A composição, lançada há quarenta anos em “Physical Graffiti” e que antes atendia por “Driving to Kashmir”, serve de base e consta no material escolar das bandas de Rock”

Por Ricardo Batalha (*)

No texto de estreia do “Campo de Batalha” falei sobre o “amado” Kingdom Come, do Rival Sons e incluí alguns vídeos recomendados, inclusive do Stone Fury. Como uma coisa leva à outra, vale recordar Bruce Dickinson. Atualmente tratando de um câncer na língua, o vocalista mostrou seu típico humor britânico quando foi o apresentador convidado na fase áurea do programa “Headbangers Ball”, da MTV americana. Além das tiradas engraçadas, o sarcasmo ao apresentar o clipe da balada “What Love Can Be”, do Kingdom Come, foi maior: “Fiquem agora com o Led Zepp… Oh, não, o Kingdom Come”. Continuando as conexões, também é válido recordar que Dickinson gravou com o Iron Maiden o cover de “Communication Breakdown”, do próprio Led Zeppelin.

Na mesma época, até o saudoso mestre Gary Moore (não tão reverenciado como deveria, diga-se) gravou em seu álbum “After The War” (1989), último da fase Hard Rock antes de entrar de cabeça no Blues, uma música chamada “Led Clones”. A composição do guitarrista irlandês, que conta com a participação de Ozzy Osbourne, faz clara menção à clássica “Kashmir” e sua referência em “Get it On”, faixa do disco de estreia do Kingdom Come. O verso “You’ve stolen from the houses of the holy / You’ve rolled into the kingdom of the sain”, que consta na letra de “Led Clones”, revela a intenção de crítica. “Toda banda tem algo que parece com outra. Não vejo o menor problema nisso”, me confessou certa vez o vocalista Lenny Wolf (Roadie Crew, ed. #78). Wolf explicou que no começo ele ficava lisonjeado quando comparavam seus trabalhos com o Led Zeppelin. “Eu tinha consciência de que havia semelhança porque esta era mesmo uma das minhas referências musicais, só que depois de algum tempo este tipo de comparação começou a encher e ficar entediante”, revelou.

Mas aí a gente começa a lembrar outras “Kashmir” espalhadas por aí. Ou vai me dizer que a linha de “Judgement Day”, do Whitesnake; “Wake up”, do Rage Against The Machine; ou “Welcome Home”, do Coheed and Cambria, não vieram dela também? Ah, e tem aquele trecho de “When Doomsday Comes (Hybrid Theory)”, do apenas mediano “Call To Arms” (2011), do Saxon – opinião minha, é claro. Calma, ainda tem gente que jura que “Perfect Strangers”, do Deep Purple; e “Rock & Roll”, de Dio, também foram inspiradas em “Kashmir”. Tente achar “The Ballad of John Henry”, de Joe Bonamassa, e sinta as progressões. OK, já que é para chutar o balde, que música os rappers Puff Daddy e Schoolly D samplearam e se deram bem?

“Robert Plant sempre foi uma grande influência para mim. Isto é inegável”, me disse certa vez o vocalista Jack Russell (Roadie Crew, ed. #130), que gravou com o Great White no final dos anos 90 o álbum “Great Zeppelin: A Tribute to Led Zeppelin”. Já o vocalista brasileiro Edu Falaschi, que celebra seus 25 anos de carreira em 2015, não se esquece da versão que gravou de “Kashmir” para o tributo “The Music Remains the Same: A Tribute to Led Zeppelin”, lançado em 2002, época em que era o frontman do Angra. “Ter cantado essa música foi um privilégio”, diz o vocalista, instrumentista, produtor e compositor. “Quando recebemos o convite para participar do tributo ficamos muito felizes, principalmente porque tive toda liberdade para colocar minha personalidade nesse grande hino”, acrescenta o líder do Almah.

Plant disse que a inspiração veio da longa estrada que atravessa o deserto do Saara: ‘Parecia que você estava dirigindo em um canal, esta estrada em ruínas, e aparentemente não havia fim.’

A composição, lançada há quarenta anos em “Physical Graffiti” e que antes atendia por “Driving to Kashmir”, serve de base e consta no “material escolar” das bandas de Rock. “A sequência de acordes descendentes foi a primeira coisa que eu fiz. Depois que me veio a parte do ‘da-da-da, da-da-da’, fiquei pensando se as duas partes podiam ficar uma em cima da outra. Deu certo! Dá alguma dissonância ali, mas não tem problema. Na época, fiquei muito orgulhoso”, explicou o humilde guitarrista Jimmy Page no livro “Luz & Sombra”, de Brad Tolinski (Globo Livros).

Já Plant, que desenhou a ideia da composição logo após a turnê de 1973, quando ia de Guelmim – a “porta do Saara” de Marrocos – para a cidade de Tan-Tan, disse que a inspiração veio da longa estrada que atravessa o deserto do Saara. “Parecia que você estava dirigindo em um canal, esta estrada em ruínas, e aparentemente não havia fim.” Apesar da inspiração, Caxemira é localizada ao extremo noroeste do subcontinente indiano, onde há uma duradoura disputa territorial entre a Índia com o Paquistão e a China.

Homenagem, reverência ou plágio mesmo, o fato é que “Kashmir”, composta por Jimmy Page, Robert Plant e John Bonham, ainda fascina. Como a estrada que inspirou Plant, sua influência aparentemente não terá fim.

Visualizações recomendadas:

Led Zeppelin – Kashmir (Celebration Day):

Gary Moore – Led Clones (c/ Ozzy Osbourne):

Kingdom Come – Get It On

Angra – Kashmir

(*) Ricardo Batalha é redator-chefe da revista Roadie Crew e diretor da ASE Assessoria e Consultoria.

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Categorias: Opinião

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