaninho Discos, mas cheguei a tempo de ver o excelente show dos canadenses da Danko Jones.
Lideradas pelo próprio Danko, o trio de Toronto estava verdadeiramente emocionado e feliz, e mostrou uma hora de puro “Hard Punk”, um estilo que mistura o Hard Rock do KISS com Punk Rock. A banda, que já está na ativa há mais de 20 anos, só tinha vindo ao Brasil uma vez em 2009. Os caras fizeram um show realmente impecável e estavam realmente realizados em ver vários fãs cantando as letras de suas músicas. O ponto alto pra mim foi “My Little R’n’Roll”, a última do setlist, provavelmente o maior sucesso da banda, do álbum Wild Cat (2017). Só não vou perdoar eles não terem tocado “Forget My Name” do meu álbum preferido da banda, We Sweat Blood (2003).
Às 21h em ponto entraram os suecos do Graveyard, diretamente de Gotemburgo; a banda mais esperada por mim, que também só tinha se apresentado no Brasil uma vez, em 2019. O grupo realmente parece que veio direto dos anos 70 com seu “Heavy Blues Rock”. Uma das minhas bandas preferidas da atualidade, finalmente voltou ao Brasil apresentando um show impecável, apesar de curto.
O show começou com “Twice”, single do último álbum de estúdio, 6 (2023). Na sequência, emendaram em “Birds of Paradise” – do penúltimo álbum da banda, o excelente Peace (2018) -, a única música cantada pelo baixista Truls Mörck. Depois de “Cold Love”, veio a minha música preferida da banda, “An Industry of Murder”. Um riff pesado a lá Black Sabbath, (o baterista Oskar Bergenheim, aliás, me lembrou muito Bill Ward). Nessa música, a banda mostra toda a sua qualidade e a versatilidade em criar arranjos dinâmicos e melodias dissonantes. Joakim Nilsson é um gigante, com sua Gibson 335 vermelha, tem uma voz rouca e gritada, longe da perfeição, o que torna a banda extremamente humana e verdadeira. Nada de overdubs ou bases pré-gravadas, como um bom show de Rock’n Roll deve ser.
Em “Hisingen Blues” a banda mostra o melhor do seu peso, com uma batida bem quebrada, riffs, e a voz típica de Joakim. A primeira parte do show termina com o sensacional Blues Rock “Uncomfortably Numb”, do álbum Hisingen Blues (2011). A banda voltou para o BIS com uma série de pedradas, “Walk On”, “No Good Mr Holden”, “Ain’t Fit to Live Here” e uma longa jam de “The Siren”. Essas últimas, ambas também do Hisingen Blues.
O Graveyard é uma daquelas bandas que faz a gente pensar que o Rock continua vivo e o Rock dos anos 70 realmente teve um impacto gigantesco em várias gerações. Referências de Black Sabbath, Janis Joplin, Led Zeppelin, Deep Purple, etc. Pra mim, não houve década melhor no Rock e esses caras parecem que chegaram direto de 1973 para o palco da VIP Station.
Shows e eventos como esse festival produzido pelo pessoal da Xaninho Discos e da Caveira Velha realmente me enchem de esperança. Ao mesmo tempo que é muito legal ver uma banda gigante num estádio, ultimamente eu tenho me sentido mais à vontade vendo bandas como o Graveyard e o Danko Jones no palco de um clube com cerca de 1200 pessoas, realmente conectadas com o som das bandas, que conhecem seus repertórios a fundo e que fazem essa conexão mais realista e verdadeira. Que bom que existem promotores de shows no Brasil que se preocupam em trazer essas bandas, estão realmente de parabéns. Espero que a tour tenha sido um sucesso e que a gente possa ver essas e outras grandes bandas, mas não tão grandes assim, novamente no Brasil e muitas vezes.