Formada em 1979 na Flórida pelos irmãos Jon e Criss Oliva, a banda Savatage se tornou um dos nomes mais respeitados do heavy metal progressivo. Combinando peso, técnica e elementos sinfônicos, o grupo construiu uma carreira marcante com álbuns como Hall of the Mountain King (1987), Gutter Ballet (1989) e Streets: A Rock Opera (1991).

Após 10 anos longe dos palcos, o grupo marca seu aguardado retorno no Monsters of Rock 2025, que acontece no dia 19 de abril, em São Paulo, no Allianz Parque – ingressos à venda no site da Eventim. Além do aguardado retorno do Savatage aos palcos, o festival traz um lineup de peso, com Scorpions, Judas Priest, Europe, Queensrÿche, Opeth e Stratovarius.

Por motivos de saúde, o tecladista e fundador Jon Oliva não estará presente fisicamente no palco. Em recuperação após um acidente ocorrido no ano passado, Oliva segue envolvido diretamente na produção e ensaios da turnê. A formação que se apresentará no Brasil conta com Zak Stevens (vocais), Chris Caffery e Al Pitrelli (guitarras), Johnny Lee Middleton (baixo) e Jeff Plate (bateria).

Confira a entrevista do Wikimetal com Jon Oliva na íntegra:

Jon Oliva comenta seu estado de saúde atual

WM: É uma honra enorme falar com você hoje, Jon. Antes de tudo, como você está atualmente?

Jon: Estou me recuperando, tentando melhorar. É um processo muito lento, sabe? Me machuquei seriamente. Mas espero que não demore muito para sair dessa condição. Você não tem noção de como a coluna é importante até que você a machuca. Isso afeta o corpo todo, e foi isso que aconteceu comigo.

Lembranças do Monsters of Rock 1998

WM: Com a passagem do Savatage pelo Monsters of Rock em 1998, como foi essa experiência e como você descreveria o público brasileiro?

Jon: Primeiro de tudo, o público brasileiro é provavelmente o meu favorito no mundo, senão um dos meus favoritos. Eu reassisti esse show algumas vezes no YouTube e foi inacreditável. Achei que o estádio fosse desabar de tanto que o público pulava. Lembro de gritar com o Al Pitrelli: “Vai cair! Vamos morrer!” As pessoas eram super envolvidas. E fora do palco, todos foram muito gentis e carinhosos com a banda. O que mais poderíamos querer?

O convite para retornar ao festival

WM: Como foi receber esse convite para voltar ao Monsters of Rock esse ano? Como você se sentiu? 

Jon: Já estava sendo conversado quando sofri o acidente, que atrapalhou tudo. Quando retomamos as conversas com a equipe, eles me perguntaram: “Jon, você quer cancelar?” E eu disse: “Não, não posso fazer isso com os fãs.” Conversei com os caras e decidimos que eles iriam sem mim, mas eu participaria de tudo por trás. Não posso subir ao palco ainda por causa das fraturas na coluna. É doloroso demais cantar assim. Mas montei o setlist, conversei com o Chris Caffery, o Al, o Johnny… E falei: “Vão lá e façam um show que os fãs merecem.” Pra mim, é como ser um jogador estrela que quebrou a perna e vai assistir o time do banco. Estou fora do palco, mas ainda no jogo.

Os bastidores da preparação para o show

WM: Sobre a preparação pro show desse ano, como tem sido esse processo pra você? Estando fora dos palcos.

Jon: Montei o setlist, e os caras virão aqui para Flórida em  alguns dias. Vou passar duas semanas ensaiando com eles. Vai ser torturante pra mim, mas é isso. Estou como um jogador machucado. Mas te digo uma coisa: eles vão arrebentar. Estão com fome de palco e animados para ir ao Brasil.

A decisão de voltar com Savatage

WM: Depois de tantos anos longe dos palcos, o que fez com que esse ano fosse o momento certo para o retorno?

