Ícone do site Wikimetal
Rise Against

Rise Against. Crédito: Divulgação

Entrevista: Rise Against fala sobre Lollapaloza Brasil e as dores da nova geração

Com novo disco ‘Nowhere Generation’, banda se apresenta na Audio antes do festival

De memes a debates mais profundos, diferenças entre gerações são frequentemente discutidas atualmente. Mas poucas vezes a orfandade de pertencimento dos jovens foi tão acolhida e explicada como no disco Nowhere Generation, nono trabalho do Rise Against.

Na estrada há mais de duas décadas, a banda de punk rock e hardcore que já vendeu mais de 10 milhões de álbuns com letras questionadoras sobre o que está “por baixo da superfície” na sociedade mostra conexão com os dilemas atuais dos jovens, mesmo quando os integrantes em outro momento da vida. 

Em entrevista ao Wikimetal, o vocalista Tim McIlrath conversou sobre a recepção do novo projeto, saúde mental e os posicionamentos do grupo, que se apresenta no Brasil este mês após quase seis anos desde a passagem pelo Maximus Festival, em 2017. Primeiro, a banda desembarca na Audio, no dia 22 de março, para uma plateia mais intimista de fãs e com ingressos esgotados, seguindo para o Lollapalooza Brasil no sábado, 24, como headliners do Palco Adidas.

Leia a conversa na íntegra abaixo.

Wikimetal: Vocês já voltaram aos palcos há algum tempo, como tem sido a recepção do novo disco?

Rise Against: Tem sido ótima. Sabe, o Nowhere Generation foi nosso nono álbum e o fizemos um pouco antes da pandemia, então tivemos que esperar um bom tempo para lançá-lo. Mas acho que nossos fãs realmente gostaram e o disco também apresentou nossa música para novos fãs. São músicas divertidas e o álbum se converteu com esse sentimento de desespero que muitos dos nossos fãs estavam sentido, acredito eu. Essa incerteza sobre como o futuro será, esses medos e ansiedades intrínsecos do ser parte dessa geração de lugar algum que está criando o próprio mapa, sabe? Abrindo os próprios caminhos, encontrando o que fazer com a própria vida e como será o amanhã. 

LEIA TAMBÉM: Do hardcore ao doom: entrevista com Flávio Cavichioli

WM: Sim, entendo. E pode ser um pouco difícil ter consciência do que está acontecendo no mundo, então como você mantém a saúde mental em dia, sem perder esperanças?

RA: Quando se trata de saúde mental, acho que artistas e bandas como Rise Against sempre falaram sobre o que acontece por baixo da superfície. Essas são as nossas letras e sempre foram assim. E ter esse recurso da música é uma coisa muito importante para mim. Você sabe, eu sempre tive uma espécie de papel, uma maneira de decifrar meus próprios pensamentos, sentimentos, sabe? E então tive a sorte de poder colocar isso na banda e nas músicas que escrevemos. Sem isso, não sei o que você estaria fazendo, eu estaria perdido. Se você puder encontrar uma maneira de canalizar seus sentimentos em algo criativo, sabe, isso ajuda a processar. E essa tem sido nossa jornada como banda: criar músicas com as quais as pessoas possam se identificar e talvez se sintam menos sozinhas. 

WM: Sendo uma banda politizada, você acha que é mais difícil abordar esses temas por causa da polarização da sociedade?

RA: Acho que não presto muita atenção nisso, continuaremos fazendo nossas músicas assim. Acho que realmente vivemos em um mundo polarizado no qual, de repente, as pessoas querem te colocar em caixinhas e dizer ‘você acredita nisso’ ou ‘você acredita naquilo’. Acredito que música é uma dessas coisas que fala por si só de uma maneira que poucas conseguem. Então apenas continuaremos fazendo isso, não percebi se ficou mais difícil ou não. Acho que existem mais pontos de vista conforme o mundo se torna mais informado – ou desinformado.

