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Gary Holt

Gary Holt. Foto: Reprodução/Facebook. Arte: Wikimetal

Entrevista: Gary Holt fala sobre fim do Slayer, novo álbum do Exodus e ideologias políticas

Em coletiva de imprensa, o guitarrista falou ao Wikimetal sobre sua vontade de sair em turnê pela América do Sul com ex-integrantes do Exodus

Sete anos após a chegada do Blood In, Blood Out (2014), o Exodus se prepara para lançar seu novo álbum Persona Non Grata em 19 de novembro e o Wikimetal pôde participar de uma coletiva exclusiva para jornalistas latino-americanos com Gary Holt, que falou sobre o novo disco, a possibilidade de um retorno do Slayer e seu álbum favorito no momento.

O novo álbum começou a ser gravado em julho de 2020, quando o Exodus se reuniu na casa de Tom Hunting, que fica nas montanhas. De acordo com Gary Holt, passar um tempo com os colegas de banda e, principalmente, com o amigo de longa data, os remeteu aos tempos de adolescência, quando tocavam na garagem dos pais. A união entre amigos resultou no que Gary considera um dos melhores discos do Exodus. Ele promete um álbum que cobre toda a carreira da banda; pesado, com ganchos cativantes e com “um pouco de tudo”.

Persona Non Grata é descrito como um disco que aborda assuntos que “revoltam e enojam a sociedade moderna”, passando por temas que vão desde a brutalidade policial até o fenômeno das fake news e a mídia sensacionalista. O forte teor sociopolítico do projeto é no mínimo interessante vindo de uma banda como o Exodus, cujos integrantes têm opiniões políticas e sociais bastante divergentes. Gary Holt, que se declara “totalmente pró-vacina”, comentou que, apesar do discurso negacionista do colega Steve “Zetro” Souza contra o imunizante, o vocalista também está vacinado, e que a divergência de opiniões não é um problema para a banda.

“O mundo ao nosso redor se esqueceu de como conviver com pessoas que não concordam com você,” comenta. “O mundo é muito tedioso se você só anda com pessoas que pensam igual a você, certo? O Exodus é uma banda de ideologias políticas completamente diferentes e mesmo assim somos irmãos. Sabe aquele ditado sobre não discutir religião e política com pessoas que discordam de você? É meio isso que fazemos.”

O Exodus recentemente passou por uma situação delicada que definitivamente uniu os integrantes ainda mais, independente de suas diferenças. Em abril, o baterista Tom Hunting revelou a descoberta de um câncer no estômago e agora, após meses de tratamento, passa bem. Segundo Gary Holt, Hunting não sabia da existência do câncer durante a gravação do Persona Non Grata, mas desconfiava que algo estivesse errado devido a uma “perda de peso inexplicável”. O guitarrista garantiu que o amigo está “muito bem” no momento e comentou: “Ele tem muita sorte. O câncer que ele teve é um ao qual a maioria das pessoas não sobrevive.”

Manter os amigos por perto definitivamente é uma das prioridades de Gary Holt. Durante a gravação do novo álbum, o Exodus recebeu de volta o ex-guitarrista Rick Hunolt, que tocou “dois solos bem longos” na faixa “Lunatic-Liar-Lord”. Ao ser perguntado sobre a participação do ex-colega de banda, Gary respondeu que Rick é “parte da família” e “sempre será bem-vindo” para tocar com eles.

“Nós temos a intenção de continuar convidando o Rick porque eu nunca me divirto tanto quanto quando estou perto dele. O Rick sorri, eu sorrio. É esse tipo de relacionamento [que temos],” comenta. “Em algum momento no futuro eu gostaria de fazer uma turnê especial com todos os ex-integrantes restantes que quiserem participar – porque alguns não gostariam de fazê-lo. Nós meio que fizemos isso alguns anos atrás, tocamos duas noites em São Francisco e nos divertimos muito. Tudo o que pensávamos era em fazer uma turnê assim.”

Apesar de ainda não ter certeza sobre a possibilidade de uma turnê na América Latina em breve, Gary Holt se mostra sonhador e positivo com a ideia de reunir os antigos colegas: “Talvez quando terminarmos a turnê do novo álbum nós possamos fazer isso. Talvez a gente faça isso na América do Sul, seria incrível. Seria muito irado. Eu amo isso. Eu amo passar um tempo com meus melhores amigos.”

Ainda no espírito nostálgico, Gary Holt comentou suas declarações recentes sobre o fim do Slayer, afirmando que a banda ainda tinha “anos de vida útil”, mas descartando qualquer possibilidade de um retorno. “Não dá pra continuar no Slayer sem o Tom Araya, a voz dele cumpre metade do papel, então, até onde eu sei, nunca vai haver outro show do Slayer,” declara. “Isso soa meio triste, mas eu fiz parte disso por quase 10 anos; sou grato, me sinto muito sortudo e é uma parte muito grande da minha vida. Eles são meus irmãos, mas agora é tudo sobre o Exodus. Estou em casa, estou de volta onde eu pertenço.”

Em contraponto ao Slayer, os fãs do Exodus podem ficar tranquilos – a banda não tem intenção alguma de se aposentar em um futuro próximo. “Nós estamos mais unidos hoje como banda do que já estivemos um dia,” afirma Gary. “Todos percebemos que estamos mais próximos do fim dos nossos dias que do começo. Não estamos ficando mais jovens. Nós insistimos em manter a velocidade e o peso das músicas, mas isso não está facilitando nossas vidas – está dificultando. Mas nós não temos vontade alguma de parar. Vamos parar quando a hora chegar.”

O espírito de jovialidade, entretanto, se mantém no gosto musical de Gary Holt. Ele revela que seu álbum favorito no momento é o Women In Music Part III, do trio de indie pop HAIM, descrevendo-o como “o melhor álbum de todos”.

Enquanto a obra pode não ter reflexos diretos no novo trabalho do Exodus, Gary Holt reforça as expectativas para a chegada de Persona Non Grata em 19 de novembro: “Nós demos tudo de nós nesse álbum e eu mal posso esperar pelo lançamento.”

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