Jon: Na verdade, era pra ter sido no ano passado, mas eu sofri aquele acidente. E isso acabou interrompendo todos os nossos planos. A ideia era lançar um novo álbum e sair em turnê com ele. Mas, claro, eu estraguei tudo com esse acidente — acontece, né? Não foi de propósito, acredite. Então tivemos que repensar tudo. E a melhor solução que encontrei foi ao menos dar algo aos fãs. E como eu disse, os caras estão prontos e vão detonar. E, assim que eu estiver curado — provavelmente na próxima temporada — eu estarei de volta.

WM: Espero por isso — e por um próximo retorno ao Brasil.

Jon: Ah, com certeza. Eu definitivamente vou voltar ao Brasil.

A escolha do Monsters of Rock para este retorno

WM: Por que o Monsters of Rock foi a escolha perfeita para esse retorno?

Jon: Porque é um evento enorme. Já queríamos fazer algo assim, mas o acidente atrapalhou. Estávamos trabalhando em material novo, mas com as fraturas não consigo cantar. Era um álbum comigo e o Zak. Tive que pausar tudo. Aí pensei: “Já que o álbum vai ter que esperar, vamos mostrar que ainda estamos vivos.”

Trans-Siberian Orchestra e o hiato do Savatage

WM: E como tem sido esses últimos anos para você e para a banda, sem turnês? Só trabalhando com a TSO ou fazendo outras coisas?

Jon: Basicamente temos feito a parada da TSO, que virou uma tradição aqui nos Estados Unidos. Cara, a gente lota arenas esportivas, dois shows por dia — 30, 40 mil pessoas por dia pelo país inteiro. Só isso já é bem puxado. Mas o Savatage é algo que todos nós amamos e queremos continuar fazendo. Só que, com o meu acidente, a morte do Paul, e tudo o que aconteceu, a gente precisou fazer um desvio no plano. Tivemos que reorganizar tudo. A ideia era gravar primeiro, depois sair em turnê, aquela coisa… Mas aí veio o acidente e mudamos tudo. Agora vamos pra América do Sul, fazer alguns shows por lá, talvez alguns na Europa. Depois que os caras voltarem, vamos entrar em estúdio e começar a trabalhar no álbum. E aí, com sorte, eu já vou estar melhor na próxima primavera e poder voltar pra estrada. Esse é o plano por enquanto.

WM: Sobre a Trans-Siberian Orchestra — sabemos que o álbum Dead Winter Dead introduziu a abordagem conceitual que acabou levando à criação da TSO. Você imaginava que ela se tornaria esse fenômeno gigantesco?

Jon: Pra ser honesto? Não, nunca imaginei. Até hoje fico impressionado que a gente lota arenas esportivas duas vezes por dia. A TSO é basicamente o Savatage com mais músicos — todos da banda estão lá, e as composições continuam sendo minhas e do Paul. A diferença é que com o nome TSO, tivemos liberdade para experimentar coisas que não caberiam no Savatage, como “This Christmas Day”, por exemplo.

Tudo começou com “Christmas Eve (Sarajevo 12/24)” e não parou mais. Já são 25 anos e só cresce. Já tentei parar com a TSO, mas ela não morre! (risos) E vou te dizer uma coisa: foi o que nos deu uma vida melhor. No Savatage a gente mal sobrevivia — investia mais do que ganhava. Só com “12/24”, que escrevi em 15 minutos, ganhei mais dinheiro do que com toda a minha carreira no Savatage.

Quando recebi o primeiro cheque, achei que tinham cometido um erro. (risos) Mas no fim das contas, é simples: se alguém te oferece um trabalho pagando 10 vezes mais e te permitindo cuidar da sua família… você vai aceitar. Foi isso que a gente fez.

As influências e o início do Savatage

WM: O Savatage começou nos anos 80 com um som mais tradicional de heavy metal, e aos poucos evoluiu para algo mais progressivo e orquestral. Como aconteceu essa transição?