WM: Percebo que gêneros musicais como punk e rock são capazes de levar conversas importantes adiante, você concorda?

RA: Creio que a única coisa capaz de furar a bolha em uma conversa são nossas histórias. Você pode começar a compartilhar suas experiências e as pessoas escutam isso. Pessoas são o que realmente afeta outras pessoas. O que são músicas além de histórias? É assim que me sinto. E histórias atravessam o barulho e nos apoiamos nisso ao longo dos anos: contamos nossas experiências sem tentar convencer ou coagir ninguém, sem ter debates confrontacionais sobre o assunto. Vou apenas te contar minha história, o motivo pelo qual me sinto assim é porque isso aconteceu… E uma conversa começa assim.

WM: Concordo. Eu sempre tive dificuldade de expressar meu descontentamento e o sentimento de ter sido traída pelo sistema, mas você falou sobre isso numa entrevista e foi a primeira vez que vi alguém resumir esse sentimento de forma tão certeira.

RA: Isso veio dos nossos fãs, conversando com eles, pessoas de várias partes do mundo. E eles me explicaram: “Estou trabalhando duro e não saio do lugar. Estou nessa corrida, mas a minha de chegada só se afasta. Faço tudo que deveria fazer e acabo apenas devendo dinheiro, não consigo comprar uma casa, não consigo fazer as coisas que meus pais fizeram”. Sinto que essa geração não recebe ajuda e compreensão da geração anterior, só escutam que precisam trabalhar com mais afinco. Então Nowhere Generation veio dessas conversas:tem algo acontecendo aqui, vamos reconhecer isso e falar sobre. Vamos tentar entender os motivos para isso. Por que é tão mais difícil apenas encontrar estabilidade na vida? 

LEIA TAMBÉM: Entrevista: Get the Shot fala sobre fazer música extrema nos dias de hoje

WM: Em breve poderemos ouvir esse disco aqui no Brasil. Você tem boas memórias do nosso país?

RA: Tivemos shows incríveis no Brasil, concluímos que os fãs são tão legais, animados e barulhentos, apenas divertidos, sabe? Sempre ficamos ansiosos para visitar o Brasil e faz tempo demais. Será uma reunião muito, muito animada com nossos fãs.

WM: Vocês vão fazer um show solo em São Paulo. Vocês costumam mudar o setlist para apresentações mais intimistas? Gosto muito de “Sudden Urge” do novo disco e vocês ainda não tocaram essa.

RA: Sim, nós temos mais tempo [nesses shows] e sabemos que ali estão nossos fãs mais fiéis. Vamos nos preparar para tocar algumas músicas em breve, os caras virão aqui para decidirmos. Temos mais flexibilidade nessas apresentações, sem dúvidas.

WM: E vocês vão se apresentar no Lollapalooza Brasil, isso é incrível! Nesses festivais, tenho o sentimento de que as bandas de música pesada ficam mais isoladas. Você acha bom se apresentar para uma audiência diferente ou acha que é um desafio estar “sozinho” lá?

RA: Definitivamente somos uma banda complicada de classificar no line-up, tocamos rock, música alta e agressiva. Então pode ser intimidante ter um som diferente. Em um festival, quase sempre é bom porque as pessoas estão interessadas e eu sempre gosto do desafio. 

Será uma parte muito legal do Lollapalooza e nossos fãs estarão lá, algumas pessoas que nunca nos ouviram vão apenas dar uma olhada, procurando por algo diferente. E algumas pessoas vão cobrir as orelhas (risos). Mas já fizemos isso antes e acho que será muito bom. Sempre me animo para me apresentar para diferentes tipos de fãs de música, estamos na estrada há 20 anos. Sempre queremos ver novos rostos, sempre que podemos nos apresentar para um público diferente, é algo que desejamos fazer.

LEIA TAMBÉM: Entrevista: The Bronx desmente na prática rumores da morte do rock e punk em ‘Bronx VI’

Sair da versão mobile