Yohan Kisser é um dos nomes que se apresenta na 11ª edição do Best of Blues and Rock, festival que acontece entre os dias 20 e 25 de junho, nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro.
Aos 27 anos, Yohan é filho do renomado guitarrista Andreas Kisser, com quem tem o projeto Kisser Clan, é formado no Conservatório de Música da Fundação de Artes de São Caetano do Sul, faz parte da banda nacional de heavy metal Sioux 66 e está recentemente focado em lançar seu primeiro álbum solo de autorais, seguindo o EP autointitulado de 2022.
Em entrevista ao Wikimetal, ele fala sobre suas diversas influências na música, avisa que não trará um show de metal para o palco do Best of Blues e fala sobre os diversos estilos que estarão presentes tanto no ao vivo quanto no álbum que está por vir.
Yohan Kisser se apresenta no Best of Blues and Rock apenas na cidade de Belo Horizonte, no dia 25 de junho, ao lado do Zakk Sabbath. Garanta seus ingressos e atente-se para a mudança de local do evento.
Wikimetal: Você vai tocar no Best of Blues and Rock junto com o Zakk Sabath. Como você está se sentindo e como tem se preparado para esse festival?
Yohan Kisser: Estou me sentindo mais uma vez honrado de fazer parte desse festival. Antes de poder subir no palco desse festival, eu fui como fã várias vezes. Vi o Steve Vai, John 5, o próprio Zakk Sabbath porque o Zakk Wylde tocou em outras edições também. Eu tive a oportunidade de tocar no Ibirapuera e em Porto Alegre em 2022 abrindo pro Joe Perry, foi sensacional. Dessa vez eu toco em Belo Horizonte, infelizmente não vou estar em outros lugares, mas estarei com o Zakk Sabbath muito feliz.
A gente tá preparando um show super especial. A minha carreira solo tem poucos shows até agora, pouco material lançado, mas agora eu tô pra lançar um álbum de 12 músicas e mais uma vez subir no palco do Best of Blues pra levar esse material pra todo mundo. Da última vez, o show do Best of Blues foi totalmente instrumental por causa de outras iniciativas, do Ministério da Cultura e tudo mais, e dessa vez vou poder cantar também, vai ser sensacional.
WM: O que podemos esperar do seu repertório?
YK: Vou tocar coisas só do projeto solo e selecionei dois covers pra fazer. Um deles é do Frank Zappa, [uma das] grandes influências, e também Steve Ray Vaughan pra fazer uma homenagem ao blues. Também tem outras surpresas no meio do set. Metade do setlist vai ser na guitarra, metade vai ser nas teclas, como da última vez também, no primeiro Best of Blues que eu fiz. Dessa vez estarei levando o Guto Passos no baixo e o William Paiva na bateria, então vai ser um triozão.
WM: Você tem 27 anos agora, é filho de um dos principais guitarrista do Brasil e é formado no Conservatório de Música da Fundação de Artes de São Caetano do Sul. Você sempre soube que queria ter uma vivência na música [profissionalmente]?
YK: Sempre foi tudo muito livre lá em casa. Tanto é que esse show que eu vou fazer [no Best of Blues], esse meu projeto solo não tem nada de metal. Com certeza, o jeito que eu toco, a escola que eu tive, as influências vêm muito do rock, mas não é metal. Antes de estudar, eu achava que ser músico era uma coisa. Eu fetichizei aquela coisa do James Hetfield, amava Metallica, queria estar no palco, queria lotar estádio. Quando eu comecei a estudar música, as coisas foram mudando. Eu comecei a ficar viciado em Pink Floyd, Yes, Frank Zappa, essas bandas que me fizeram estudar música, estudar o violão clássico. Hoje eu vejo música com outros olhos, tanto em dar aula quanto em fazer arranjo. Sou viciado em orquestração, em análise. A música virou várias coisas pra mim que não eram antes e não acho que seja só a imagem do meu pai (que também é um ídolo pra mim), mas não foi só essa imagem que me deu a certeza de ser músico. Acho que até hoje estou construindo essa certeza, não tem nada ganho.