Jon: Bom, a gente sempre foi muito fã de Black Sabbath, Queen e até dos Beatles. Nos primeiros discos, a gente tinha pouco tempo pra gravar — eram basicamente, como apresentações ao vivo com solos e vocais por cima. Depois, com o álbum Power of the Night, trabalhamos com Max Norman (que produziu Ozzy), e começamos a expandir o som, incluindo teclados. Quando o Paul O’Neill entrou em Hall of the Mountain King, ele nos incentivou a explorar mais esse lado sinfônico. Ele dizia: “Jon, seu piano lembra Queen, por que você não usa mais isso?”. Aí, com Gutter Ballet, mergulhamos de vez nisso, com músicas mais progressivas e emotivas como “When the Crowds Are Gone”. O auge dessa fase foi o Streets, que mostra todos os lados da banda: metal pesado, baladas e rock de verdade. Foi o ponto alto da nossa fase experimental.

WM: Muitas bandas citam o Savatage como uma grande influência. Como você se sente sabendo que seu trabalho moldou o som de outras gerações?

Jon: Me sinto honrado, de verdade. Acho que todo artista espera deixar algum tipo de legado. Sempre digo que o segredo é ser fiel a si mesmo e ser versátil. Se você tocar a mesma coisa o tempo todo, vai se entediar, a banda se desgasta e acaba. É preciso manter as coisas novas, experimentar. E acho que foi isso que o Savatage fez — essa diversidade musical influenciou muita gente. Bandas nos dizem isso: que a gente fazia algo como “Hall of the Mountain King”, mas também músicas totalmente diferentes como “When the Crowds Are Gone”. Isso, pra mim, é o maior elogio — sermos lembrados como uma banda versátil.

WM: O Savatage tem muitas músicas marcantes. Existe alguma que você sente que não recebeu o reconhecimento que merecia?

Jon: Com certeza. Eu acho que “Believe” e “When the Crowds Are Gone” deveriam ter sido grandes sucessos. Mas, infelizmente, a gravadora não quis investir nessas músicas — e isso teria feito o Savatage crescer muito mais. São faixas enormes em vários lugares do mundo, menos nos Estados Unidos, porque a gravadora americana não deu apoio. Eles até apostaram em “Gutter Ballet”, mas como não entrou no top 5, cortaram todo o investimento. Muita gente não entende que, para uma música acontecer, ela precisa ser boa e ter apoio da gravadora. A verdade é: a gente não teve esse suporte financeiro. E isso é uma pena, mas foi o que aconteceu.

Novo álbum a caminho

WM: Você mencionou que estavam trabalhando em um novo álbum. Você tem uma previsão de lançamento?

Jon: Realisticamente, acho que poderemos tê-lo gravado e pronto para lançar na próxima primavera, talvez em abril. Já temos muito material pronto. Musicalmente, o álbum está praticamente finalizado. Tem faixas pesadas, músicas épicas e baladas profundas. Pode ser até um álbum duplo.

O que esperar do show no Brasil

WM: Sabendo de toda sua dedicação fora dos palcos para este show. Acho que todos vão sentir sua presença de alguma forma no show. Estão preparando algo especial?

Jon: É, vai ter uma surpresa. Algo relacionado a mim e ao meu irmão Criss. Talvez você veja nós dois no palco. Estamos trabalhando nisso.

Mensagem final aos fãs brasileiros

WM: Para encerrar, você tem uma mensagem para os fãs brasileiros?

Jon: Sim! Não fraturem a coluna! (risos) Mas falando sério: nós amamos vocês. Amo todos vocês. Me desculpem por não poder estar presente nesse show, mas os caras vão aí e vão detonar. Espero ver todos vocês no ano que vem, quando eu estiver curado. Aproveitem, se cuidem, que Deus abençoe vocês!

SERVIÇO – Monsters of Rock 30 Anos
Atrações Confirmadas: Scorpions, Judas Priest, Europe, Savatage, Queensryche, Opeth e Stratovarius
Cidade: São Paulo
Data: 19 de abril de 2025 (sábado)
Local: Allianz Parque – Avenida Francisco Matarazzo, 1705 – Água Branca – SP
Portas: 10h – Início dos Shows: 11h45
Ingressos: Eventim

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Paranaense, amante do rock'n roll e heavy metal desde a adolescência, frequentador de shows e festivais relacionados à cena do metal, sem preconceito com estilo ou vertente, estou sempre aberto a experiências, adoro ler e escrever sobre esse universo ao qual sou apaixonado que é o heavy metal!