WM: Recentemente você lançou uma música com a Sandy chamada “Tento”. Nós sabemos que as famílias de vocês são muito próximas, mas o que te fez pensar na Sandy especificamente para cantar nessa faixa?
YK: Eu perdi minha mãe recentemente e tem uma porrada de músicas nesse próximo álbum que fala sobre isso. Não consegui fugir muito desses assuntos. Na verdade, uma das coisas que mais ficava na minha cabeça era que eu, como músico, não conseguiria construir o Taj Mahal pra minha mãe. Então, as coisas que eu consigo construir pra ela são essas, é minha maneira de tentar eternizar ela. E eu sei o quanto a Sandy amava a minha mãe também e já era uma coisa que eu tinha vontade de fazer há muito tempo, por admirar ela.
“Tento” é uma música que eu tinha guardada e eu quis mostrar pra Sandy. Quando eu chamei, ela não tinha muito noção do que seria, eu falei que era algo meio MPB. A letra também deixou muitos fãs dela confusos, o que eu acho que é um sinal positivo. Foi bem legal. Mas, como eu falei, teve muita gente esperando o metal e cada vez mais o disco vai pra piano, pra muitas referências de Stevie Wonder e essas doideiras. Por ter mencionado o Frank Zappa aqui, quem conhece o Frank Zappa sabe que nunca dá pra esperar nada dele, né? E também esses grandes nomes como Queen, Beatles, acho que é uma alegoria, um grande parque de diversões. Você vai passar por partes diferentes e vai viajando. Acho que as pessoas podem esperar isso do meu show.
WM: Assim como você mencionou, talvez pelo seu nome e também outros projetos como o Sioux 66, acho que é natural as pessoas esperarem algo mais metal de você. Qual é a reação do seu público quando você traz algo diferente, como o feat. com a Sandy, por exemplo?
YK: Estou bem ansioso pra ver a reação do público cada vez mais. Essa da Sandy foi muito legal porque a Sandy tem muito alcance, mas mesmo assim, eu, com o meu projeto solo, tenho cada vez feito mais coisas. Eu tenho apenas um EP de 5 músicas que a gente vai tocar também nessa edição.[do Best of Blues] e esse álbum de 12 músicas vai sair por volta do dia 25 de junho.
Estou muito ansioso pra ver a reação da galera porque, realmente, eu tenho meu trabalho com o Sioux 66, que é uma banda de hard e heavy metal, e que não foge muito do que meu pai fez, apesar de não ser thrash metal. Então tem muita gente que reclama, mas com certeza eu não tô aqui pra fazer eles pararem de reclamar ou pra agradar ninguém. Eu sou louco por essas coisas, são coisas naturais. Eu não estou procurando meu lugar na música, eu tô fazendo as minhas coisas, que saem de mim mesmo. E o que é muito legal é que o Best of Blues abriu esse palco pra gente fazer o que achar melhor, o que a gente quiser. O trio que tá comigo, tanto o Guto quando o Will – o Guto também é meu produtor -, a gente tá muito ansioso para lançar essas coisas. A gente foi 100% sincero na composição dessas músicas.
Tem umas coisas mais doidas que a outra, tem outras que são super sentimentais e ao piano, com influência de Tom Jobim. Enfim, eu acho que o metaleiro devia ficar feliz que ele já não sabe o que vai vir, né? Acho que é muito mais curioso você não saber o que vem. Mas essa coisa de todo mundo esperar o metal, acho que é normal, cara. Eu também tenho muito orgulho do metal, tenho muito orgulho de onde eu vim. Eu amo metal, escuto, toco, mas não estou preso a ele. E como músico eu não me caracterizo como metaleiro.
WM: Você até fez um comentário um tempo atrás sobre achar a Anitta uma personalidade meio rock porque ela tem atitudes roqueiras. Para você, o que é ser do rock hoje em dia?
YK: Eu acho que muitas vezes o roqueiro coloca a capa do sabedor de música, do conhecido, do intelectual. Eu acho que a imagem do rock, os Beatles trouxeram o quarteto de cordas, um monte de coisa universal da música, mas também acho que o que eles mais trouxeram era essa atitude, a irreverência, esse negócio de subir no palco, da Beatlemania. E eles ensinaram todo mundo. Se você pegar essa essência, que é o rock, e você colocar em todas as bandas de rock, é lógico, o Motley Cruel tá lá, mas tá no Michael Jackson também, tá na Anitta também. Isso tudo é rock pra mim.
Até o Miles Davis, aquela postura de botar óculos escuros, ele é um jazzista, mas ele é um rockstar, com certeza. Então eu acho que o rock tem essa irreverência, tem essa atitude, e que agora é o papel do rockeiro ficar criticando os outros artistas de outros estilos que têm essa irreverência e têm essa atitude. Na verdade, eu acho que a Anitta, em várias das coisas que ela faz, em várias pirotecnias, em vários pensamentos que ela faz, ela tá seguindo vários pensamentos que o Beatles fizeram lá atrás e a gente vem seguindo. O Elvis, a coisa de ter merchandising, o rock ensinou todo mundo a fazer isso. O rock, na verdade, é o pai do pop, e as pessoas esquecem disso.
Então, acho que tem muito de rock em mim também e tem também muito da música clássica. São dois mundos que não se misturam tanto. Infelizmente existe um muro, às vezes, entre o metal e o resto das músicas, e também existe um muro entre a música acadêmica e a música popular, o que é uma tristeza. Eu tento não ficar em cima desse muro, eu tô tentando derrubar esse muro.
WM: Nos conte um pouco mais sobre o álbum que você está prestes a lançar. O que ele tem de diferente e o que você pretende trazer para o palco do Best of Blues?
YK: Cara, é um desafio, né? No palco do Best of Blues ele vai ter teclados, como eu falei, vai ter guitarras, vai ter algumas coisas diversas, uns barulhos de sirene, de carro batendo. Tem algumas músicas que são bem imagéticas, bem cinematográficas e experimentais, com teclado, sintetizador. Abusei dessas coisas. Eu amo Queen, amo Stevie Wonder, então não medi a mão pra colocar 15 mil timbres diferentes também. Acho que o Pink Floyd é uma das bandas que sabe acertar nisso de timbre. Tem outras faixas, como eu falei, como uma estética meio Tom Jobim. São letras em português, só o piano. Tem uma que é feita com um grupo de meninas cantando e eu só no piano, fazendo alguns detalhes de voz. É uma música que eu dediquei à minha mãe também, que fala bem do que a gente passou ali.
O álbum é metade em inglês e metade em português e se chama The Rivals are Fed and Rested. Significa “os rivais estão bem alimentados e descansados”. Isso traz um clima de que as coisas estão certas na natureza, você sempre tem que estar correndo atrás, e também acaba misturando com essa coisa da selva, da vida selvagem, do darwinismo, e de uma coisa de vida na cidade que se estabeleceu socialmente, das pessoas que têm e as que não têm. O álbum passa por inglês, português e tem até uma música que se chama “Quantas Línguas Falam” e ela passa por espanhol, por italiano. Acho que o álbum tá bem amarrado, tem um pouco de tudo. Tem um pouco dessa coisa que eu falei do Frank Zappa, do Queen, do Beatles. Quando você coloca um álbum do Beatles, você não sabe o que vai vir depois; começa um quarteto de cordas, depois começa uma banda rock ‘n’ roll, depois começa uma cítara, uns instrumentos hindus… Então, assim, essas são as influências. Com uma certa humildade aqui, eu acho que um dia a gente consegue chegar naquela qualidade, mas com certeza as influências são essas e a tentativa do álbum é essa. Eu tô muito contente, são 12 faixas e esse mês começa a sair.